quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Fala que eu te escuto

Ultimamente tenho notado que uma das maiores dificuldades dos relacionamentos é a falta de comunicação. Antes eu achava que isso era uma característica feminina, de fechar a cara numa atitude "se você não sabe porque estou com raiva não sou eu quem vai te dizer". Mas percebo que isso não está restrito às mulheres e nem aos relacionamentos amorosos. Quando as pessoas não se vitimizam nessa atitude de "ninguém me entende, ninguém presta atenção em mim", há outros modos de não-comunicação: as alfinetadas porque você está bravo com alguém mas não diz claramente a razão, ficar emburrada(a) porque alguém não fez o que você queria. E é isso que vai minando as relações, que vai criando mágoas terríveis, e provavelmente dá câncer.

Então, caro leitor, é isso que eu desejo a você neste ano novo: que você saiba falar o que sente. Não de um jeito escroto, do tipo "falo o que penso e dane-se" e sim aprender a expressar desejos e descontentamentos. Se você quer que alguém faça algo, não espere que a pessoa advinhe seus desejos, não dê inderetas ou alfinetadas. Diga claramente: eu gostaria que você fizesse isso. Se alguém se magoou, diga "eu não gostei disso por tais motivos". Não é fácil, mas da feita que se aprende a dizer o que se quera vida começa a ficar mais simples. E é isso que eu desejo: uma vida menos complicada e mais feliz.

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Duas coisas que eu adoro e uma que eu odeio a respeito de Belém 2

Adoro:

1- Os melhores sorvetes do mundo. Que Hagen Daaz o quê! Sorvete bom é sorvete Cairu. E de vez em quando, Ice Bode. E os sabores? Cupuaçu, bacuri, taperebá, castanha-do-Pará, tapioca, açaí, queijo cuia com goiabada... Raras vezes se vê por aqui alguém tomar sorvete de morango ou chocolate porque os sabores regionais são os melhores.

2- A culinária paraense em geral. Dos temperos só encontrados por aqui, como tucupi e jambu, passando pelos pratos típicos como tacacá, maniçoba, tapioquinhas, creme de cupuaçu, vatapá, o verdadeiro açaí e os peixes fantásticos que só a Amazônia tem. Aqui come-se muito bem gastando relativamente pouco e isso é o paraíso pra quem aprecia uma boa mesa.

Odeio:
A falta de educação do povo. Depois de alguns anos fora isso é gritante, literalmente. As pessoas falam alto demais, chamam palavrão demais e são grossas. Não é raro alguém vir cumprimentar o amigo que está ao seu lado e nem te olhar na cara pra dar oi. Isso é bem chato.

sábado, 19 de dezembro de 2009

Duas coisas que eu adoro e uma que odeio em Belém

Adoro:

1- Os corredores de mangueiras da Praça Batista Campos, Praça da República e Avenida Nazaré.
2- A praga urbana dos pombos não faz parte da paisagem local.

Odeio:

Esse calor lazarento.

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Volver?

Nas outras vezes que vim a Belém sempre entrava no avião pensando por que diabos eu tinha saído daqui. Ainda mais com a minha relação de amor e ódio por São Paulo. Com o tempo o ódio se arrefeceu e depois de longos seis anos morando lá, acho que estou no lugar onde gostaria de estar mesmo.

Fui pra São Paulo pensando em fazer a pós e voltar pra cá, mas muita coisa aconteceu e eu não fico indiferente aos "afectos". Fiz de São Paulo o meu lar. Foi lá que eu me encontrei em vários sentidos, foi lá que encontrei a pessoa com quem divido a minha vida, foi lá que eu decidi ser feliz. A idéia de voltar pra Belém se tornou um plano B esquecido no fundo de uma das gavetas da mente, junto com meus planos de dominação mundial, ainda mais depois que eu percebi que estou muito mais pra Pinky do que Cérebro.

Mas de um tempo pra cá essa idéia passou a me cutucar de novo. Então eu tenho andado pela cidade com um novo olhar, não como um refúgio que sempre foi nesses quase sete anos de exílio. Eu sempre vim pra cá passar férias, rever amigos e pra pensar que Belém é uma cidade maravilhosa e que eu sempre poderia voltar pra cá se as coisas não desses certo. Minha Pasárgada, onde eu sou amiga do rei. Agora eu olho e penso como seria a vida aqui.

Claro que isso isso não é uma decisão só minha e nem é pra agora, é algo que ainda deve demorar uns 3 ou 4 anos. Mas há um incômodo que se instalou e com ele um novo modo de ver e sentir Belém.

domingo, 6 de dezembro de 2009

Pulinhos de alegria

Aí vão os resultados da minha primeira avaliação física após duas semanas de regime com nutricionista. Ainda falta percorrer metade do caminho e eu não vou mentir dizendo que já estou habituada. De vez em quando tenho vontade de relaxar porque já perdi algum peso e voltar a comer como uma louca. Esses números aí são pra me lembrar do que eu consegui até agora e que se seguir direitinho, só dá pra melhorar.

Peso inicial (11/11/09)
64,40 kg

Peso atual (02/12/09)
60,60 kg

% de Gordura
Antes (em 11/11) - 33,55
Depois (02/12) - 32,18

Circunferência do abdômem
Antes - 88 cm
Depois - 84 cm

Circunferência da cintuta
Antes - 74,5 cm
Depois - 71,5 cm

Quadril
Antes - 103 cm
Depois - 101,5 cm

Agora preciso ter força de vontade pra não me acabar no açaí e nas demais delícias da culinária paraense. Que Santa Britney me ajude! Afinal, ela é a padroeira das divas que ficaram magras de novo.

sábado, 5 de dezembro de 2009

A onda

Ontem assisti ao melhor filme deste ano, o alemão A Onda (Die Welle). Conta a história de um professor que dá um curso sobre autocracia para alunos do ensino médio. Para envolver os alunos ele propõe um experimento e a coisa começa a revelar alguns fascismos até então insuspeitos. Muito bom, daqueles filmes que prende atenção do início ao fim e que faz você pensar durante e depois. Recomendo.

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Relembrando

Coisas pra fazer até os 30 anos: 1- Entrar no doutorado 2- Chegar aos 56 kg 3- Aprender a dirigir.

O item 1 já foi.

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Isso não te pertecente mais!

Estou há 11 dias fazendo a dieta com a nutricionista e os resultados são visíveis: 3 kg a menos. Estou muito contente, mas não tem sido fácil. Não que eu esteja passando fome, eu até tenho comido bastante. São cinco refeições diárias, seis se contar a fruta que como da academia. O problema é o pensamento gordo. E eu tenho a impressão que se não mudar isso vou viver eternamente no efeito sanfona.

Não é uma dieta muito restritiva. Cortar mesmo ela só cortou as frituras e o açúcar. As quantidades é que são moderadas e precisa ter todos os grupos de alimentos no almoço e no jantar. Tenho direito a duas porções de bebida alcóolica ou de doce, ou um outro. Acho pouco, mas é melhor do que nada. E eu já percebi que quando você fica um tempinho sem beber dois copinhos são o suficiente pra dar uma brisa.

Mas hoje eu me peguei pensando no saco que é ter que comer salada na janta, porque em geral eu comia um pão com queijo ou patê (sem contar os dias que eu comprava pizza ou um salgado na padaria). Eu adoro comer na rua. Adoro salados de padaria, pastel, pamonha, pizza, massas, rodízio de comida japonesa... Agora fica complicado e eu tenho que me habituar a pensar: querida, isso não te pertence mais quando der de cara com uma coxinha quando for comprar meu pão integral.

Eu acho que todo mundo que faz dieta engorda tudo de novo porque depois de uns dias a gente se pega pensando "deixa eu perder o que preciso que eu vou enfiar o pé na jaca". A gente não pensa na mudança dos hábitos alimentares como algo para a vida. Essa que é a parte mais complicada. Mas eu já decidi que vou continuar com a nutricionista por tempo, mesmo depois de emagrecer tudo o que preciso. Já foram três, faltam cinco.

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Até tu, Malu?

Eu gostava da Malu Mader. Achava legal a postura discreta, o fato de ser uma atriz bem sucedida que tá fora do esquema revista Caras, de ser bonitona e sensual sem cair na vulgaridade e lidar com o fato de ser uma mãe de família sem que uma coisa excluísse a outra.

Mas eu nunca deixo de me surpreender com as pessoas. Tudo bem estrelar uma campanha de eletrodomésticos, eu acho tosco, mas sei lá, as pessoas querem mais dinheiro. O problema é que ela paga de dona de casa no comercial de uma marca que se diz "a marca da multimulher", enfatizando as jornadas triplas que as mulheres são obrigadas a levar. Logo a Malu Mader, que interpretou mulheres fortes e de certa forma, pioneiras, se prestando a fazer esse papel de Amélia?

Eu sei que é assim mesmo, mas precisa incentivar? Não dá pra fazer um comercial de eletro com um homem, pra variar? Aliás, dá. Outro dia vi uma linha de fogões e geladeiras cujo comercial era com rapazes de 30 e poucos anos, cozinhando e tomando cerveja belga. É, porque hoje em dia muitos rapazes cozinham, muita gente de 30 anos é solteira e mora só geladeira e fogão não é só pras "multi-mulheres".

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Desserviço

Ontem a primeira notícia do Jornal Nacional foi sobre um estudo que diz que a mamografia não é mais recomendada a partir dos 40 anos e nem anualmente e sim a partir dos 50 e a cada dois anos. A mamografia é o exame mais eficiente para detectar o câncer de mama, inclusive tumores em estágio inicial que não podem ser percebidos no auto-exame.

Dar uma notícia dessas com esse destaque é no mínimo um desserviço. Primeiro porque é um estudo só que contradiz o consenso que a medicina tem sobre o assunto. Inclusive se discute hoje fazer a mamografia a partir dos 35 anos, porque a doença tem crescido entre mulheres jovens. Adiar para os 50 e fazer o exame a cada dois anos é impedir que milhares de mulheres tenham a chance de diagnosticar precocemente a doença, que tem grandes chances de cura quando descoberta no início. Hoje o serviço de saúde pública brasileiro é obrigado a realizar mamografias em mulheres de mais de 40 anos. Agora, imaginem o impacto dessa notícia nos planos de saúde e políticas de governos a longo prazo. É muito provável que se queira limitar o acesso ao exame.

O que mais me revoltou nisso foi que quem estava divulgando o estudo era uma mulher.

Há cerca de um ano e meio perdi uma tia por causa do câncer de mama. Quando ela morreu ia fazer 50 anos. Ela não tinha plano de saúde e por isso ficou adiando a mamografia. Quando recebeu o diagnóstico a doença já estava num grau avançado e apesar de ter feito a cirurgia e a quimio, alguns meses depois apareceram as metástases. Câncer é assim, imprevisível. E é por isso que os exames preventivos devem ser realizados cada vez mais cedo e mais regularmente. Não garante a cura, mas pelo menos aumenta as chances do doente. Fala-se tanto em responsabilidade social no jornalismo. Esse é um belo exemplo de irresponsabilidade social. Um desserviço.

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Mulher-melancia

Hoje eu fui à nutricionista. Confesso que foi um tanto traumatizante. Porque a nutricionista, macérrima, diga-se, tirou medidas do meu corpo todo e mediu meu percentual de gordura. Mesmo sabendo que estou gorda fiquei chocada: 103 cm de quadril e 32% de gordura corporal. Um terço do meu corpo é gordura e a minha bunda é maior do que a da Carla Perez. Eu virei a mulher-melancia, socorro!

Bom, paciência. Segunda eu começo a dieta devidamente orientada.

terça-feira, 10 de novembro de 2009

Ninguém é inocente

Outro dia eu estava num congresso assistindo a um trabalho de um rapaz que estuda memória a respeito do holocausto judeu. Estava tudo indo bem, até que a conversa chegou na visita do presidente do Irã e alguns petardos que, quando eu for imperatriz do mundo, valerão banimento da universidade.

O rapaz disse que não receberia o Ahmadinejad porque ele negava a existência do holocausto. Eu não perguntei, mas me coçou questionar se, seguindo este princípio, se ele não receberia o presidente dos Estados Unidos, afinal de contas, Guantánamo tá aí. Ou se deixaria de receber o Papa, porque ele nega o extermínio dos povos ameríndios, né?

Fora a questão da imensa quantidade de povos que foram exterminados (dos quais ninguém lembra porque não eram brancos e não viviam na Europa, e em termos de memória coletiva isso faz toda a diferença) o moço seguiu com uma série de afirmações puramente preconceituosas, como associar pesssoas que professam a fé islâmica ao nazismo e reduzir as dificuldades da negociação de paz na região a fato de "os judeus sabem disso e não querem".

Seria cômico se não fosse trágico. Porque em tese, não era um tosco que estava falando essas coisas, era uma pessoa dentro de uma universidade, num seminário internacional. A gente espera que nesses ambientes as pessoas sejam minimamente esclarecidas a ponto de saber que numa questão dessas não há inocentes. E olha que nem estávamos na Unibosta. Mas como diz minha amiga Synthia, se a casa grande é assim, o que esperar da senzala?

