sábado, 27 de março de 2010

Coisas que eu aprendi com os blogs

Tenho blog desde antes de fazerem tese sobre o assunto. Desde que ter blog era ter Twitter hoje ou seja lá qual a nova moda da Internet. Blog é um meio de publicação. Não é um "diário virtual", como a imprensa babaca os definiu. Depois começou a ter blog de tudo, blog de jornalista para escrever "em off", de "artistas", candidatos, etc, etc.

O meu, como a maioria dos blogs que leio, é um blog pessoal. Falo de mim porque sou a única coisa que conheço bem. Há até uma categoria pra este tipo de blog, que eu pessoalmente acho o fim da picada: chamam-nos de "blogs confessionais". Bem, que blog não é confessional? Talvez os de partidos ou candidatos, porque são mantidos pelos assessores. Fora isso, todos são confessionais, principalmente os de jornalistas metidos a espertinhos e que têm sempre a última palavra a dar sobre tudo.

Enfim, eu tenho blog há anos. E como a gente só aprende as coisas na porrada, eu aprendi que não deveria dar nomes aos bois, que não deveria expor tanto a minha vida, principalmente quando as coisas que conto na Internet envolvem outras pessoas. Mas, principalmente, eu aprendi que quando você tem blog você não tem o menor controle sobre o que escreve. Nem sobre quem lê. Por isso é preciso pensar duas vezes antes de publicar.

Eu aprendi que as pessoas lêem e ficam magoadas. E muitas vezes nem é porque você escreveu algo diretamente pra quem lê, mas que na ânsia de emitir seus juízos implacáveis e sua opinião sarcástica você simplesmente não considerou que um alguém que lhe quer bem poderia se ofender. Algumas pessoas deixam comentários desaforados, outras não dizem nada. Eu tô na fase de não dizer mais nada e simplesmente ficar decepcionada.

quinta-feira, 25 de março de 2010

Quase abril

Estamos quase em abril, não li nenhum livro inteiro até agora porque quando eu não estava deprimida tive que me dividir entre refazer meu projeto, autoescola, visitas hospitalares, entrevistas de emprego que não vingaram e um ou outro surto maníaco porque uma garota precisa de válvulas de escape. Mas uma hora até isso enche o saco.

Eu queria ser uma pessoa constante e produtiva. Cumprir prazos. Chorar quando se tem que chorar e depois seguir em frente. Eu queria não ter a saúde frágil e a cabeça boa pra não ficar doente quando as coisas se complicam. Estou cansada, mas não estou mais deprimida, o que é bom. Mas fica difícil seguir em frente feliz e saltitante quando as coisas estão tão complicadas.

Tem horas que eu queria deixar pra lá esse negócio de fazer doutorado, ir pra congresso, apesar do bem que isso me faz. Simplesmente ir trabalhar o dia inteiro num trabalho que acaba com meu corpo e meu espírito. Não é isso que as pessoas fazem? Elas trabalham, reclamam do chefe e vivem todas a mesma vida. Mas uma vez por ano elas viajam pra lugares bacanas que fazem pessoas duras como eu se roerem de inveja. E elas comem em restaurantes legais e usam roupas bonitas. Por que eu não posso ser feliz assim, como todo mundo? Ah, mas eu nem sei se quem vive assim é feliz mesmo.

Eu queria ser menos implicante e reclamona, ter mais paciência com as pessoas, ser mais gentil, mais generosa e não me incomodar tanto. Mas em geral as pessoas me irritam muito e eu acabo deixando isso transparecer. E algumas vezes me arrependo muito.

Eu muito queria que o meu pai não estivesse doente, porque isso é muito duro pra ele e pra toda a minha família e ninguém deveria morrer assim, aos poucos e com tanta dor. Simplesmente não é justo.

Tem horas que eu queria nunca ter me casado, não porque eu não ame meu marido, porque eu o amo e não sei o que seria de mim sem ele. Porque o problema não é ele, é o casamento, é ter que cuidar de uma casa, um trabalho que nunca termina e que consome tanto tempo e energia.

Por que, Deus, tem que ser tão difícil? Eu tento descomplicar a vida, eu tento não me ocupar de coisas banais, mas como se faz isso quando os seus problemas são sérios? Como eu posso ser otimista diante da falta de dinheiro, da doença do meu pai e da minha própria dificuldade em lidar essas coisas? Há dias que eu queria simplesmente desaparecer. Ou dormir até o ano acabar. 2010. Mais um ano ruim. E ainda nem chegamos em abril.

terça-feira, 9 de março de 2010

A vida salva pelo rock'n'roll

Uma vez ouvi dizer que uma as músicas mais populares em funerais na Inglaterra é Highway to Hell, do AC/DC. Não sei se é verdade, eu adorei. É uma música muito apropriada.

