terça-feira, 10 de novembro de 2009

Ninguém é inocente

Outro dia eu estava num congresso assistindo a um trabalho de um rapaz que estuda memória a respeito do holocausto judeu. Estava tudo indo bem, até que a conversa chegou na visita do presidente do Irã e alguns petardos que, quando eu for imperatriz do mundo, valerão banimento da universidade.

O rapaz disse que não receberia o Ahmadinejad porque ele negava a existência do holocausto. Eu não perguntei, mas me coçou questionar se, seguindo este princípio, se ele não receberia o presidente dos Estados Unidos, afinal de contas, Guantánamo tá aí. Ou se deixaria de receber o Papa, porque ele nega o extermínio dos povos ameríndios, né?

Fora a questão da imensa quantidade de povos que foram exterminados (dos quais ninguém lembra porque não eram brancos e não viviam na Europa, e em termos de memória coletiva isso faz toda a diferença) o moço seguiu com uma série de afirmações puramente preconceituosas, como associar pesssoas que professam a fé islâmica ao nazismo e reduzir as dificuldades da negociação de paz na região a fato de "os judeus sabem disso e não querem".

Seria cômico se não fosse trágico. Porque em tese, não era um tosco que estava falando essas coisas, era uma pessoa dentro de uma universidade, num seminário internacional. A gente espera que nesses ambientes as pessoas sejam minimamente esclarecidas a ponto de saber que numa questão dessas não há inocentes. E olha que nem estávamos na Unibosta. Mas como diz minha amiga Synthia, se a casa grande é assim, o que esperar da senzala?

Outro dia eu assisti a um curso ótimo sobre jornalismo e Oriente Médio promovido pela Confederação Israelita do Brasil e faculdade Cásper Líbero. Todos os palestrantes, de origens variadas, diga-se, foram unânimes em destacar que não há inocentes na questão Israel-Palestina, mas sempre tem um na platéia que tenta fazer que digam o contrário. Isso não faz avançar o debate, apenas reforça preconceitos, faz cada um reafirmar suas posições e pronto.

Essa semana se inicia um ciclo de visitas que começa com o primeiro ministro de Israel, segue com o presidente da Autoridade Palestina e termina com o presidente do Irã. Preparem-se para um festival de asneiras na mídia, nas faculdades ou perto de você.

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