Outro dia eu assisti a um curso ótimo sobre jornalismo e Oriente Médio promovido pela Confederação Israelita do Brasil e faculdade Cásper Líbero. Todos os palestrantes, de origens variadas, diga-se, foram unânimes em destacar que não há inocentes na questão Israel-Palestina, mas sempre tem um na platéia que tenta fazer que digam o contrário. Isso não faz avançar o debate, apenas reforça preconceitos, faz cada um reafirmar suas posições e pronto.

Essa semana se inicia um ciclo de visitas que começa com o primeiro ministro de Israel, segue com o presidente da Autoridade Palestina e termina com o presidente do Irã. Preparem-se para um festival de asneiras na mídia, nas faculdades ou perto de você.

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Não me diga!

Como se estar gorda não fosse ruim o suficiente, esta condição ainda nos obriga a lidar com a falta de discrição dos outros. Não basta se achar horrível quando se vê no espelho e as roupas apertadas, sempre tem alguém disposto a nos lembrar disso.

Em especial, parentes. Sério, não tem nada melhor pra dizer pras pessoas sem ser que elas estão gordas? Como se isso fosse algo bacana de se dizer ou como se quem engordou não soubesse. O pior é que na maioria das vezes as pessoas que apontam a sua gordura não costumam ser as pessoas mais esbeltas do mundo. E mesmo se fossem: alguém perguntou?!

Há algum tempo eu deci não retribuir a grosseria dos outros na mesma moeda porque senão estaria sendo tão grossa quanto. Mas nesse caso estou pensando seriamente em abrir uma exceção.

domingo, 8 de novembro de 2009

Algumas palavras sobre a castração

Essa semana vou marcar a operação dos meus gatos. Há poucos meses eu era contra castrar os animais domésticos, mas cedi devido ao trauma de não ter mais o Zaratustra na minha vida. Falar sobre isso ainda é doloroso, porque o amor que sinto por ele não desapareceu com o seu sumiço e só mesmo o amor dobrado de meus dois novos amiguinhos pra ajudar a tapar este buraco que a ausência dele me deixou no coração. O que eu quero dizer é que eu valorizo a liberdade dos animais e pra mim esta decisão é difícil e eu só a tomo porque acho que dos males que podem acontecer a um gatinho, este é o menor.

Porque são demais os perigos dessa vida pra quem faz miau. Muitas pessoas não gostam de gatos e os maltratam ou os envenenam. E ainda há a possibilidade de atropelamentos, de cercas elétricas, dos cães raivosos. Eu prefiro não especular sobre o que pode ter acontecido com o Zara, apesar dos rumores de atropelamento. Prefiro imaginar que ele está vivendo numa grande colônia secreta de gatos nômades e que ele foi embora porque era livre demais pra ficar numa casa só. Escrever isso me dá um nó na garganta e eu sei que não suportaria passar por isso de novo e morro de medo de imaginar que algo ruim pode acontecer com meus filhotes.

Eu sei que a castração traz alguns benefícios para a saúde dos bichos e que diminui a vontade dos gatos de sair por aí, mas não deixo de pensar nisso como uma violência. Então eu penso que se o mundo não fosse como é nós poderíamos deixar os animais viverem soltos, mas o mundo não é como gostaríamos que fosse... Mas isso me deixa frustrada porque eu sempre penso que as coisas são como são porque não estamos dispostos a começar a viver de acordo com nossas convicções. Não castrar o Zara foi uma decisão coerente com o que eu acredito. E era lindo ter um gato livre. Eu sofria quando ele sumia e sofro ainda porque ele não voltou, mas, Deus, como era bonito ver ele ir e voltar pelos telhados dessa vizinhança!

Eu sei que cada gato é diferente do outro, noto que o Frajola e a Pandora têm personalidades distintas. Mas imagino como eles vão ficar depois de castrados. Será que vão brincar como hoje? Será que vão continuar carinhosos? Os gatos castrados que eu conheci eram tão esquisitos. Isso é algo que eu só vou saber quando acontecer.

sábado, 7 de novembro de 2009

Eu não nasci pra ser gorda

Parar de fumar me deu a expectativa de mais uns anos de vida e cinco quilos a mais distribuídos de modo que, dependendo da roupa, eu pareço uma gestante. Não é exagero. Não foi uma vez que alguém me deu o lugar no ônibus/trem confundidos pelas minhas formas compostas de peitos, barriga e bunda gigantes.

Isso acaba comigo. Porque eu estou gorda, mas sou magra. Então me fico arrasada ao notar minhas roupas apertadas, algumas que nem servem mais, e os meus esforços para parecer mais bonita com o rosto bolachudo cheio de maquiagem e os braços roliços cobertos. No calor que tem feito não é fácil e estou pensando seriamente em deixar de usar biquíni e aderir logo ao maiô.

Estar gorda é horrível porque eu me olho no espelho e não me reconheço. Há um ano eu tenho feito exercícios regularmente e vinha mantendo o peso em torno de 60, 61 kg. Até perdi um pouco mais de peso quando deixei de beber, mas nunca menos de 59. Então eu voltei a beber e relaxei na alimentação (voltei a comer carne) e pronto, 64kg, 14 a mais do que eu pensava há 10 anos. Eu não quero ter um corpinho de mocinha, sei que isso muda com a idade. Mas 14kg em 10 anos é muita coisa. E eu estou me sentindo muito feia.

Agora está fazendo um sol incrível e eu fico com vergonha de ir ao clube tomar sol. Daqui a um mês irei a um casamento de amigos do tempo da faculdade e fico imaginando encontrar pessoas que vejo raramente e elas pensarem "nossa, como engordou". Estou ensaindo um regime, mas é muito difícil pra mim me privar das coisas que gosto. Ou comer pouco. E eu gosto tanto de tomar cerveja!

Eu fico olhando minha irmã, que entrou na faculdade gordinha por causa do vestibular e agora está linda, porque teve disciplina pra fechar a boca e fazer exercícios. Eu não sou disciplinada. E fico triste me perguntando se um dia vou conseguir perder esses quilos extra e ficar com um peso que eu acho bom pra minha idade e altura, 56 kg. Pra isso eu teria que perder 8kg. Isso me desistimula só de pensar e me dá vontade de correr e afogar as mágoas num pote de sorvete.

domingo, 1 de novembro de 2009

A sorte, o curso e o destino

Dizem que a sorte não bate muitas vezes em nossa porta. Na minha, a sorte bateu uma vez e eu a mandei embora. O ano era 2003 e a sorte se chamava Curso Estado.

Eu havia acabado de chegar em São Paulo quando um amigo de Belém me disse que em breve estaria aqui para fazer a tal prova. Perguntei se era grátis. Era. Então eu fiz a prova e passei, para o espanto geral e de mim mesma. Aos 23 anos, apenas um ano de formada e experiência apenas no jornal de minha cidade me vi dentro de um dos maiores jornais do país.

Durante o curso, eu e meus colegas ouvimos várias vezes que naquela salinha se encontrava a futura elite do jornalismo, a "nata" dos jovens jornalistas. Não sei quanto aos meus colegas, mas eu me sentia como se tivesse entrado em um clube exclusivos dos eleitos e meu futuro glorioso tantas vezes sonhado por mim e por meu pai era certo. Três meses depois o curso terminou e eu voltei pra casa ainda cheia de esperanças. Uma hora as coisas iam dar certo.

Mas isso nunca aconteceu. Há uma série de motivos para isso, mas vou listar apenas dois: minha falta de maturidade/equilíbrio na ocasião e o fato de que eu nunca pensei de verdade no jornalismo projeto de vida.

Aos 23 anos eu tinha uma cabecinha de 16. Era ingênua, briguenta, irresponsável. Falava demais, bebia demais, me preocupava demais com namorados, de modo que nunca encarei o curso como uma oportunidade profissional. Pra mim aquele era o reconhecimento do quanto eu era boa . Devido ao transtorno bipolar minha autoestima sempre oscilou entre dois limites, o abismo e a estratosfera. Havia alguns momentos em que eu realmente me dedicava e amava aquilo tudo. E outros em que simplesmente tudo me enfadava e eu tinha vontade apenas de chorar e sair correndo dali. Em suma, eu não tive estrutura pra lidar com aquilo.

Apesar disso, não creio que o curso tenha sido determinante no meu fracasso na profissão. É aqui que entra o segundo motivo, o fato de nunca ter levado a sério o jornalismo como profissão. Eu sempre vi o jornalismo como algo "de passsagem", um trabalho que eu deveria exercer até que os meus delírios megalomaníacos se realizassem e eu me tornasse a maior escritora do Brasil, ganhasse o Nobel e mandasse o mundo se foder (porque afinal de contas eu já teria 1 milhão de dólares mesmo). Não vou me estender sobre a minha conturbada e falecida relação com a literatura, por hora basta dizer que ao invés de escrever os livros antes, eu comecei pela parte de mandar o mundo se foder. Eu era uma repórter mediana e nunca me esforcei pra ser mais do que isso.

Hoje quando penso nisso tudo não sinto remorsos. Nem penso que se pudesso voltar no tempo teria feito diferente. Porque foi no meio de toda essa confusão que eu consegui me encontrar e sr feliz no que estou fazendo, sem grandes ilusões, mas tampouco com amargura. Desde a minha adolescência eu flertava com a filosofia e com reflexões que vão além da "vida prática". No fundo, eu tinha um certo desprezo e não tinha muito pudor em expressá-lo, pelo pragmatismo e pela superficialidade do jornalismo. Mas foi só quando eu não dei certo nessa profissão que pude me dedicar ao que realmente me dá prazer, a academia.

É claro que me custaram muitas horas de divã e muito Nietzsche pra me dar conta de tudo isso. Hoje engatinho em uma nova profissão de modo completamente diferente, porque tenho consciência das minhas limitações e das minhas habilidades, não tenho mais como propósito conquistar o mundo e por isso vou curtindo cada passo do caminho. Não que eu nunca tenha sido feliz no jornalismo, porque fui. Mas foi em outra vida, quando eu era outra pessoa. Agora existe uma outra perspectiva, há outros planos e ao mesmo tempo me parece óbvio que era isso que eu estive procurando a vida inteira.

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Resoluções antecipadas

Depois de uma viagem para a Argentina e mais duas pela frente, que ainda não paguei, minha conta bancária chegou ao singelo saldo de 11 reais. E ainda tem a inscrição pro doutorado, a inscrição pros meus congressos, despesas de viagens e mais um monte de coisas que eu prefiro nem pensar. Hoje eu comecei uma dieta nova pra perder 3kg em 40 dias. Quando eu era vegetariana e abstêmia era mais magra e não tinha tantas dívidas. Vou tentar voltar a esse esquema e ver se dá pra economizar. Mas a situação pede que eu antecipe minha resolução de fim de ano: arrumar um emprego.

Comecei minha busca oficialmente hoje. O problema desse negócio de dar aula (além de eu não ter experiência em docência, nem conhecer as pessoas da área) é que as vagas são sazonais e só abrem a cada seis meses. Então, se não rolar nesse semestre, vou ter que deixar pro próximo. Vamos vamos torcer pra que dê certo, porque do contrário eu teria que procurar algo no jornalismo mesmo e eu nem tenho idéia dos efeitos que isso causaria na minha vida ou na minha cabeça. Estou com medo, sou naturalmente pessimista, embora esteja tentando mudar isso e pensar positivo. Torçam por mim.

domingo, 18 de outubro de 2009

Mudança de planos

Minha intençao era fazer um semestre "sabático" para escrever e pensar. Tudo estava indo bem até certo ponto - comecei a fazer aula como aluna especial na USP, emplaquei uns trabalhinhos nuns congressos, escrevi meu projeto de doutorado - mas fui surpreendida por alguns acontecimentos que mudaram o rumo das coisas. A parte do sumiço do Zara e da doença do meu pai foram as duas coisas que mais me fugiram ao controle, duas fatalidades previsíveis. Os gatos livres vão embora, o câncer eventualmente volta.

Isso alterou um pouco a minha rotina, me deixou meio desnorteada, mas agora que as coisas se acalmaram, eu vejo algumas coisas com mais clarezas. Pensei em voltar à Comununicação, mas decidi que estou bem nas Ciências Sociais e na PUC. Apesar disso, foi muito importante revisitar esta área, saber que não quero me fechar em apenas uma área do conhecimento, aceitar essa minha característica transdisciplinar, pensar melhor no que eu quero e não quero fazer da vida.

Mas o mais importante e mais assustador foi constatar que nesse período, sem o compromisso de ter um emprego ou uma dissertação que me impedisse de escrever e com todo o impulso do turbilhão de emoções gerado pelo sumiço do meu gato e pela doença do meu pai - eu simplesmente não escrevi. Durante anos essa foi a minha muleta imaginária. Eu nunca me dediquei a uma profissão porque estava convencida de que minha verdadeira vocação era essa e tinha uma desculpa perfeita pra não dar certo, afinal nada era do que eu queria. Até que um dia, não faz muito tempo, encontrei algo que gosto de fazer.

Eu cheguei a pensar que não daria certo nisso também, que não daria certo em nada por causa dessa fantasia juvenil. Por muito tempo escrever era minha única convicção. E não que eu não ache que não seja boa nisso ou que não tenha escrito coisas muito legais, porque eu acho mesmo, sem modéstia. Mas hoje percebo isso não é mais uma questão como foi durante muitos anos. Pode ter sido excesso de análise ou de Nietzsche. O fato é que eu não preciso mais disso pra ser feliz. E se por um momemnto isso me assustou, hoje é algo que faz sentir livre como um passarinho. Ou como um gato fujão.

