quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

This is the end

Cansei desse blog. Talvez eu faça outro. Ou não.

Bye

sábado, 27 de novembro de 2010

Dadaísmo ortodental

Hoje eu estava caminhando pelo centro quando passei por uma barraquinha do Dia da Prevenção ao Câncer Bucal. Como eu super apóio qualquer ação de combate ao câncer, lá fui eu participar e deixar minha linda boquinha ser examinada. Tudo certinho, até que o rapaz que me examinou solta essa:

- Tudo em ordem, só precisa usar aparelho.

Veja bem, caro leitor. A pessoa quer colaborar com a campanha e ouve um julgamento sobre a irregularidade de sua arcada dentária. E daí que eu tenho dentes tortos? Arcada dentária perfeita é coisa de burguês, rapá!

Ok, eu penso nisso de vez em quando. Mas já tive uma adolescência infernal o suficiente nessa vida, não preciso passar por outra. Daqui a um tempo eu vou querer ter filho. Uma grávida de aparelho me parece uma adolescente encrencada. Não, não dá.

terça-feira, 23 de novembro de 2010

O show do Paul - Parte 2

Fui. Foi lindo. Não tenho muito mais a dizer sobre isso. Apenas algumas observações.

Eu quis chorar quando tocou Something. Eu mesma nunca vi nada de mais nessa música, mas era uma das preferidas do meu pai. Mas no fim eu fiquei contente por estar lá, mesmo pensando que nós devíamos estar vendo aquilo juntos. De alguma forma, estávamos.

Todas as bandinhas indies show-gazzer/blasé deveriam ver o show do velhinho de 68 anos pra aprender como é que se faz um grande show de rock.

Fogos de artifício quando tocou Live and Let Die foram o ponto alto. Isso e quando no fim tocou Helter Skelter. Isso que é rock'n'roll, crianças. Olhem e aprendam.

Eu sempre quis segurar um isqueiro aceso ao som de uma música bonita num estádio. Fiz isso ontem ao som de Let it Be e queimei meu dedo. Mas valeu.

Acabou meu dinheiro para sempre. Mas acho que eu não preciso ver outro show por um bom tempo.

Puta banda. Enxuta e competentíssima. E um baterista que é tão bom e carismático que poderia sair em turnê sozinho porque certamente conquistou muitos fãs.

sábado, 20 de novembro de 2010

A minha lista de intenções

Coisas cotidianas que gostaria de fazer e atitudes que gostaria de ter e que e não faço ou faço só de vez em quando ou apenas planejo e não faço nunca.

- Limpar a pele do rosto diariamente, passar cremes, não dormir maquiada.

- Malhar pelo menos três vezes por semana.

- Parar de comer açúcar e frituras de uma vez por todas. E carne também.

- Beber com moderação.

- Arrumar meu guarda-roupas, meus livros e minha casa.

- Estudar mais, ler mais livros, ler o jornal todos os dias, ver menos televisão e ficar menos na Internet.

- Deixar a decoração da minha casa menos caretinha.

- Fazer mais programas culturais ou simplesmente fazer coisas que não se resumam a comer/beber.

- ser mais namorada do meu marido.

- Falar menos e ser menos transparente porque eu poderia ser muito mais bacana se soubesse calar a boca de vez em quando.

- ser menos ansiosa, impulsiva e ciumenta, egocêntrica

- ser mais organizada e racional.

- Acordar cedo.

- Parar de roer as unhas.

- Não mudar de ideia a o tempo todo.

- Não dormir de lente.

Resumindo, parece que seria melhor se eu fosse outra pessoa.

domingo, 7 de novembro de 2010

Colocar ordem no caos

Eu gostaria de ser uma pessoa mais centrada. Menos passional, mais organizada, com objetivos que não mudam a cada dois meses. Mas eu não sou. A grande sacada quando você tem esse caos todo dentro de si - e que não raro, transborda - é compreender a sua limitação e agir nisso. É muito difícil, é um trabalho para a vida inteira. Mas estamos caminhando.