Roqueiro que é roqueiro alguma vez na vida fez pelo menos uma listinha do tipo Alta Fidelidade e nisso entram músicas que possivelmente entrariam no set-list de seu próprio velório. Porque roqueiros muitas vezes são mórbidos e sem nem precisar pensar muito nisso já me vêem na cabeça três canções com suicídio no título (ROck'n'roll Suicide, Suicide Solution, Suicide is Painless), uma banda chamada Suicidal Tendencies e um disco chamado Funeral.

Por isso é óbvio que eu mesma já imaginei que trecho de música escreveria na minha lápide, que diria "...you know, her life was saved by rock'n'roll". Seria um tanto irônico, porque eu estaria morta. Mas o fato é que o rock'n'roll me salvou a vida mesmo. Não sei dizer quantos amores e quantas amizades começaram por causa de conversas sobre bandas. Nem quantas vezes vivi momentos de felicidade intensa porque tocou em uma festa alguma de minhas músicas preferidas ou quantas vezes uma música expressava o que eu sentia muito melhor do que eu poderia elaborar.

Como nessa música do Velvet, da moça que morava numa cidade muito chata e que nada acontecia. Até que um dia ela ouviu uma música muito muito boa e teve sua vida salva pelo rock'n'roll (não imagino ninguém tendo a vida salva pelo samba ou MPB, por exemplo).Como eu já disse algumas vezes, o rock'n'roll contém todas as respostas. Mas você precisa ficar esperto pra saber se vai viver ao som de These Days (da Nico, não do Bon Jovi) ou de Good Vibrations. Atualmente estou numa fase I'll keep with mine. Mas espero voltar a ter uns dias de Rock'n'roll all Night. And party everyday.

quinta-feira, 4 de março de 2010

30 anos esta noite.

Só me lembro de ter ficado ansiosa por um aniversário, o de 17 anos. Desde os 13 achava que 17 seria a idade mais legal de se ter. Era quase 18 e tinha o charme da fronteira com a maioridade e estava a anos luz dos 15, a idade babaca das meninas-moças-debutantes que me provocavam asco. Sabe como é, eu era do rock. Ter 17 anos significava muita coisa: o último ano do colégio, a idade em que passaria no vestibular, iria embora de Macondo e começaria a ser feliz, o que de fato aconteceu.

Um ano antes eu tinha recebido o meu presente de 15 anos, uma viagem para a Europa, coisa que só reforçou a minha certeza que eu não pertencia àquele lugar e que a vida não se resumia a pessoas burras que nunca tinham lido um livro que não fosse por obrigação e cujo sonho da vida era ter um emprego que pagasse o suficiente para poder consumir e ostentar. Então, aos 17 e eu fui embora e só voltei pra fazer visita, mas nunca olhei pra trás em dúvida. Isso me deixa muito satisfeita.

Dez anos depois eu comecei a sonhar com outra idade, a idade que tenho hoje. Em parte deve ter sido o meu desejo de ser do contra, da irritação que me provocava o pânico antecipado de amigos de ambos os sexos diante a chegada dos 30. De modo que meu aniversário de 27 anos se tornou a minha última comemoração de 20 e poucos anos. Depois disso eu comecei a ter quase 30 e quanto mais alguém me perguntava se me assustava por ter quase 30, mas eu comecei a idealizar esse momento.

Comecei a pensar que nesses tempos de adolescência tardia, ter 30 anos representava ser, definitivamente, uma mulher feita. E eu comecei a pensar no que queria fazer aos 30. Estabeleci três metas simples, mas que pra mim eram muita coisa pelo fato de eu finalmente estar começando a saber o que queria da vida. Meus três desejos foram estar no doutorado (missão cumprida!), pesar 56 kg (falta 2kg pra chegar lá) e aprender a dirigir ( o que também está encaminhado). E a partir de agora tomar algumas decisões importantes sobre emprego, carreira acadêmica e família, o que inclui ser mãe. Então hoje eu acordei feliz, como se a vida tivesse acabado de começar.

Reconheço que aos 30 anos não temos mais o mesmo corpo que aos 20 e isso é um saco. Mas precisamos realmente disso? Temos, sim, a vida inteira pela frente porque foi só o primeiro terço dela que se passou (no meu caso, menos, porque eu pretendo viver 111 anos, lúcida e ranzinza; quem viver, verá). Quase tudo na vida é questão de escolha e as pessoas podem se apegar às referências como uma música do Fábio Jr. sobre ter 20 e poucos anos e o esforço inútil de tentar parar o tempo. Da minha parte, prefiro a literatura.

A mulher de 30 anos de Balzac é muito mais interessante que era aos 20, pois se conhece melhor, é mais centrada e mais autêntica. Não é mais ingênua e quer ser feliz. É natural, sábia e serena. Trinta anos é a idade em que Zaratustra subiu para as montanhas para passar uma década se nutrindo de sua sabedoria e sua solidão. É a casa dos 30 que Veríssimo descreve como palco de uma verdadeira festa. E é essa idade que a menina de “De repente, 30” deseja ter: 30 anos, a idade do sucesso.

Cá estou eu.