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

A descoberta da América

O feriado nacional é de Nossa Senhora Aparecida, mas também se comemora o Dia das Crianças. Na Argentina, no Chile (e creio que nos demais países da América do Sul) hoje também é feriado, mas o que se comemora é a descoberta da América.
Estive na Argentina semana passada e me apaixonei. Fiquei em Mendoza, quase na fronteira com o Chile, cidade produtora de vinhos e um dos lugares mais bonitos onde já tive a sorte de estar. Além da beleza do lugar e da simpatia das pessoas (brasileiro tem essa implicância com argentinos, mas eles são muito amáveis com a gente), algo mais importante me chamou atenção.
Os argentinos são muito politizados. Todos os dias vi em algum lugar algum protesto ou manifestação. Em vários lugares há painéis que relembram os dias de luta, seja do passado recente da ditadura ou da libertação da América e seus heróis, Che Guevara, General San Martín, Simon Bolívar. Há uma tradição de remomoração desse passado, mas não de uma forma vitimizada. Visitei uma praça que celebrava a ligação com a Espanha, que não negava uma herança cultural que vai além da língua.
No Brasil não sabemos lidar direito com isso. Damos as costas para a América e para essa tradição e, com exceção de certos círculos, a política não faz parte de nosso cotidiano. E não sabemos lidar com o fato de termos sido colonizados, temos um complexo de inferioridade travestido de orgulho da brasilidade. Em outras palavras, exaltamos a cultura popular brasileira tomando uma cachacinha na Vila Madalena, mas na primeira oportunidade saímos correndo pra Paris. Nossa primeira opção de viagem é ir pra Europa ou Estados Unidos, torcemos o nariz para nossos vizinhos como se quiséssemos manter esta distância que da parte deles não existe.
Aprendemos inglês, francês, italiano e alemão muitas vezes antes de pensar em estudar espanhol. O fato de as universidades brasileiras não aceitarem essa língua nos exames de proficiência de pós-graduação é sintomático disso tudo que falei. Achamos que é mais importante ler os europeus (franceses e alemães principalmente nas ciências sociais em gerak e ingleses/americanos na ciência política especificamente) e conhecemos muito pouco do que se produz de conhecimento nos países vizinhos.
Redescobrir a América. É isso que deveríamos fazer.

domingo, 4 de outubro de 2009

Aos poucos as coisas se ajeitam

Depois de uma quarentena desesperadora parece que as coisas finalmente estão mais sob controle. Esta semana viajo para a Argentina para apresentar meu primeiro trabalho num congresso. Todo o processo me deixou apavorada porque eu vou sozinha e eu não sei me virar direito, sou muito dependente, eu acho. Mas no fim, com uma pequena ajuda dos meus amigos, consegui organizar a viagem e agora só falta mesmo fazer as malas. Estou contente com isso, é um pequeno passo, mas representa muita coisa. Vou a outro país apresentar um trabalho, sozinha.

Acho que se me esforçar posso até dar certo nessa coisa de ser independente. Minha casa está bagunçada e suja, não tenho ido regularmente à academia, minhas unhas estão roídas, eu engordei e meus gatos cagam fora da caixinha de vez em quando. Mas consegui resolver o problema do meu computador, consegui ver meu pai, que já está fazendo um novo tratamento e tive um trabalho aceito em outro congresso. Quer dizer, aos poucos as coisas vão se resolvendo. Até a minha franja, que eu fui aparar sozinha e no dia ficou um horror, agora parece que está mais simpática, assim, como um corte de cabelo moderninho propositalmente torto.

Estou descansada. Eu tenho muita sorte de viver cercada por pessoas boas que me passam muita energia boa. Tive uma semana bem agitada, mas a companhia das pessoas - dos meus amigos, da minha família, e dos meus gatos, que são uns capetas, mas são lindos e meiguinhos - tem me ajudado a me recompor. Isso é fundamental.

terça-feira, 29 de setembro de 2009

Lost in Translation

É uma sensação estranhamente familiar: ser arrancada da própria rotina, assim, de repente, impressão de não ser mais dona da própria vida, de ser arrastada pelos acontecimentos. Aos poucos algumas coisas vão se arrumando, outras a gente esquece pelo caminho, ainda que tropece nelas de vez em quando. De repente eu me vejo abandonando projetos aos quais me dediquei por meses. Logo eu, que nunca havia me dedicado seriamente a nada. Parece que não vai ser dessa vez.
Um dia desses eu estava celebrando a vida e me sentia muito satisfeita com o rumo que eu estava dando a ela. Então aconteceram tantas coisas, tudo alheio, mas de uma forma que é impossível manter as coisas no lugar, como se fosse uma grande tempestade. Então eu pisco os olhos e minha casa está um caos, não consigo mais ter a mesma disciplina com os estudos, dar conta de tudo que tenho que resolver. Cada dia lido com pedaços de tarefas e ao fim do dia a sensação é que eu não estou dando conta de nada.

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Síndrome de noticiário

Quando eu me mudei pra São Paulo é que me dei conta de como o Pará aparecia no noticiário nacional. Uma notícia pior do que a outra: trabalho escravo, opressão dos sem terra, assassinato de freira militante, menina presa com 30 homens numa cela, além do super sucesso daquele grupo de technobrega, que vez por outra faz com que alguém diga,"Ah, então você é da terra do Calipso"?. Pois é, durma com esse barulho. De vez em quando tenho o consolo de ver minha terra natal como uma boa referência nos cadernos de gastronomia, pois, como sabem os privilegiados, a cozinha paraense é a melhor do mundo.
Seis anos depois da minha mudança, cá estou eu instalada no ABC, onde o punk é pra valer, como diz meu marido. Eis que o noticiário nacional não me ajuda também. "Ah, você mora na cidade da Eloá? Puxa, é perigoso aí, hein?". E ontem explodiu a fábrica não muito longe daqui. Pelo menos deu pra ouvir o estrondo daqui de casa.
Eu tive um editor que dizia que coisa boa não era notícia, era registro. Pois bem. De onde venho ou pra onde eu vou sempre há muita "notícia". Deve ser alguma maldição de ex-jornalista.

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Os meus novos filhos

Essa semana duas criaturinhas chegaram pra alegrar essa minha vida de retinas tão fatigadas. Chamam-se Pandora e Frajola, dois pequeninhos da mesma ninhada que adotamos no gatil municipal. Estão com cerca de dois meses, são muito brincalhões e fofinhos. Eles me deram motivos pra sorrir nesta semana louca.
Adotar de novo em tão pouco tempo me trouxe alguns sentimentos conflituosos. Há três semanas que Zaratustra foi embora e o meu coração ainda dói toda vez que penso nele. Por isso chegou a me dar uma sensação de traição quando eu trouxemos a Pandora pra casa. Eu chorei porque a peguei no colo e pensei no dia que trouxe o Zarinha pra casa. E de vez em quando fico um pouco triste porque as lembranças tão vívidas dele pela casa estão dando lugar ao presente cheio de gracinhas dos meus novos amiguinhos. É difícil porque a gente vai se acostumando com a idéia que de pode ser que ele seja apenas uma linda memória, mas no fundo desejamos lá no fundo que um dia ele vá surgir pelo telhado como se nada tivesse acontecido. No fundo sonhamos que um dia ele e os pequenos se encontrem e sejamos todos uma grande família feliz.
O que eu sei é que esses bichinhos devolveram a luz à minha casa. Por mais saudade e amor que eu tenha pelo Zara há aqui dentro muito amor pra ser dado a gatinhos que precisam de um lar e de cuidados. Eu nunca vou esquecer meu gatinho. Mas eu não poderia fechar meu coração. Eu amei o Zara por ele e pelo Caramelo. E é por todos os meus amigos felinos que eu amarei meus novos filhos.

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Canção amiga



Raindrops keep fallin' on my head
And just like the guy whose feet are too big for his bed
Nothin' seems to fit
Those raindrops are fallin' on my head, they keep fallin'

So I just did me some talkin' to the sun
And I said I didn't like the way he got things done
Sleepin' on the job
Those raindrops are fallin' on my head, they keep fallin'

But there's one thing I know
The blues they send to meet me won't defeat me
It won't be long till happiness steps up to greet me

Raindrops keep fallin' on my head
But that doesn't mean my eyes will soon be turnin' red
Cryin's not for me
'Cause I'm never gonna stop the rain by complainin'
Because I'm free
Nothin's worryin' me

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É isso aí. Cryin' is not for me. Não mais. Não sei se foi excesso de análise ou de Nietzsche. Mas esse tempo já passou.

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Os dias infernais

Primeiro foi o meu gato amado que foi embora. Agora foi a doença do meu pai que voltou. Vai começar tudo de novo. Eu sei que aguento. Se tem uma coisa que o jornalismo me ensinou foi ser produtiva mesmo em condições infernais de ambiente ou coração partido.

O meu está duplamente em frangalhos. Eu ainda nem terminei de chorar a ausência do Zaratustra e agora o câncer, de novo. Eu aguento. Não há outra saída. Ser forte por meu pai, pela minha mãe, pelos meus irmãos que estão longe. Mas é tão duro, meu Deus.

Eu ainda não me acostumei à idéia de que não vou mais acordar com miados e ronrons, toda a alegria que ele dava ao meu lar. Porque é verdade o que dizem, uma casa sem bicho e sem criança é só uma casa, não é um lar. O Zara fazia de nós uma família. Agora somos apenas um casal cheio de saudades pela falta do seu gaatinho.

Eu sabia que um dia ele poderia ir e nunca mais voltar, sendo um gato livre e não-castrado. Mas eu não esperava que fosse logo. A verdade é que eu não esperava que isso acontecesse nunca. Do mesmo jeito que eu não esperava que meu pai ficasse doente de novo, ainda mais tão rápido.

Um dia desses eu estava radiante. Tinha terminado o mestrado bem, apesar de todas as dificuldades, estava muito contente com as minhas decisões, com a minha casa, meu marido, meu gatinho. E o meu pai não tinha mais câncer e eu vi ele e minha mãe chorarem de alegria. Agora eu me pergunto por que isso está acontecendo, onde foi parar minha felicidade, embora eu saiba que a vida segue e eu estou seguindo, apesar dessa tristeza tão grande e dessa sensação de impotência porque realmente não há nada que eu possa fazer pra dar fim a isso.

Os dias infernais estão de volta. E eu continuo, apesar de tudo. Apesar dessa vontade de gritar, de dar socos na parede e nos transeuntes, de afogar as mágoas no álcool ou qualquer outra droga, incluindo o carboidratos e a gordura saturada. Eu aguento porque não tem outro jeito.

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Motivos pra detestar as novelas do Manoel Carlos

Segunda começa uma novela nova, que não bastasse pavoroso título "Viver a vida", ainda é assinada pelo Manoel Carlos, o autor de novela aparentemente mais adorado do Brasil e mais odiado por essa que vos escreve. Manoel Carlos, também conhecido como "Maneco" é o autor das novelas das Helenas, que no passado costumavam ser interpretadas pela Regina Duarte, atriz péssima e careteira, tão intragável quanto as novelas deste autor que tem no currículo pérolas do calibre de Mulheres Apaixonadas, Laços de Família e Por Amor.

Se você não é um fã de novelas isso não deve estar fazendo o menor sentido, porque afinal as tramas de novelas são sempre absurdas e o modo as coisas se desenrolam em geral é um tantinho idiota. Mas há autores e autores e este Manoel Carlos é o porco mais machista e nojento que já se atreveu a escrever folhetins. Pior até que as novelas espíritas, como A Viagem e Alma Gêmea.

Pra começar, as novelas do Maneco são as únicas que ainda têm heroínas virgens, sempre interpretadas por atrizinhas antipáticas como Carolina Dickman ou Gabriela Duarte. E essas heroínas virgens - surprise - sempre comem o pão que o diabo amassou porque o namoradinho/marido pula a cerca a novela inteira com a safada que dá e invariavelmente engravida e acaba morrendo no fim da novela deixando o filho pra virgem criar.

Na última novela dele o filho do rico passou a adolescência transando com a filha da empregada, que inclusive chegou a abortar um filho dele. Ele não casou com ela e ela virou uma louca obcecada (é, porque mulher que dá nas novelas desse cretino sempre tem problemas). No fim, o moço casou com a irmã-caçula-virgem da louca e todo mundo achou assim, super normal. Até pode casar com a filha da empregada, desde que ela seja virgem e loura.

Aliás, isso é outro motivo pra odiar MC: nas novelas dele os pretos sempre são empregados. Nesta que vai começar agora a protagonista, a Helena da vez, será interpretada por uma atriz negra pela primeira vez e ele é uma top model. Mas não se enganem, porque ela veio da favela e a irmã da personagem apanha do namorado, também preto. Falando em preconceito, alguém já viu um casal gay numa novela do MC? Nem eu.