Estou escrevendo sobre isso porque ultimamente muita coisa tem acontecido e tenho sentido a necessidade de mais equilíbrio e ordem na minha vida. O que é curioso porque passei a pensar nisso justamente num dos períodos mais agitados e boêmios da minha vida. I'm a walking contradiction, já diria o Green Day.

É porque eu entrei no jornal num trabalho temporário e tinha simplesmente deixado pra resolver minha vida depois da eleição. Mas a vida não espera e felizmente eu continuo tendo um emprego numa área que eu realmente gosto e apesar do medo do desconhecido, estou feliz. Então o que preciso fazer agora é aprender a me organizar e existir no meio de tantos afazeres e, como se não fosse suficiente, essa intensidade do capeta que eu tenho por dentro.

A partir dessa semana começa uma fase nova. Isso vai exigir de mim algumas mudanças, mas sinto-me tranquila em relação a isso. Aos poucos eu vou contando.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

O show do Paul

Ou

"Como o minha vida foi salva pelo rock'n'roll"

Há uma música do Velvet Underground que eu nunca canso de citar, singelamente intitulada "Rock'n'roll". Fala sobre uma menina que ainda criança morava numa cidadezinha em que absolutamente nada acontecia. Até que um dia ela ligou o rádio em uma estação de uma metrópole e começou a secudir ao som daquela música incrível. A partir dali a sua vida havia sido salva pelo rock'n'roll. Mas o que aconteceu comigo não foi uma rádio bacana. O que salvou a minha vida foi a vitrola e a coleção de discos do meu pai.

Lembro exatamente do dia em que, aos 10 anos, reparei numa música que meu pai estava escutando e curiosa, fui perguntar o que era. Ele me mostrou a capa do disco. Era Help, dos Beatles. Daí em diante me apaixonei perdidamente. Devorei os discos do meu pai, me empolguei com o curso de inglês que havia começado recentemente porque eu queria cantar certinho, queria entender o que eles falavam.

Os anos passaram e vieram outras bandas e outros amores. Mas meu destino já estava selado. Aos 10 anos de idade minha vida estava salva por aquela música incrível. E se isso parece exagero, imagine o quanto das suas escolhas, amigos e amantes que fazem ou fizeram parte da sua vida não foram fundamentalmente influenciado pelo seu gosto musical. Se você que está lendo isso tem o rock'n'roll no coração entende perfeitamente. Se não tem, não tenho como explicar porque isso é algo que nós, roqueiros, sentimos.

Mas voltemos aos Beatles. Tenho uma mania irritante de tentar dividir o mundo ou categorizar as pessoas de acordo com seus gostos, principalmente musicais. E assim como o mundo se divide entre pessoas que preferem gato ou cachorro, dá pra saber muito sobre o cárater de uma pessoa a partir de que faze dos Beatles ela prefere ou sobre qual é seu Beatle preferido.

O meu pai era romântico, de certa forma ingênuo, coração de manteiga, impetuoso e alegre. O meu pai era Beatles iê-iê-iê e seu Beatle preferido era o Paul. Essa foi apenas uma das muitas de nossas divergências, pois o meu Beatle preferido era o John. Mas nós amávamos os Beatles, assim como amávamos um ao outro e esse era apenas uma das coisas que fazia parte da nossa amizade.

Há pelo menos uns 2 anos começaram rumores de um novo show do Paul em São Paulo. Meu pai já estava doente, mas combinamos de ir mesmo assim. Juntos, na área vip. Não deu tempo. Agora os ingressos estão à venda e eu não sei mais se quero ir.

Sim, é um beatle, há o valor histórico da coisa. E afetivo também, já que sem os Beatles, talvez minha vida fosse outra. Mas há aquela música que fala de pessoas que passam pela vida da gente, pessoas que ainda fazem parte do nosso convívio, outras que se perderam nessas bifurcações que os caminhos da nossa vida tomam. E as pessoas já morreram. É uma música bonita que fala de amor. Mas eu não sei que quero ouvir isso ao vivo. Eu não sei se quero estar lá sem ele.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Estava voltando do trabalho. Desci do ônibus, sinal aberto pros pedestres. Eu poderia ter atravessado direto, mas aí eu provavelmente estaria morta.

