terça-feira, 7 de abril de 2009

Betty, a feia

Quando eu cheguei a São Paulo eu usava óculos e tinha um corte de cabelo bisonho, no qual uma franjinha pretensamente indie tinha que ser esticada diariamente com o secador ou presa por faixas de balé ou tic-tacs. Resumindo, eu não fico bem de indie, não tenho o biotipo nem comportamento pra tanto. Morena demais, curvas demais, falante demais e blasé de menos. Não ia dar certo. Seis meses depois eu tomei um pé na bunda, perdi 4 kg, deixei o cabelo crescer e comecei a usar lente de contato. Encontro um amigo no barzinho de perto da PUC e ele me diz, super afetado:

- Marie, o Fulano era um encosto na sua vida! Agora tá magra, esse cabelão... Deixou de ser Betty, a feia!

Eu tinha 24 anos e provavelmente esta foi a época que eu fui mais bonita. Tinha uma vida social intensa, emprego e casos dramáticos. Mas estava tão infeliz que os remedinhos de doido receitados pelo psiquiatra não deram conta e eu tive uma crise depressiva bem séria que me renderam três dias no hospital. Mas isso é outra história que só entra aqui pra dizer o quão frustrante é embarangar justamente no momento em que você começa a se sentir mais feliz e realizado e péra, enfim, de planejar seu suicídio.

Cinco anos depois eu me encontro novamente no papel de Betty, a Feia. Ou como a personagem Gaby Solis, do Desperate Housewives, que era linda e, de repente, quando a série dá um salto no tempo de cinco anos, ela aparece completamente baranga e se perguntando o que aconteceu com a sua aparência. A personagem em questão, interpretada pela bela Eva Longoria, pelo menos teve duas filhas nesse período. Eu, nem isso.

Não sei se foi o mestrado, o namoro seguido de casamento ou se simplesmente o diabo resolveu vir cobrar todos os Big Macs, cervejas, coca-colas e cigarros que constituíram a base da minha alimentação por anos. O fato é que ser feia não é fácil. Eu achava que não ligava pra isso, porque afinal de contas, eu sou inteligente e blablablá. Mas é mentira. Então eu fico aqui deprimida com as roupas que não me servem mais, com o cabelo feio, com as olheiras e as unhas roídas que não vêem manicure há meses pensando se dá pra reverter esse processo tão cruel. Será?

Um comentário:

John Fletcher disse...

estou tendo exatamente este tipo de crise... quando estou na melhor fase profissional possível, com o mestrado caminhando bem, os negócios tranquilos etc, me sinto na minha pior forma possível. desde a prova do mestrado para cá engordei 10 kilos. estou com minha vaidade lá embaixo. moral da estória: acabei de me matricular na academia e irei começar amanhã. vamos ver se surte efeito.