Outra figurinha carimbada das novelas do MC é o rústico-come-todas sempre interpretado pelo José Mayer. Essa é uma característica básica das novelas dele, aliás: homens pegadores, mocinhas enjoadinhas e resignadas e mulheres que dão e não prestam. As mulheres do MC sempre são umas imbecis/doidas/desequilibradas e os homens estão lá de coadjuvantes, pegando quem aparecer (mãe e filha, irmãs, todo mundo da mesma família, melhores amigas). Isso torna as novelas de MC ofensiva pra ambos os sexos. Sim, eu sei que há coisas que aparecem nas novelas dele que acontecem "na vida real". Mas tem que apoiar? Eu boicoto, me recuso a ver essas novelas, não acompanho nem pra falar mal.

Novela boa foi Belíssima, do Silvio de Abreu, na qual todas as mulheres, das mocinhas às vilãs tiveram vidas sexuais-afetivas livres e nenhuma foi punida por causa disso, não teve virgenzinha de branco, nem pegadores profissionais. E assim é nas novelas da Glória Perez e do Gilberto Braga. O tal do Maneco deveria fazer um curso com esses autores pra ver que é possível fazer novela sem ser um babaca reprodutor de preconceitos.

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Tarefas urgentes

Sabem aqueles dias que você tem tanto coisa pra fazer que não sabe nem por onde começa? Pois é. Hoje eu pretendia tirar um passaporte novo, já que o meu está vencido há 3 anos e eu tenho que viajar em menos de um mês. Mas não consegui fazer isso porque meu marido saiu e eu não sei onde ele guardou a certidão de casamento, que eu preciso apresentar se quiser ter um documento pra viajar pra fora do país. Deve ser uma medida pra evitar esposas fujonas.
Fora isso tenho que comprar minha passagem, escrever um pré-projeto de doutorado arrasador e ainda escrever uns dois artiguinhos pra participação em congressos. Minha casa está um caos, meu roteador queimou, de modo que estou sem internet e tenho que usar o computador do marido enquanto ele está fora de casa, pois preciso de internet pra resolver boa parte dessas coisas (projeto de doutorado, pesquisa sobre passagens, solicitação de passaporte).
Eu ainda vou apresentar um texto bem complicadinho hoje, tenho que pagar as contas da casa e ir à academia. Sim, porque eu posso até ficar um tanto desesperada. Gorda, jamais. Tudo isso e o tempo que se assemelha a um dilúvio aí fora. Ah, e amanhã o meu pai tem médico.
Tem dias que a vida provoca mesmo.

sábado, 5 de setembro de 2009

Meu amigo Zaratustra

Zaratustra foi embora há 10 dias. Talvez esteja morto, talvez alguém o tenha levado. De qualquer forma eu não tenho mais grandes esperanças que ele volte. Pensar nele parece uma lembrança distante quando eu olho para todos os cantos da casa e vejo seu fantasma: meu gatinho arranhando a poltrona verde, deitado na minha cama, correndo atrás das bolinhas, pulando pela janela, subindo no meu peito fazendo ronronzinhos de amor. Quase todos os dias eu choro e quase todas as noites eu sonho com a alegria de vê-lo voltar. Sonho que ele chega e eu grito pro meu marido: ele voltou! Ele voltou!
Ontem uma amiga me mandou uma matéria de uma inglesa que reencontrou seu bichano após seis anos de sumiço. Ele estava sendo cuidado por um casal de velhinhos que morava há cinco ruas da casa da mulher. Talvez tenha acontecido algo semelhante. Por hora eu só rezo pra que, se estiver vivo, que esteja sendo bem cuidado. Eu sei que aqui ele teve uma vida boa e que foi feliz. Não sei se isso é propriamente um consolo, mas ele me deu tanta alegria que isso não se esvai assim.
Várias pessoas me diziam que os gatos livres são assim mesmo, que somem de vez em quando até que um dia somem pra sempre. Acho que no fundo eu esperava que ele não sumisse de vez, achei que ele sempre fosse voltar. Eu também não esperava que ele vivesse comigo tão pouco tempo. Também não suspeitava que seria tão duro viver sem ele. É tanta saudade, meu Deus.

domingo, 30 de agosto de 2009

Tristeza

Zaratustra está sumido desde terça-feira. Ele nunca ficou tanto tempo fora e a cada dia que passa eu fico mais triste e menos esperançosa de que ele volte. Já ouvi relatos de gatos que sumiram por 10 dias e tento me manter firme, pensar que uma hora ele volta, embora tenha passado da hora dele voltar.
Amanhã vou colar cartazes pela vizinhança. Há uns dias ele estava aqui alegrando nossa vida e agora tudo o que eu tenho dele são fotos e uns pelos espalhados pela casa. E muita saudade.

sábado, 22 de agosto de 2009

A saga da vida de estudante

Não prestei o doutorado imediatamente após a minha defesa porque queria um tempo pra me organizar. Decidi que não iria desistir de fazer numa pública sem tentar antes. Então eu comecei a fazer aula como aluna especial, a ler a bibliografia da prova e a pensar num projeto. Só que as provas são em outubro e bateu um desespero. Será que vai dar tempo de ler tudo e escrever um projeto decente? Isso porque eu ainda nem falei com a orientadora, parte fundamental do processo.

Se eu prestar no ano que vem terei tempo pra me dedicar a isso e fazer a coisa muito bem feita: um projeto de pesquisa pra matar a pau, destrinchar a bibliografia e ainda arrasar na prova de francês. Mas se eu esperar mais um ano pra entrar na USP é o tempo que eu faço um ano de créditos do doutorado na PUC e fico mais perto de receber a bolsa. Por um lado seria bom ficar na lá mesmo, eu adoro a PUC e me sinto muito segura lá. Mas por outro tem a questão financeira, que pesa bastante e o fato de que não há muita novidade.

Some-se a isso a minha crise existencial sobre o que estudar. Eu tinha um plano que várias pessoas acharam bom, mas será que eu quero isso pra minha vida? Oh, céus! É nessas horas que um analista faz falta.

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Do caos à lama

Depois de quase dois meses sem beber, decidi experimentar algumas marcas de cerveja sem álcool. A Itaipava é muito ruim, parece cerveja choca. Mas a Liber é boazinha. E eu não sei se era a vontade louca de tomar uma cerveja, mas até que me deu um baratinho.

Lama, muita lama.

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Uma constatação

A depressão sem cigarros e sem álcool é ainda mais deprimente.

terça-feira, 11 de agosto de 2009

Eu daria uma boa frankfurtiana

Tenho blog há anos. Uso MSN e e-mail diariamente. Sinto falta do meu computador quando viajo. Gosto de baixar séries, filmes e músicas.Mas daí a achar que a Internet e as novas tecnologias são a salvação da lavoura é demais pra minha cabeça. Deixei o jornalismo pra me dedicar à pesquisa, mas ao invés de fazer como as pessoas espertas fazem (largar o jornalismo e estudar outra coisa) eu fui justamente estudar o que queria deixar pra trás. O resultado é que as babaquices relacionadas à comunicação me perseguem.

Comecei a ouvir falar de Internet em 95. Na época eu morava em Macapá, um lugar que não tem banda larga até hoje, então durante muito tempo isso não me dizia respeito. Três anos depois fui fazer faculdade de Comunicação Social em Belém e comecei a ter contato com a coisa. Gostei. Era bom trocar e-mails, me comunicar com quem estava longe, baixar músicas, pesquisar sobre os assuntos que me interessavam. Mas eu nunca, nunca mesmo pirei na idéia que estampava capas de revistas semanais quando eu fiz vestibular: a ilusão de que a Internet era a democratização da informação, que todo o conhecimento do mundo estava ao alcance de todos, blábláblá.

Mas teve gente que acreditou nisso. Então as pessoas acham que só porque os pobres entram no cyber pra usar Orkut e MSN estamos vivendo a era da democracia da informação, inclusão digital e que agora temos muitas fontes de informação porque os jornalistas têm blogs. Rá! Agora tem o tal Twitter e mais uma vez as revistas comerciais e os acadêmicos ingênuos anunciam como a nova revolução da informação. Socorro!

Eu acho que há, claro, muita coisa boa na Internet, mas acho desnecessário dizer isso porque já há muita gente incensando a rede. O problema é que os jornalistas empolgados e os acadêmicos tolinhos ainda não entenderam é que a simples existência de uma nova ferramenta de comunicação não muda o modo e adquirir informação nem cria uma geração mais intelectualizada.

Porque quem não teve uma formação sólida (e eu não me refiro apenas à educação formal, mas a uma educação política) não vai entrar na Internet pra ler sobre o cinema iraniano, visitar sites de mídia independente do Iraque ou ter acesso a obra de artistas do interior da Malásia. Quem era tapado antes da Internet vai continuar depois dela, só que com perfil no Orkut, repassando corrente por e-mail e se sentindo politizado porque vai com a maré de digitar @forasarney no Twitter.

No começo do século passado Walter Benjamin tinha horror à reprodutibilidade técnica da arte (basicamente porque tudo se banalizava) e ao cinema, por causa da catarse coletiva que este criava e à perda da experiência e da capacidade de narrar. E olha que ele não conheceu a tevê! Eu tenho horror a essa idéia de democratização da informação, porque a rarefação dos sujeitos que falam continua aí e tenho horror da falta de percepção de que estamos sendo condicionados para pensar em 140 caracteres (pra quê desenvolver raciocínios mais complexos, né?) e ainda tem gente que acha isso bacana.

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

O que eu fiz hoje

Hoje fiz as unhas, terminei de escrever um artigo acadêmico, lavei o quintal, fiz o almoço, enviei meu artigo pra um congresso, dei uma sonequinha com o Zaratustra, fui à academia e fiz um treino de quase duas horas, tomei banho, passei um monte de cremes, vi novela e ainda vou estudar um pouquinho antes de dormir e quem sabe verei um ou dois episódios de Dexter no computador. Um dia muito produtivo e satisfatório.

Realmente, o tempo rende quando não passamos o dia vendo tevê ou vadiando na Internet.

domingo, 9 de agosto de 2009

Ter gato é como ser mãe de um moleque

Um dia ele aparece com a orelhinha rasgada. No outro a vizinha reclama das danações que ele faz. Na última semana Zaratustra me deu mais uma prévia de como é ser mãe de um moleque danado: chegou em casa mancando, provavelmente por causa de briga na rua (estava com um arranhão atrás da cabeça e outro, maior, na perna onde mancava). Eu fiquei apavorada, chorei, pus de castigo. Mas assim que ele melhorou lá foi ele pular os muros da vizinhança de novo.
Isso foi há dois dias. Hoje ele apareceu em casa com uma cor amarronzada, como se tivesse rolado na terra. Ele gosta de se esfregar no chão ou passar a cara por baixo dos carros e ficar com um aspecto de mecânico. Ele tomou banho esta semana, mas não importa, ele se recusa a permanecer limpo, branquinho e cheiroso. Lembrei de quando meu irmão voltava da escola com a camiseta que tinha sido branca, toda amarronzada e a perplexidade da minha mãe que dizia "esse moleque só pode rolar na terra". Pois é, meus amigos. Quem não tem filho caça com gato.

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Ganho secundário

Não tenho escrito muito aqui porque parece que finalmente consegui atingir certo equilíbrio entre meus afazeres. Estou academicamente produtiva, tenho ido à academia diariamente e tenho conseguido manter minha casa razoavelmente limpa e arrumada há mais ou menos um mês.

Eu sempre me perguntei como seria a vida das pessoas "normais" que dividem seu tempo em pequenos blocos e têm uma vida organizada e sem grandes ondas que desestabilizam tudo periodicamente. Pois é, eu acho que cheguei nesse estágio. É esquisito, mas não é ruim.

A parte chata é que a minha escrita criativa está cada dia mais moribunda. Previsível, uma vez que eu não acredito em técnica pra esse tipo de coisa e não acredito em escritores que não fumam, não bebem e vão diariamente à academia.

Uma amiga psicóloga me disse que eles chamam esse tipo de coisa de ganho secundário. Você sai perdendo no front principal, mas até que por outro lado tem suas compensações. A literatura havia sido o meu ganho secundário pra minha existência depressiva e pro meu turbilhão interno (meu amigo Carlos costumava dizer que pra escrever certas coisas era necessário ser escravo das próprias emoções). Agora é a vida simples e tranqüila que compensa a falta que a literatura faz na minha vida.
Minha conclusão é que ganho secundário é coisa de gente doida.

quarta-feira, 29 de julho de 2009

Comer ou não, eis a questão

Depois de seis meses de dieta "peixetariana" estou considerando a possibilidade de voltar a comer carne. Não tenho sentido grandes mudanças no meu corpo ou na minha energia por ter parado de comer carne (dizem que carne vermelha deixa as pessoas mais agressivas, mas eu eu tenho meus rompantes psicóticos independente da dieta, infelizmente).
Estou pensando em voltar a comer simplesmente porque a dieta quase vegetariana é monótona. E eu sinto falta de comer um filézão bem bonito de vez em quando. Pronto, falei. Não sinto falta de aves (que não têm gosto e são cheias de hormônios, dá câncer) nem de carne de porco (eu gostava muito de bacon, mas agora só o cheiro da gordura me enjoa). A carne bovina é o que tem de menos ruim e mais gostoso (apesar de ser cheia de antibióticos, da pecuária promover o desmatamento e deixar a gente carregado de energias pesadas, porque, afinal, todos os deuses vivem na vaca).
Ontem eu estava meio surtada e queria sair pra comer um filé. A falta de dinheiro me segurou. Depois eu fiquei pensando nas péssimas condições de higiene dos abatedouros com aquele cheiro de merda e sangue podre, pensei nas carnes penduradas nos açougues pegando poeira, no fato de comermos animais que já foram abatidos sabe-se lá há quanto tempo, eca. Dá um nojinho.
Então eu fico aqui entre a vontade de comer um belo e cheiroso filé e o asco que essas informações me provocam. Ignorância é felicidade mesmo.

terça-feira, 28 de julho de 2009

Pra que serve a música pop?