Parei para olhar se não vinha carro, mesmo estando na faixa, mesmo com o sinal vermelho pros carros. Eu só senti o vento quando o carro passou voando, sem o menor respeito pelo sinal vermelho, pela faixa de pedestres, por coisa alguma.

Eu xinguei o motorista e em seguida agradeci a Deus, ao meu anjo da guarda, ao meu pai, que tenho certeza que olha muito mais por mim que qualquer outro. Então chorei um pouco, de saudade e de medo. Porque a vida é frágil, porque a vida é curta.

sábado, 2 de outubro de 2010

Coisas que te fazem ganhar o dia

"Fhoutine,

adorei as duas matérias. Seu poder de síntese é fantástico! E olha que eu falo muito...rs O texto é leve, elegante, com a densidade e propriedade equilibradas. Coisa rara na imprensa atual... Obrigado pelo respeito que vc tem pelo pensamento de seus interlocutores".

Recebi essas palavras de um colega cientista político que entrevistei duas vezes para falar das eleições. Fiquei emocionada e torço pra que isso seja uma predição de sucesso nesse negócio. Há alguns anos eu havia deixado o jornalismo e isso sempre foi uma coisa que ficou mal resolvida pra mim. Agora estou de volta e descobri que gosto. Foi difícil, estou tendo que aprender tudo de novo, com uma sensação de estar 10 anos atrasada, mas ao mesmo tempo com uma empolgação de recém-formado. Uma foca de 30 anos.

Essa experiência tem me feito repensar muitas coisas sobre mim e sobre o que quero da vida. Não sei qual vai ser meu futuro nisso. Mas espero que dê certo dessa vez.

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Quer perder peso? Pergunte-me como!

Não existe receita mágica pra emagrecer. Ah, jura? Pois é. Parece lugar-comum, mas quando comento que perdi 8 kg recentemente várias pessoas me perguntam o que eu fiz, como se esperassem uma fórmula milagrosa. Juro que penso em dizer que estou nos transtornos alimentares ou que estou fazendo a dieta Kate Moss (alimentos em pó). Quando respondo que fiz o que funciona, exercício e reeducação alimentar noto uma certa decepção. Não raro, alguns dizem “Bem, todo mundo sabe o que fazer pra perder peso...”. Mentira! Se fosse simples assim todo mundo seria magro. A gente está saturado de besteira que ouve dos outros e lê por aí. Quem nunca achou que os carboidratos são o terror de quem quer emagrecer? Ou acha que deve passar fome e cortar qualquer pecadinho se quiser manter a forma? Ou mandou ver no azeite porque dizem que ajuda a perder barriga e combate o colesterol?

Este texto contém algumas dicas que podem ser úteis nesse processo, coisas que eu aprendi com a minha experiência.

1- Não, você não sabe tudo.

Comer direito é simples, sim, mas a gente tem que saber combinar quantidades e qualidades dos alimentos. Eu aprendi isso com a minha nutricionista. Aprendi que não só posso, como devo comer carboidratos ao longo de todo o dia, inclusive à noite. Que alguns alimentos como as leguminosas (feijão, lentilha, grão de bico) são riquíssimos em nutrientes e normalmente ficam de fora das dietas tradicionais, mas devem ser consumidos em quantidades específicas. Que peito de peru não é necessariamente a coisa mais saudável do mundo. Que frutas devem ser ingeridas, sim, mas nas quantidades e horários certos.

Enfim, o mais legal de fazer um acompanhamento nutricional é a dieta é montade de acordo com o seu dia-a-dia, com as suas necessidades nutricionais e vai variar se você faz exercícios ou não, o que faz, quanto faz, como é a sua rotina. E saber se perdeu gordura, ganhou músculo. Saber que as medidas estão diminuindo é mara!

Não sei porque algumas pessoas têm resistência a isso. Você não vai à manicure porque fica melhor do que quando faz as unhas em casa sozinha? É a mesma coisa. Vale muito a pena e nem é tão caro. Porque ser magra não tem preço.


2- A comida do mundo não vai acabar hoje.

Acho que esse é o principal desafio, saber que não é preciso comer igual um animal só porque há comida disponível. Mas é isso que você precisa fazer se quiser se manter magra. Aniversário? Natal? Casamento? Bocas-livres em geral? Você não precisa comer tudo o que está sendo servido! Lembre-se, isso é coisa de gordo. Escolha um prato e uma sobremesa. Pronto. Outro dia você prova as outras coisas. Na formatura dos meus irmãos optei por beber. Muito. Por isso apenas jantei e dispensei todo o bufê de sobremesas. Havia vários pratos salgados, mas eu optei por um e não repeti.

O que não dá é pra pensar “já que estou aqui vou meter o pé na jaca logo”. Não! Pára com isso, sua gorda! Quer comer um doce? Escolhe um e manera na quantidade. Não é fácil, mas uma hora você se acostuma.

3- Não coma isso!

Comer é bom e eu gosto. De vez em quando me jogo em num bom risoto, um filé suculento ou uma bela massa. E um docinho também, porque eu sou filha de Deus. Já que é pra engordar, que valha a pena. Não vá sair da dieta com fritura, salgadinhos industrializados, se entupindo de amendoim ou azeitona ou tomando refrigerante com açúcar. E por favor, não coma McDonalds. Você não é mais criança, pelo amor de Deus! Se você gosta de hambúrguer vá a uma lanchonete decente que faz sanduíches de carne de verdade. E passe longe das batatas fritas! Não valem a pena.

4– Não minta pra si mesma.

O último mandamento da mulher magra é o mais importante. Você precisa conhecer até onde vão seus limites e se conhecer muito bem, senão nada disso vai dar certo. Eu poderia estar mais magra se não gostasse tanto de tomar cerveja. Mas faz parte da minha rotina, então encontro mecanismos pra não deixar que arruíne meu regime, o que acaba significando comer um pouco menos. Da mesma forma, quando estou indo bastante na academia, aproveito pra comer um pouco mais. Não adianta ficar beliscando o tempo todo e achar que a dieta não funciona. Ou entrar na tática do vou comer só mais um pedacinho e achar que isso não terá consequências no seu regime. Abusou? Reconheça e recomece.

terça-feira, 31 de agosto de 2010

Amigos primeiro

Hoje eu vi o ex-namorado de uma amiga numa pauta. Tava diferente, vestido de um jeito engomadinho, roupa de trabalho. Mas era ele. O cara que partiu o coração da minha amiga. Logo, não gosto dele. Estava torcendo pra que ele me cumprimentasse, que dissesse "Oi, lembra de mim?" porque eu ia responder "Eu sei quem você é, palhaço".

Ok, talvez eu não arrematasse a frase com "palhaço", eu só queria que ele sentisse o meu desprezo. Mas ele, antipático como sempre foi, fingiu que não me conhecia. Minha amiga se livrou de uma boa. Também queria ter dito isso a ele. Contive-me. Ultimamente eu ando assim, contida. Mas continuo ficando com raiva de qualquer pessoa que parte o coração de quem eu amo.

Eu não sou uma pessoa racional, que separa as coisas, diplomática. Eu me envolvo, tomo partido, amo apaixonadamente e, obviamente meus amigos estão aí incluídos. Isso significa virar a cara pro ex da amiga, ficar puta com quem deu um pé no meu amigo e ser parcial mesmo. Amigos primeiro. Sempre. . E os meus podem contar comigo pra tudo, inclusive pra xingar seus ex.