Pra fazer exercícios. Um MP3 player torna a vida na academia bem mais tolerável. E pra animar mesmo na hora que você precisa a andar a 7 km/hora na esteira, nada melhor do que um bom pop chiclete e descartável. Minhas preferidas:

1-Womanizer, Britney Spears (a melhor)
2- Fergalicious, Fergie
3- Low, Flo-Rida
4- Hot'n'cold, Katy Perry
5- Just dance, Lady Gaga

E se o negócio for dar uma corridinha: Pump it, Black Eye Peas

Mas, fazendo justiça ao rock'n'roll, devo dizer que ainda não inventaram nada tão bom pra puxar ferro que o disco Chaos A.D., do Sepultura. Libera o ser brutal puxador de ferro que existe dentro da mais fresca das mocinhas.

sexta-feira, 24 de julho de 2009

Os livros deste ano

Este é um post pouco inspirado que eu decidi escrever porque estou há um tempinho sem publicar nada. É só pra contar que estou conseguindo cumprir pelo menos uma das minhas resoluções para este ano, voltar a ler literatura. Eu costumava ler bastante - e leio ainda, de certa forma - mas com o mestrado fiquei muito tempo ocupada com teoria (que eu também gosto muito, mas haja paciência).
Até agora estou conseguindo manter a média de pelo menos um livro não-teórico por mês e estou bem contente com isso. Eis a lista de janeiro pra cá:

1- Um bonde chamado desejo
2- Hell
3- Cem escovadas antes de dormir
4- Estação Carandiru
5- Insano
6- Mrs. Dalloway
7- A menina que roubava livros
8- O tigre branco

A única coisa chata é que eu preciso ser cinco livros até outubro pra estudar pro doutorado, por isso terei que interromper meu ciclo. Decidi que vou alternar um livro de teoria com um de literatura até lá. O problema é que o de literatura eu leio em uma semana e o de teoria leva quase um mês. Ó ceus!

terça-feira, 14 de julho de 2009

Feriado à mineira

Café com leite, pão com manteiga, biscoitão (mistura de biscoito de polvilho com pão de queijo). Doce de leite em barra, doce de leite com morango, doce de leite em pasta com queijo minas. Conversas e risadas. Sono. Pinhão, pamonha, bolo de milho. Comprinhas no circuito das malhas. Mais café, biscoitão, pão com manteiga, queijo e doce de leite. E mais conversa, mais comida e, claro, compras de café e queijo pra trazer.
Muita alegria, família e uns quatro quilos a mais.

quarta-feira, 8 de julho de 2009

Três coisas a fazer antes de completar 30 anos

Entrar no doutorado

Perder 5kg

Aprender a dirigir

Minha lista é modesta e previsível, mas eu fico feliz de ter chegado a uma fase em que sei o que quero da vida.

terça-feira, 30 de junho de 2009

Seis meses sem beber

Eu sempre me perguntei como vivem as pessoas que não bebem. Não que todos os meus conhecidos seja alcoólatra, tenho inclusive alguns amigos que não bebem, nunca beberam. Saem e bebem suco a noite inteira. Por mim tudo bem, não acho que uma pessoa tenha que beber, fumar ou usar drogas pra se divertir, eu é que não tenho imaginação. Agora eu vou saber como é a vida de uma pessoa que não bebe, já que só beberei novamente na semana do natal.

O problema de não beber é que, bem, eu não tenho muita imaginação. Comemoração? Cerveja! Tristeza, raiva, nervosismo? Cerveja, cerveja, cerveja. Almoços e festas de família? Vinho, muito vinho. E cerveja, se tiver. Na verdade eu cheguei a me questionar algumas vezes quando é que a pessoa sabe se é alcoóltra sem estar caída no próprio vômito com um cachorro lhe lambendo a cara ou bebendo shots de álcool Zulu. Pra mim é muito difícil saber o último copo, a hora de parar. Eu quero sempre beber mais e eu sempre quero beber.

Os próximos seis meses serão complicados porque eu associo diversão a bebida e frequento lugares que servem bebida (restaurantes e botecos) com pessoas que gostam de beber (meu marido, meus amigos). Semana passada eu fui a um barzinho que tem maravilhosas cervejas importadas e eu tomando suco. Ontem eu fui comemorar o sucesso do tratamento do meu pai num bar-restaurante que tinha chopp alemão double. Minha mãe tomando cerveja e eu tomando suco. E a minha mãe nem bebe!

Devo dizer, é duro. E pensar que ainda faltam 5 meses e três semanas. Mas vamos olhar pelo lado bom: eu vou emagrecer. Isso se for verdade essa história que a bebida engorda, porque uma vez eu vi a Cicarelli num show e ela estava tomando cerveja.

segunda-feira, 29 de junho de 2009

Highlander

Não estamos acostumados a boas notícias quando se trata de câncer. Qua quase todo mundo tem uma história pra contar de um avô, uma tia, um vizinho, um conhecido que passou por essa doença terrível. E na maioria das vezes a pessoa em questão morreu. Eu nunca tinha convivido com o câncer de perto até que aconteceu com o meu pai. Por mais que a gente não queira há o estigma da doença, a associação com uma sentença de morte. Começamos a contar o tempo que resta esperando o pior. E o pior não é a morte, mas o sofrimento lento e extremamente doloroso do tratamento. As cirurgias mutiladoras, o desespero da quimio, a depressão.

Quando meu pai ficou doente eu tomei duas decisões. A primeira foi não tratá-lo como um doente, como alguém digno de pena. Não. Nunca o tratei como vítima, como coitadinho, nunca chorei na sua frente. Eu sempre disse a ele que não era uma pessoa doente, que ele estava enfrentando uma doença e que ia passar. Disse mesmo quando não acreditava, porque é importante que alguém te diga que tudo vai ficar bem mesmo quando você duvida disso. A outra decisão foi aproveitar todo o tempo que tivesse com o meu pai e não dar importância a coisas pequenas. Não ver o meu pai como alguém que eu gostaria que fosse, mas simplesmente como alguém que amo e quero bem. Como um pai.

Hoje meu pai passou por uma cirurgia preventiva, porque apesar da quimio ter eliminado o tumor os médicos decidiram retirar um pouco de tecido do local "pra garantir". Deu tudo muito certo e o primeiro exame revelou que não há sinais de células cancerígenas no local. Fui visita-lo na UTI e saí de lá leve. Meu pai chorava de alegria, feliz por estar vivo, leve. Ao sair, minha mãe me deu um grande abraço. Estava eufórica. Eu não chorei, mas sinto o coração calmo e sereno. Parece que tudo que vivemos nos últimos meses ficou pra trás. Era outra vida. A vida agora é meu pai se recuperando, vencendo mais uma batalha. Quem sabe a guerra.

É muito difícil falar em cura quando o assunto é câncer. Segundo a convenção dos médicos, é preciso esperar cinco anos sem nenhuma recidiva pra considerar que houve cura. Mas isso não importa nada agora. POrque quando o médico disse que as chances dele eram pequenas eu achei que ele fosse morrer. Por isso cada batalha é vencida vale por toda a guerra. Meu pai é um vencedor e isso é tudo o que importa.

sexta-feira, 26 de junho de 2009

Pra não dizer que não falei do Michael

Há uns seis meses um amigo veio me visitar e trouxe um dvd de clipes do Michael Jackson. Passamos umas duas horas comentando como aquilo era bom e a melancolia que era ver o Michael negão do Jackson Five e de Beat It, porque era inevitável pensar no ser bizarro que ele havia se tornado.

Há um tempo minha irmã disse que queria entrar em sua formatura dançando a coreografia de Thriller, a mesma que apareceu na cena mais legal do filme "De repente 30".

Quando eu estava na faculdade meus amigos nerds da música nunca deixaram de pagar um pau pra ele e a gente tentava imitar (sem muito sucesso, diga-se) as dancinhas dos clipes.

Lembro de quando o clipe de Black or White passou no Fantástico. Do alvoroço que foi o ano de 2003, quando não só o rei do pop, mas também a rainha, se apresentaram no Brasil pela primeira vez. E de todas as vezes que tentei fazer o moonwalker, do episódio dos Simpsons com o personagem Michael e de todos os imitadores no extinto Show de Calouros do Silvio Santos.

Michael Jackson fez parta minha vida quase como uma entidade e agora ele está morto. É o fim de uma era, principalmente pra quem cresceu nos anos 80.

terça-feira, 23 de junho de 2009

Alegria, alegria

O que pode deixar alguém mais feliz do que receber o título de mestre com nota 10 depois de ter passado por diversos percalços e não esperar esta nota? E passar por isso acompanhado da família e de amigos queridos e muitos desejos de boa sorte? Receber a melhor notícia do ano: a quimioterapia zerou o tumor do meu pai.

Acho que só se eu ganhasse na loteria poderia ficar mais feliz do que estou agora. Aliás, eu vou jogar.

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Ter gato é padecer no paraíso

Há algumas semanas uma vizinha me chamou e disse que eu preciso prender meu gato, porque ela o viu atravessando a rua correndo e achou que ele fosse ser atropelado.
Zaratustra me faz ficar aflita.

Depois, essa mesma vizinha nos disse que ele pula a janela e entra na casa e se deita na cama dos pais dela.
Zaratustra me faz passar vergonha.

Há mais ou menos 15 dias ele sumiu e ficou dois dias fora. Foi aí que meu marido percebeu que ele estava trancado dentro da garagem de uma oficina aqui na rua de casa. Só que era sábado duas horas da manhã e tivemos que esperar amanhecer até chamar alguém pra tirar ele de lá. E eu passei a noite tendo pesadelos e chorando preocupada porque ele estava sem água e comida há dois dias.
Zaratustra me tira o sono.

Aí, quando eu pensei que ele estava sossegando ele me aparece em casa com a orelha rasgada e cheio de sangue pelo pescoço. Sabe-se lá como ele fez isso. Acho que tem alguma coisa a ver com o passarinho que achei morto depois no quintal. Levamos no veterinário e morremos numa grana. E eu tenho que fazer truques variados pra conseguir que ele tome o remédio.
Zaratustra me dá prejuízos. E trabalho.

Diante disso tudo eu fico assustada, choro, penso em prender, até mandar castrar, coisa que nem me passava pela cabeça há alguns meses. O problema é que ele está acostumado com a rua e nada me garante que não seria o mesmo capeta se eu o capasse. Melhor deixar como está. Ele pode me dar trabalho, prejuízo, fazer vergonha e tirar o sono. Mas me dá muito mais alegrias.

segunda-feira, 15 de junho de 2009

Excesso de tempo livre

Eu tive uma fase muito cinéfila no início dos anos 2000. Tudo me levava pra isso, o fato de estar me formando em jornalismo, meio em que a maioria das pessoas é ligada em cinema e além disso vários amigos e namorados aficcionados. Essa empolgação durou até 2004, mais ou menos. Depois disso eu não deixei de gostar de cinema, mas me rendi à preguiça que acomete as pessoas comprometidas. Meu marido não é ligado em cinema, ele prefere comida e cerveja. Some-se a isso o mestrado, o vício nas séries de tevê e pronto, fiquei por fora e ganhei 5 kg.

Mas desde que terminei a dissertação estou voltando a ter contato com dois hábitos que me agradavam muito e que eu tinha deixado pra trás: a literatura e o cinema. Sobre os livros eu já falei aqui (e confesso que ando tendo mais sucesso em ler do que em escrever). Há duas semanas o cinema voltou ao menu. E tenho gostado bastante, embora algumas vezes eu me sinta meio perdida. Tenho um amigo que desenvolveu TOC porque queria ler todos os livros e ver todos os filmes e pra isso parou de ter vida social. Vou dizer, quando a gente fica por fora assim dá uma certa ansiedade de ficar por dentro de tudo quando o tempo é tão escasso.

Atualmente minhas ocupações incluem a rotina de dona de casa, dar uma força pros meus pais, um grupo de estudos de Ciência Política, leitura de livros não acadêmicos, academia (que eu não vou há duas semanas porque fiquei doente), ver filmes, estudar pra prova do doutorado, participar das atividades de um coletivo político-cultural-ecológico e mais todo esse tempo que eu passo na internet ou vendo tevê (muito). Eu tenho todo o tempo "livre", já que não tenho um emprego, mas sinto que não tenho tempo pra nada. Preciso me matricular na autoescola e finalmente aprender a dirigir. Mas quando eu vou fazer isso?

Daqui a pouco alguém inventa uma síndrome pra nomear isso. Se é que já não existe.

domingo, 14 de junho de 2009

Nightmare nº 2

A uma semana da minha defesa já tive dois pesadelos. No primeiro eu ficava falando sem parar e não chegava ao assunto, dava a impressão de que o trabalho era sobre outra coisa. No segundo o Power Point não estava pronto e eu ficava falando, falando sem nenhuma direção. Os dois sonhos são muito parecidos e expressam um temor real: eu não sei falar em público e tenho pânico da banca. Tenho vontade de fumar mil cigarros só de pensar nisso e olha que eu não fumo há mais de um ano!

Semana passada alguns amigos me ajudaram com isso e fizemos uma pré-banca. Eu pretendia falar 10 minutos e passei dos 20. Isso porque apresentei apenas dois capítulos. Terça eu vou apresentar o resto da dissertação e vou tentar manter em 10 minutos. Mas é tão difícil! Fico nervosa, tenho a sensação que não estou conseguindo ser clara e me sinto assim, um tanto idiota.

Falta uma semana. Até lá alguns ensaios e muitas unhas roídas.

terça-feira, 9 de junho de 2009

Algumas retificações

Eu ando muito rabugenta em relação ao rock, dizendo que os Strokes foram o último suspiro desse estilo musical, que muita banda em atividade já passou da hora de acabar e que a maioria das coisas que surge é mero pastiche do que já veio antes. Eu acho tudo isso mesmo, com algumas ressalvas:

1 - Jack White é o cara mais legal desta década, adoravelmente esquisito, criativo e dono de uma energia que é aquilo que se espera do rock'n'roll.

2 - The Killers é uma banda muito boa. Eu ainda tenho uma certa implicância porque o vocalista se acha o Freddie Mercury - e depois que ele deixou o bigodón crescer eu não tive mais nenhuma dúvida. Mas os discos são bons. A maioria das bandas legaizinhas de hoje, como Franz Ferdinand, eu enquadro na categoria de "banda de balada", o tipo de coisa que daqui a 10 anos as pessoas só se empolgarão ao ouvir se for por saudosismo, como a gente quem cresceu nos anos 90 e escuta Mr. Jones hoje. Eu costumava pôr o Killers e o Arctic Monkeys nessa categoria, mas ambas têm algo a mais. Apesar da minha supresa implicância com os segundos por causa do hype mega exagerado, é uma banda boa, apesar de não serem nenhuma salvação da lavoura. Isso eu ainda tô esperando aparecer, mas pelos meus cálculos isso só vai acontecer lá pelo ano de 2011.

3 - Um dia desses eu pedi a um amigo nerd-da-música gravar umas bandas novas pra mim porque eu estava decidida a deixar de ser ranzinza e me atualizar. A única que gostei foi MGMT, apesar desse nome horrível. Aliás, o que há com as bandas e seus nomes cada vez piores?

É isso. Mas antes que este texto pareça uma coisinha otimista fofinha, algumas observações:
1- Que coisa mais tosca é essa vocalista do Yeah Yeah Yeahs que se acha a Chrissie Hynde? Socorro.
2- Por que, senhor, por que o U2 ainda não acabou?

sábado, 6 de junho de 2009

Hein?

Que diabos é Twitter? E como se escreve? Pra que serve? Como assim "mini-blog"? Ah, pela enésima vez, eu estou ficando velha pra certas coisas.

quarta-feira, 3 de junho de 2009

Sobre o avião

Eu não gosto desse sensacionalismo que acontece toda vez que cai um avião. Só serve pra dar mais medo de viajar e fica explorando a dor das famílias. Mas esse que sumiu em direção à França me chamou a atenção porque nele havia um casal que estava indo pra Paris em lua-de-mel. Quando deram a notícia isso me entristeceu porque fiquei pensando naquelas duas pessoas que tinham acado de se casar, estavam planejando passar a vida juntos e de repente, puf!, acabou. Mas depois pensei que em certo sentido é romântico, porque eles se amavam e morreram juntos, depois de uma das noites mais felizes da vida deles. Não que seja bom perder parentes, mas se eu fosse da família isso me consolaria.

O segundo pensamento não é nobre e nem original, mas é inevitável. Não consigo deixar de pensar na ilha de Lost e na farsa dos destroços do avião. Na minha fantasia os passageiros estão lá e o casal em lua-de-mel também. Felizes para sempre.

terça-feira, 2 de junho de 2009

Este mundo está perdido n° 1000

Uma das atrações da Feira Literária de Paraty será o Chico Buarque. E não, não é cantando. O terror das universitárias ripongas consta na lista de "autores" que participarão do evento. Quer dizer que o Chico agora é autor, é? Por que não chamam logo o Ivo Pitanguy e o Jô Soares pra lhe fazerem companhia?

Depois o povo acha que o fim do mundo é o Paulo Coelho na ABL. Humpf.

quinta-feira, 28 de maio de 2009

O câncer e a vida

A primeira pessoa que eu conheci que tinha câncer foi uma senhora que ficou hospedada em minha casa há quase três anos, Helena. Ela era amiga de uma tia que faleceu no ano passado depois de anos lutando contra a doença (primeiro na mama, depois nos ossos). O caso de Helena foi semelhante, só que a metástase foi no cérebro: três novos tumores dois anos depois da mastectomia radical. Na época eu não percebi a força que ela tinha. Pensei que ela estivesse resignada, não era algo que me afetasse. Mas, claro, minha percepção do câncer e da pessoa com câncer mudou radicalmente depois que eu convivi com ele de perto.

Poucos meses depois da passagem de Helena por minha casa meu pai foi diagnosticado com carcinoma na prega vocal esquerda. Passou por radioterapia e depois por uma cirurgia radical, a retirada das pregas vocais e de toda a laringe. Foi uma cirurgia grande e a recuperação foi difícil, pois com a retirada das pregas vocais meu pai teve de reaprender a falar. A primeira vez que ouvi a voz dele no telefone depois da cirurgia chorei de emoção. Ele mesmo ao cantar "Atirei o pau no gato" como exercício de fono se emocionou como um menino. Era bonito de ver. Infelizmente a doença voltou menos de um ano depois, mas eu tive a alegria de ver que meu pai foi mais feliz nesses poucos meses do que vinha sendo em anos.

Acho que não existe sofrimento físico maior que o câncer. É uma doença que traz em si o estigma da morte, apesar de sabermos que podemos morrer a qualquer instante. Além de passar pela quimioterapia, radio e cirurgias radicais, sempre há o fantasma da metástase. A depressão, o medo, o desespero. A família sofre junto. E além disso tudo o doente ainda precisa conviver com a carga moral que vem junto com a doença porque o câncer é tratado como algo que a própria pessoa causa para si, ou por maus hábitos ou por negligência.

Mas, já dizia Deleuze que o que morre é o organismo, não a vida. Foi isso que me fez perceber o quão especial é aquela mulher que conheci e que hoje está bem. Os tumores sumiram, os efeitos da quimio passaram. E ela continua com o mesmo sorriso no rosto. Hoje eu a encontrei e ela me pediu pra dizer ao meu pai que a doença passa e que depois vem a vida. Apesar de todo abatimento decorrente da quimio e de algumas vezes chorar como uma criança, meu pai tem muita vontade de viver. E isso me ensina muitas coisas e me enche de vida, esperanças e alegria e me faz valorizar cada momento com ele. Nós tivemos um relacionamento difícil a maior parte da vida. A doença dele me fez acordar. O que morre é o organismo e não a vida. Há muita vida ainda a se viver. Nòs estamos vivendo. O câncer nunca poderá ser maior que isso.

terça-feira, 26 de maio de 2009

Café pra que te quero

omo café todos os dias. Uma caneca grande logo pela manhã e algumas vezes outra no lanche da tarde (não costumo jantar). Vivem saindo "estudos científicos" para dizer se o café é mocinho ou vilão. Minha tese é que o resultado varia de acordo com o apreço do pesquisador por esta bebida maravilhosa. Um dizem que prejudica o estômago e enche a pele de celulite. Outros que melhora o raciocício e que tem até a capacidade de recuperar neurônios nas mulheres (não me perguntem por que nas mulheres, eu sei que só funciona pra gente). Pra mim isso encerra a questão: entre um bumbum lisinho e neurônios mais poderosos, pode crer que eu fico com a segunda opção.

Mas eu não levo muito a sério essas pesquisas sobre alimentos, só as que me interessam. Deixei de comer carne porque a incidência de câncer é maior entre pessoas que consomem carne regularmente (na verdade eu tenho outros motivos que não vêm ao caso). Mas eu li isso num site vegetariano, então não vamos levar isso tão a sério porque o George Harrison e a Linda McCartney eram vegetarianos militantes e vocês viram no que deu. Talvez os cientistas que se preocupam tanto com os efeitos negativos dos alimentos devessem estudar não só a alimentação, mas a vida dos monges tibetanos e comparar com o modelo de vida ocidental-cidade-grande-neurótico-fast-food. As freiras portuguesas inventaram aqueles doces cheios de gema de ovo e açúcar que seriam condenados por qualquer cardiologista, mas não se tem muita notícia de freira infartando por aí.

A gente precisa desconfiar de tudo. Inclusive - e principalmente - das nossas certezas.

domingo, 24 de maio de 2009

Prazeres secretos de Amélie

Lembram de uma parte de O Fabuloso Destino de Amélie Poulain em que o narrador apresenta alguns prazeres secretos da heroína? É uma das minhas partes preferidas e volta e meia eu me pego pensando nos meus próprios prazeres secretos, essas tarefas cotidianas que nos enchem de alegria.

Uma coisa que eu adoro é fazer as unhas. Faço em casa de vez em quando, mas nada que se compare a fazê-las na manicure. Adoro. Algumas vezes eu passo meses sem ir na manicure e rôo muito os dedos. Mas quando volto a ir é uma sensação indescritível. Não sei se é porque eu sou meio desleixada e desorganizada e estar com a unha feita me dá uma sensação de ser uma mulher mais normal. Minha peruíce exterior pode dar a impressão que eu sou superfresca, mas a verdade é que as minhas oscilções constantes de humor dificultam ter uma rotina regrada pra qualquer coisa. Há épocas em que uso todos os cremes direitinho, vou na academia quase todos os dias na semana, essas coisas. Mas há outras em que eu mal tenho disposição pra tomar banho e escovar os dentes. E eu vou te contar, essa oscilação toda cansa!

Estar com a unha feita ajuda a me sentir menos tosca, me dá a sensação de que a vida está entrando nos eixos, que sou capaz de me organizar, de tocar meus projetos e de domar essa intensidade toda que me faz roer as unhas até sangrar e que algumas vezes me deixa largada no sofá, apática, por semanas. Com a unha feita eu sinto que posso estudar pro doutorado, escrever meu livro, manter a casa em ordem, cozinhar todos os dias, ter uma vida social, dar uma força pra minha família e ser magra. É uma coisinha de nada, mas funciona. Vai entender.

sexta-feira, 22 de maio de 2009

O princípio da publicidade

Dizem que as pessoas escrevem pra ser lidas. Mentira. Isso é consequência. Pode até ser verdade para certo tipo de escritor, desses que escrevem best sellers pra ficar ricos. Mas pra quem tem as letras no sangue, pra quem escreve mentalmente, pra quem precisa disso pra continuar vivo e manter o mínimo de sanindade, o que menos importa é o leitor. Como diria uma amiga jornalista, leitor só serve pra encher o saco. Escrevo porque tenho necessidade, como naquele filme sobre o Marquês de Sade no qual ele leva isso até as últimas consequências.

Mas seria mentira dizer que não me importo. Eu gosto de ser lida. Mas não é isso que penso na hora que estou digitando ou rabiscando algo. Parece-me impossível escrever qualquer coisa que preste se o foco estiver na resposta de quem vai ler (a não ser em texto metalinguísticos como esse). Mas quando se escreve num blog também parece impossível não ter alguma censura prévia na hora de escrever. Isso sim é um saco e nessa hora leitor só atrapalha.

No meu blog antigo eu acho que atingi o limite da exposição. Era outro momento, era outra coisa e eu era outra pessoa. Hoje eu escreveria textos amargurados dando nomes aos bois que dão origem a barracos e 40 comentários num único post. Nem contaria tanta coisa de maneira tão crua. Decidi acabar com o blog antigo e começar um novo ao qual só teria acesso quem eu decidisse. Doce ilusão.

Eu queria um espaço pra escrever livremente de novo, sem me preocupar se estava ofendendo alguém ou se estava falando demais num espaço que minha família visitava diariamente. Quando eu vi meus sogros já liam meu blog, minha prima vinha comentar texto que tinha lido e toda a minha pretensa privacidade se foi. Um amigo me disse que é impossível manter algo secreto na internet. Tá certo, o que eu quero é uma contradição. Mas como lidar com isso sem que a resposta seja a censura prévia?

Hoje eu vi meu blog citado em outro, com elogios. Não é a primeira vez que isso acontece. E sabem, eu adoro! O problema é conciliar a minha reação quanto a conhecidos e desconhecidos que descobrem este espaço. Não é fácil. Ou então chutar o balde mais uma vez e escrever o que me der na telha. Problema de quem não gostar do que leu. Mas não é simples assim. Eu publiquei, por exemplo, um poema sobre a doença do meu pai. Tudo bem se desconhecidos e meus amigos souberem como eu me sinto a esse respeito. Mas eu não sei se gostaria que ele lesse. E tem os comentários. Tive que moderar, porque as vezes alguém escreve algo que é particular pensando que só nós estamos lendo. Complicado.

É preciso, então, estar atento ao fato de quem tem mais gente lendo que comentando. E que ou eu aceito isso ou parto pro blog secreto. No mundo ideal eu só seria lida por quem eu escolhesse. As palavras são minhas e eu sou mesmo possessiva em relação a elas.

Casar é...

... de vez em quando ter vontade de esganar a pessoa que você mais ama.

quarta-feira, 20 de maio de 2009

Um recado

Hoje eu fui publicar os comentários e apaguei sem querer um que particularmente tocou meu coração. Era de uma mulher que está desconsolada com a fuga de seu gatinho, por isso eu vou responder aqui mesmo.

Taninha,

Eu sei o que você está sentindo. Meu bichano já sumiu algumas vezes e por mais que todos me dissessem que os gatos são assim mesmo, nada me impedia de ficar arrasada. Chorei dias a fio todas as vezes que ele sumiu e provavelmente vou chorar todas as vezes que ele sumir. É o preço que pagamos por amar um ser tão livre. Por isso eu não vou falar pra você ficar calma e que ele volta. Apenas te digo que reze (se acreditas) pelo seu gatinho estar bem e que volte logo. Beijos e força aí.

domingo, 17 de maio de 2009

Por uma outra perspectiva

Há um tempo assisti a um filme em que uma francesa e um americano de vinte e poucos anos se conhecessem durante uma viagem de trem. Aparentemente é um filme romântico, mas ilustra muito bem o que Bourdieu escreveu sobre os "imperialismos do universal". Em linhas gerais, ele diz muito do que se sabe ou se escreve sobre os Estados Unidos e a França é fruto de um confronto entre esses dois imperialismos. Enquanto a França possui uma espécie de monopólio da legitimidade intelectual, do humanismo, da verdadeira Revolução -, os Estados Unidos teriam em seu patrimônio a verdadeira democracia. O choque se dá porque há um imperialismo em ascensão (o norte-americano) e um em declínio (o francês) e ninguém quer largar o osso.

Pois bem. Esse filme ilustra bem o que é o choque desses dois imperialismos que exportam as visões verdadeiras, conclusões incontestáveis sobre a Verdade e sobre como se deve viver. Numa certa altura o rapaz americano diz se sente frustrado porque sente que os melhores anos de sua vida estão passando e ele ainda se sente um garoto no colégio. A francesa diz que sempre imaginou sua vida como lembranças de uma velha senhora. Fico com a francesa. Não que eu ache que a França seja aquela maravilha, é preciso ser muito ingênuo pra isso. Mas prefiro o modo de pensar alternativo apresentado pela personagem da Julie Delpy.

A maioria dos meus amigos tem por volta de 30 anos e tem gente que está pirando com isso. Minha amiga Rita disse que eu não estou desse jeito porque eu já me casei (justo ela pra me dizer isso, que é uma das poucas que consegue manter a sanidade e a dignidade sendo solteira e tendo quase 30). Mas não é isso. Nossa visão a respeito dos 30 anos é impregnada pelo modelo do sonho americano, do self-made man, pelo Sex and City e sei lá mais o quê. Uma vez perguntei a um amigo que estava na tal crise o que ele esperava que fosse diferente. Ele tinha um bom emprego, morava numa cidade maravilhosa, tinha muitos amigos, namorada. Qual era o problema, afinal? Ele não sabia.

Existe alguma mensagem no ar de que aos 30 devemos estar casados, ter casa própria, cachorro, emprego dos sonhos, conta bancária gorda, corpo magros e ter um bebê a caminho. Tá, mas qual o problema de não querer isso? Ou de querer só parte do pacote? Ou querer e não ter? Ou não saber? Felizmente nunca coloquei sobre meus ombros essa responsabilidade. Já sou uma pessoa perturbada o suficiente pelas minhas neuroses, não preciso de outra tão manjada.

Hoje eu estava andando no parque e comecei a pensar nisso, porque eu estou pensando mesmo nesse negócio de ter filho. Há muita vida pela frente. Muita. Se viver 90 anos (eu viverei 111), 30 anos é apenas o primeiro terço. Um dia eu vou me lembrar daquela caminhada. Provavelmente não me lembrarei da minha crise que não era por idade, mas por causa da frustração de ter que arrumar dinheiro quando há tanta coisa a fazer e há tanta vida. Provavelmente eu também não me lembrarei que justamente naqueles dias eu estava voltando a escrever e conseguira colocar algumas idéias em ordem.

Talvez eu não me lembre que foi justamente naquela tarde que eu percebi que alguma coisa havia mudado. Que minhas opiniões estavam menos condicionadas por esses imperialismos. Eu já não olhava crianças como seres irritantes e barulhentos, já não era tão mal-humorada e pensava que poderia, sim, abraçar o meu destino e a vida com toda a sua potência, deixar algumas coisas irem e aceitar de bom grado os ventos da mudança. Não, não pensarei nisso. Lembrarei de uma linda tarde outono, do sol e do vento frio, das crianças correndo no parque, dos cães, dos casais de namorados que se beijavam sob as árvores, do picolé de manga e do jeito que meu marido me abraçou. Lembrarei disso quando anos depois estiver ali com meu filho, com meus filhos. Pensarei no que realmente importa. Um dia ensolarado, meu marido e uma vida inteira pela frente.

quinta-feira, 14 de maio de 2009

O período sabático

Eu queria desfrutar de um semestre sabático. Pensar na vida. Queria ficar seis meses vadiando e escrevendo, porque pra escrever eu preciso de um certo tempo de ócio e preciso deixar as idéias germinarem, ficar observando a vida e as pessoas de longe com contatos sociais esporádicos, apenas quando eu estiver disposta. Decidi não prestar o doutorado. As inscrições acabam semana que vem, mas eu optei por não correr com um projeto.

Mas como viver um período sabático num mundo sufocada por mil cobranças? Metade da minha semana eu tenho que passar em São Paulo por conta da situação do meu pai. Isso impossibilita uma rotina doméstica mais regrada, já que nos quatro dias que me restam tenho que colocar as coisas da casa em ordem. Algumas vezes fico tão cansada que não consigo fazer academia ou cuidar direito do meu marido e do meu gatinho. Acabo estendida no sofá por horas, vendo seriados que eu nem sei porque acompanho, perdendo tempo na internet sem produzir nada, folheando livros que tenho preguiça de ler.

Como desfrutar de um período sabático cercada das cobranças que não são apenas dos outros mas também são minhas? Você terminou o mestrado, o que vai fazer agora da vida? Arrumar um emprego? Prestar o doutorado? Arrumar uns frilas? Ah, eu não queria fazer nada disso. Eu não queria ter que ir pra São Paulo toda semana, eu não queria ter que ter compromissos com ninguém (e pensar que no post anterior eu estava pensando em ter um fiho, que é o maior compromisso de todos). Eu só queria poder ficar imersa no meu universo-umbigo. Ler Nietzsche à beira da piscina, cozinhar pra mim e meu amado, mimar meu bichano, dias e dias de pijama.

Mas ao invés disso eu sinto o tempo me escapar em tarefas que contrariam minha vontade e esvaziam meus dias e o meu espírito. Eu pensava que um novo mundo se levantaria depois que eu depositasse minha dissertação. Mas eu não sei se tenho caos suficiente dentro de mim, eu não sei se tenho força "pra dar a luz a uma estrela que dança". Eu tenho um vazio e uma tristeza leve, quase imperceptível, que está sempre à espreita.

sábado, 9 de maio de 2009

Maternidade

Eu nunca pensei muito em ter filhos. A idéia me passava pela cabeça uma vez ou outra, sobretudo quando eu decidi que não os queria. Mas ultimamente eu tenho pensado bastante a respeito. É estranho. Eu não sei se quero, tem horas que sim, tem horas que a idéia me dá arrepios. Tenho vários amigos que têm filhos, mas ninguém planejou. A despeito da surpresa todos dizem que foi a melhor coisa que aconteceu. Claro, como não amar um bebezinho?

Mas como é que se planeja, como é que se sabe que é o momento? Como diz minha amiga Rita, ter filho é uma coisa muito radical. Eu demorei um pouco pra me acostumar com o casamento e sossegar o facho. Tem horas que eu ainda sou invadida por um desejo louco de cair na esbórnia e algumas vezes fico com inveja dos meus amigos solteiros que vão ao cinema toda semana, saem pra dançar regularmente e se encontram com frequência. Como vai ser quando tiver filho? Eu sei que a maternidade não é uma prisão e tenho umas amigas que voltaram a ter uma vida social bastante ativa depois que seus filhos cresceram. Mas essa mudança toda me assusta.

Como eu disse, essa idéia me passava pela cabeça, mas é diferente programar pra um futuro próximo. Uma amiga me disse que já passamos da fase de fazer planos pro futuro, que o futuro já chegou. Mas será que eu não estou pensando nisso só porque o meu marido quer? Será que tô querendo ter filho porque é o que as pessoas fazem depois de casar? Porque eu vou fazer 30 anos? Porque estou casada há quase um ano e meio? Será que é porque eu tenho medo que meu pai morra?

Essa semana eu estava na maior crise porque terminei o mestrado e tenho que correr atrás de grana e me preparar pro doutorado. Tem tanta coisa que eu quero fazer ainda! Eu queria morar fora, viajar, perder 8kg, aprender francês, arrumar a minha casa, escrever. Eu preciso tirar carteira de motorista! Tudo isso e ontem eu passei horas pesquisando sobre preparativos para quem está pensando em engravidar, doulas e casas de parto. Será que eu estou ficando louca? Esses dias eu disse a um amigo que tenho muitas decisões pra tomar e que eu achava que ia ter um filho, porque aí não ia mais precisar tomar decisão nenhuma, ia ser all about the kid.

Acho que eu vou parar de tomar pílula e jogar na roleta russa do período fértil.
(Brincadeira).

sexta-feira, 8 de maio de 2009

Hoje eu parei pra ver o que parece ser uma versão do Disk MTV. Alguns comentários:

- Um dos campeões de audiência é o Eminem. Que coisa nojenta. Nem vale a pena falar mais que isso. Enfim, este é o mesmo cara que tomou uns cornos da namorada e a matou em algumas músicas e videoclipes (pra depois voltar com ela). Babaca é pouco.

- Não ouvi o novo álbum do Franz Ferdinand, mas a julgar pelo single Ulysses, nem vale a pena. Se a música de trabalho é ruim daquele jeito, que dirão as faixas "obscuras".

- Pára tudo e me diz: o que são aqueles óculos franjados da Beyoncé?! Absurdo!!! Na música ela diz "I'm a diva". Ninguém duvida disso, B. Mas ela é abusada a ponto de dizer que diva é a versão feminina do rockstar. Fala sério, como não adorar a Beyoncé?

- Tem uma outra que tem uma música superchiclete de uma cantora chamada Lady Gaga. O nome artístico é podre e ela parece uma versão um pouco mais vadia da Christina Aguilera. Mas eu gostei. Pop dançante comercial descartável da melhor qualidade. Agora que diabos essas cantoras deram pra fazer clipe de collant, hein? Acordem, moças, faz três anos que a Madonna fez isso! Será mais um indício de anos 80? Socorro, ninguém mais agüenta esse revival!

Bom, por enquanto é só. Estou tentando voltar a escrever algo que preste, mas só tá saindo bobagem, então vamos de bobagem mesmo. Pelo menos serve pra exercitar. Passada uma semana que depositei minha dissertação agora é que estou voltando ao mundo dos vivos e isso leva tempo.

terça-feira, 5 de maio de 2009

Fenomenal?

Sou só ou vocês também estão achando esse oba-oba em torno do Ronaldo um pouco forçado? No Fantástico disseram que ele ganhou um novo apelido, Ronaldo-Superação. Isso e mais os comerciais de cerveja e os comentários de Pelé. Eu não manjo de futebol, mas estou desconfiada que esse barulho todo não é justificado. Isso e a tal da gripe do porco.

sexta-feira, 1 de maio de 2009

Coragem e verdade

Após passar um ano estudando na Espanha, um jovem aspirante a yuppie tem uma revelação a caminho do escritório onde lhe aguardava uma carreira promissora. Diante de seus olhos se passaram cenas do último ano de sua vida, cenas de amizade e de amor. Lembrou de si mesmo quando criança dizendo “quando crescer serei escritor”. Ele devia explicações àquele menino e por isso saiu correndo.

A cena é do filme Albergue Espanhol, mas poderia fazer parte da minha vida, só que sem o futuro promissor pra sem sair correndo e ter passado um ano na Espanha pra saber que eu queria fazer da vida. Seria uma cena da minha vida num universo paralelo, se eu não tivesse sabotado as minhas boas oportunidades profissionais porque sabia que não teria coragem de sair correndo se tudo desse certo. Falta-me coragem mesmo agora, quando o rumo das coisas está meio nebuloso e quando eu não tenho mais todo o futuro pela frente.

Uma vez discuti isso com um amigo que fez escolhas completamente diferentes das minhas. Ele é guitarrista e nunca tentou ser outra coisa senão músico. Ele achava que deveria ter feito como eu, porque viver de música não era fácil. Mas eu tinha inveja dele, porque aceitei a imposição da minha família de ter uma profissão e lidar com a literatura como hobby, como passatempo pras horas vagas. Eu achava que um dia magicamente as coisas dariam certo e com o tempo eu poderia viver disso. A conclusão é que nós sempre temos que arcar com os custos de nossas escolhas. Mas será que as escolhas precisam ser definitivas?

Cada vez tem sido mais difícil escrever. Eu não sou uma pessoa organizada e não acredito em técnica. Não é assim que funciona. Não dá pra tirar uma horinha por dia pra escrever um livro. Eu preciso de tempo e de energia pra fazer isso. Preciso de ócio. Preciso observar de longe para depois mergulhar dentro de mim mesma por dias a fio. Só então as idéias começam a brotar e os textos rendem. Ou é isso ou esperar por arroubos de inspiração que costumam me acometer em momentos de depressão e desespero, mas que depois da análise se tornaram cada vez mais raros.

Gosto de fazer o que faço hoje. Muito. Assim como eu adorava ser repórter e no entanto, sempre há aquele sensação de não-pertencimento, uma sensação de que eu poderia até ser boa, mas eu nunca seria ótima porque não era aquilo que estava no meu sangue. Eu sentia isso quando era jornalista e sinto de vez em quando em relação à vida acadêmica. E nas duas situações eu sinto que o que me diferencia, o que me dá pra prazer, o que me situa é o fato de escrever bem.

Algumas vezes quando alguém elogia meu texto eu tenho vontade de morrer, porque sinto que a vida está passando e eu ainda estou desperdiçando minha habilidade, esperando pelo dia em que as coisas ocorrerão de maneira mágica. Só que isso não vai acontecer a não ser que eu tome uma decisão e esteja disposta a arcar com as conseqüências. Eu não sou uma pessoa corajosa. Mas devo explicações à menina ia ser escritora quando crescesse.

Existe vida após o mestrado?

Pronto, entreguei. E agora?

P.S. Agradeço à Nossa Senhora Destrancadora de Teses pela graça alcançada.

sexta-feira, 24 de abril de 2009

De mal a pior

Como uma série que começou tão boa pode degringolar a ponto de virar um lixo? Uma não, duas. Foi o que aconteceu com Heroes e é o que está acontecendo com Lost. Impressionante.

terça-feira, 21 de abril de 2009

Ready for the floor

Assim que eu entregar minha dissertação (daqui a uma semana) vou sair pra uma balada e dançar até as 5h da manhã. Hoje eu estava correndo na esteira ouvindo Caos A.D. do Sepultura e de me deu uma vontade de dançar! Sem bebida, sem drogas, só eu, meus amigos e a pista. E muita água mineral. Just dance.

Com a ajuda de Nossa Senhora Destrancadora de Teses eu chegarei lá!

domingo, 19 de abril de 2009

Prendada, mas sem perder o glamour

De vez em quando eu tenho fantasias de que sou uma dona de casa dos anos 50, muito prendada, de salto alto, batom, cabelo no lugar e unhas feitas. Uma cozinheira de mão cheia com uma casa que é um brinco e secretamente alcoólatra. É que a minha fantasia de dona de casa dos anos 50 na verdade é uma fantasia de dona de casa a la Bree Van Der Kamp, a mais "housewife" das Desperate Housewives. Um coisa assim chique, que fica de pileque sem que os outros notem, mulher que sofre dos nervos e desmaia, fina. Nada a ver com ser Amélia, porque nos meus sonhos eu sou essa dona de casa perfeita que nas horas vagas escreve livros. Uma dona de casa intelectual.

Como eu disse, é uma fantasia. Raramente consigo que minha casa fique um brinco e quando isso acontece nunca dura mais do que uma semana, porque eu teria que viver pra cuidar da casa pra que ela estivesse sempre brilhando. E só mesmo em seriado que é possível ser dona de casa exemplar com o cabelo brilhando, de salto alto e aventalzinho. Não há manicure que resista a uma boa pia cheia de louça. Sem falar que eu não sou exatamente uma mulher fina com pileques secretos e desmaios.

Mas eis que esta semana eu consegui chegar um pouquinho perto disso. Pra começar eu descobri a função daquelas luvas amarelas de borracha. Aquilo é um milagre! Quatro dias depois de ir na manicure e nada do meu esmalte descascar. Aí ontem eu aprendi a fazer (leia-se "peguei a receita na internet") um bolo de chocolate vegan e arrasei. Fala sério, tem coisa mais dona de casa prendada do que mulher que faz bolo de chocolate sábado a tarde? Tem. Mulher que faz isso e diz pros amigos "vamos lá em casa comer um pedaço de bolo que eu fiz hoje". Com a unha feita!

Agora só me falta aprender a beber com discrição, controlar os nervos, o avental, o saltinho e arrumar a casa, que por sinal está uma bagunça.

quinta-feira, 16 de abril de 2009

A volta do colete e da calça semi-baggy

Um remake nunca vem impunemente.

Você deve se lembrar dos anos 90. Tinha Nirvana, meninos de cabelo comprido, umas coleiras de veludo toscas que as mocinhas usavam, sainhas escocesas com meia 3/4, Barrados no Baile, Supernintendo, primórdios da Internet e a Copa em que o Brasil foi tetra. Ainda não havia emos, reality shows, RBD ou a banda Calypso. Nem Orkut, fotolog ou celular com camera, o que quer dizer que a fofoca era baseada em boatos, ninguem tinha vídeo pra provar e as situações constrangedoras não ficavam eternamente dispostas no You Tube pra te assombrar anos depois.

Tinha suas vantagens, mas antes que o saudosismo fale mais alto e cegue, cabe lembrar que nesta decada surgiu a Malhação, o Latino ficou famoso, as rádios tocavam Double U e o axé bombava. Atire a primeira pedra quem tem mais de 25 anos e que nunca aprendeu uma coreografia sequer, fosse do tchaco, da dança da tartaruga, do tchan ou do Carrapicho, aquele grupo de músicas de boi de Parintins. E quando o Brasil ganhou a medalha de ouro no vôlei nas olimpíadas de Barcelona comecou uma mania insuportável de fazer rodinhas desse jogo nos pátios e quadras dos colégios. Eu só tinha 12 anos, mas já antipatizava com quase tudo isso.

Pois bem, os anos 90 se foram e aparentemente deixaram saudade. Não pra mim, porque eu era uma adolescente e ser adolescente é um inferno. Mas acho que a geração que cresceu nos anos 80 cansou de fazer revival dessa decada trash e agora que tomou o poder. Os adolescentes dos anos 90 são os trintões de hoje e como resultado vemos um revival ainda pior que das festinhas que tocavam música da Xuxa. Em primeiro lugar, há o remake (pessimo) de Barrados no Baile. E com ele a volta de coisas tenebrosas. Primeiro foi a cintura alta. Já repararam que há pelo menos umas três estações estao tentando ressuscitar a calca centro-peito? Pois é, a má notícia é que não vai parar por aí.

Parece que também estão tentando exumar a calca semi-baggy de barra enrolada (ui!), o jeans com paletó para mulheres e o coletinho (aberto) por cima da camiseta. Lembra do figurino da Brenda do 90210 original? É aquilo ali com lasers. E eu que passei anos pra superar o trauma das minhas calcas semi-baggy de cintura alta enquanto todas as minhas amiguinhas da sétima serie já haviam aderido ao jeans justo de cintura baixa (que eu só fui usar aos 17), tenho que dormir com esse barulho. Há quinze anos eu estaria na vanguarda antecipando as tendências do ano 2009? Quem dera! Eu era apenas uma desajeitada com o modelo errado.

Minha vontade é sair gritando: Parem! Parem! Isso não é cool! . Como eu duvido que alguém vá escutar meus apelos, só me resta esperar que os que têm 20 anos hoje tomem logo o poder e instaurem um regime baseado em linhas retas, cores sóbreas e pouco frufru, tal como a gente via nas passarelas no final dos anos 90 e início dessa década doida e sem identidade que são os anos 2000.

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Vida (quase) vegetariana

Não como carne há três meses. Vários motivos me levaram a essa decisão, mas a verdade é que eu namorava a idéia há anos e nunca tinha tido coragem de colocá-la em prática. É um pouco difícil pra mim esse tipo de coisa, porque vivo sendo acometida por idéias que me deixam um pouco obcecada durante algumas semanas e desaparecem sem deixar vestígios. Dentre a minha coleção de idéias fixas figuram a decisão de ir morar na Inglaterra trabalhando como garçonete, aprender árabe pra me tornar correspondente de guerra, fazer vestibulinho pra Publicidade e me converter ao islamismo.

Provavelmente esta é a razão de eu nunca ter levado essa proposta a sério. Isso e a implicância que eu tinha com os vegetarianos, que me pareciam chatos e arrogantes. Mas eu resolvi deixar isso de lado - porque a gente sempre fica se contendo na vida por causa dos outros - e coloquei em prática. E devo dizer: estou adorando.

Parar de comer carne é como parar de fumar. Eu não sinto maravilhas se operando no meu organismo por ter cortado um hábito, mas fico contente por saber que não me faz falta. Estou experimentando novas receitas e incluindo coisas mais saudáveis na minha alimentação e isso já me deixa satisfeita com essa vida quase vegetariana. Sim, porque vegetariano não come carne de nenhum animal e eu como peixe e frutos do mar, que não pretendo abandonar. Meu amigo Lincoln me diz que é ṕorque se deixar de comer peixe eu perco minha identidade paraense. Mas é mais que isso.

Peixes e frutos do mar não passam pelo processo nojento de produção e abate que carne bovina, suína e de aves passa. Eu não acho errado matar pra comer. Mas não quero comer essa carne cheia de antibióticos e hormônios vendida nos supermercados, isso sem contar as péssimas condições de higiene dos abatedouros. Sim, existem os agrotóxicos, os pesticidas e os transgênicos. Não, não há alimento sem risco. Então, eu prefiro comer o que eu acho que no fim das contas me traz mais benefícios. Basta comparar o aspecto de uma quitanda colorida e cheirosa com o ambiente feio e fétido de um açougue. Já que eu sou paraense, o meu buffet é uma feira de frutas multicolorida, mas com um cheiro (não tão bom) de peixe fresco: o mercado do Ver-o-Peso.

quinta-feira, 9 de abril de 2009

Vício antigo

Depois de meses lendo apenas "coisas sérias" para a minha pesquisa tive um surto leitor e li três livros em menos de duas semanas. Já narrei minhas impressões sobre os dois primeiros abaixo. O último foi Estação Carandiru (que merecia um texto enorme de tão bom que é, mas agora estou com preguiça). Hoje me surpreendi novamente olhando a vitrine do sebo que comprei meus livrinhos. Não sei se isso acontece a você leitor, mas eu tenho um monte de livros bons em casa esperando serem lidos e eu não tenho vontade de ler nenhum deles. Então esse sebo tem saciado minha fome redescoberta. O problema é que agora eu tenho uma dissertação pra terminar. Logo agora que eu lembrei o quão bom é devorar um livro atrás do outro...

terça-feira, 7 de abril de 2009

Betty, a feia

Quando eu cheguei a São Paulo eu usava óculos e tinha um corte de cabelo bisonho, no qual uma franjinha pretensamente indie tinha que ser esticada diariamente com o secador ou presa por faixas de balé ou tic-tacs. Resumindo, eu não fico bem de indie, não tenho o biotipo nem comportamento pra tanto. Morena demais, curvas demais, falante demais e blasé de menos. Não ia dar certo. Seis meses depois eu tomei um pé na bunda, perdi 4 kg, deixei o cabelo crescer e comecei a usar lente de contato. Encontro um amigo no barzinho de perto da PUC e ele me diz, super afetado:

- Marie, o Fulano era um encosto na sua vida! Agora tá magra, esse cabelão... Deixou de ser Betty, a feia!

Eu tinha 24 anos e provavelmente esta foi a época que eu fui mais bonita. Tinha uma vida social intensa, emprego e casos dramáticos. Mas estava tão infeliz que os remedinhos de doido receitados pelo psiquiatra não deram conta e eu tive uma crise depressiva bem séria que me renderam três dias no hospital. Mas isso é outra história que só entra aqui pra dizer o quão frustrante é embarangar justamente no momento em que você começa a se sentir mais feliz e realizado e péra, enfim, de planejar seu suicídio.

Cinco anos depois eu me encontro novamente no papel de Betty, a Feia. Ou como a personagem Gaby Solis, do Desperate Housewives, que era linda e, de repente, quando a série dá um salto no tempo de cinco anos, ela aparece completamente baranga e se perguntando o que aconteceu com a sua aparência. A personagem em questão, interpretada pela bela Eva Longoria, pelo menos teve duas filhas nesse período. Eu, nem isso.

Não sei se foi o mestrado, o namoro seguido de casamento ou se simplesmente o diabo resolveu vir cobrar todos os Big Macs, cervejas, coca-colas e cigarros que constituíram a base da minha alimentação por anos. O fato é que ser feia não é fácil. Eu achava que não ligava pra isso, porque afinal de contas, eu sou inteligente e blablablá. Mas é mentira. Então eu fico aqui deprimida com as roupas que não me servem mais, com o cabelo feio, com as olheiras e as unhas roídas que não vêem manicure há meses pensando se dá pra reverter esse processo tão cruel. Será?