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Carta ao pai

Papai querido,

Hoje faz 3 meses que você partiu. Tantas coisas aconteceram desde então e todos nós sentimos tanta saudade. Álvaro e Pauline se formaram na semana passada. Foi muito emocionante e sabemos o quanto o senhor teria ficado orgulhoso com seus dois filhos médicos, que não caberia em si tanta alegria. Posso imaginá-lo dando pulos de alegria e dançando sozinho, como fazia quando estava bem contente.

Mudei de emprego, voltei a trabalhar como repórter e estou feliz. Estou cobrindo política. . Eu nunca te disse isso, mas provavelmente foi por sua causa que eu comecei a gostar dessas coisas. Fico imaginando como seria chegar no apartamento depois de vir de uma pauta e comentar as notícias da campanha eleitoral e sinto muita saudade.

Quando o senhor se foi várias pessoas tentaram me consolar dizendo que o senhor está bem agora. Eu tento acreditar nisso porque você tinha muita fé. Então eu espero de verdade que depois da morte todo mundo tenha o céu que imaginou e que você esteja agora correndo com o Toby e o Zara, que tenha abraçado a vovó, a sua irmã e que esteja perto de Deus. A única coisa que eu sei é que quando você se foi acabou o sofrimento, que era demais pra suportar. Isso sim é algo que conforta.

Estamos tocando a vida. Um dia de cada vez. Já não dói tanto, mas desconfio que vai doer sempre. É difícil aceitar que nunca mais vamos conversar, que eu não vou mais te ver rindo ou reclamando dos livros que eu te roubava. E é incrível como as desavenças, que não foram poucas, desaparecem da memória, que reaviva só o que importa. Quando entravas no nosso quarto à noite para nos cobrir e rezar pra que Deus nos protegesse. Teus filhos vão bem, pode ficar tranquilo. E pode ter certeza que nunca vamos te esquecer.

Da filha que te ama,

Fhoutine

domingo, 1 de agosto de 2010

Porque amanhã é segunda-feira

* Manter a dieta rigorosamente nos próximos 15 dias. (Vai ser difícil porque vou viajar e adoro café da manhã de hotel. E tem a cerveja também, porque afinal, esse é um dos propósitos dos congressos. Ai, Deus.)

* Praticar atividade física 4x por semana. (Tenho ido só 2 ou 3 vezes. Tenho trabalhando tanto, vivo tão cansada... Ai, Deus.)

* Não ter preguiça de tirar a maquiagem e limpar o rosto antes de dormir.

* Não dormir de lente.

* Marcar consulta na dermato. (Ela vai querer que eu pare de tomar sol e eu não vou obedecer, igual não obedeci a nutri que queria que eu parasse de beber. Ai, Deus).

sexta-feira, 9 de julho de 2010

12 anos

Outro dia eu estava na academia quando ouvi o instrutor comentar, horrizado, a respeito da conversa das menininhas de 12 anos que frequentam o local. Segundo ele, as meninas só falavam de roupas, cabelo, da casa que o pai tinha na praia e em como elas iriam arrasar. Fiquei pensando em como eu era aos 12 anos: super interessada em política por causa do Impeachment, melhor aluna em Português e História, o ano em que fiz o meu primeiro jornalzinho no colégio. Eu obviamente não arrasava. Ao invés disso ficava escrevendo versinhos pra meninos da escola que nunca me olharam na cara.

Foi nessa época que comecei a pensar na profissão que tenho hoje, o que me faz pensar que se não fosse o ano de 1992, talvez hoje eu fosse uma advogada, como queria meu pai, e a essa hora estaria usando lindas bolsas e sapatos caros ao invés de ganhar pouco e sacolejar em todo o sistema de transporte público de São Paulo durante 2h pra ir trabalhar nem teria uma dívida gigantesca com a faculdade em que faço doutorado.

Corta pra 2004, o ano que não terminou. O ano em que meu pai infartou, que fiquei seriamente deprimida e que não sabia se queria continuar morando em São Paulo ou mesmo sendo jornalista. Pedi demissão do jornal que trabalhava pra ir pra Belém colocar a cabeça no lugar e entre uma coisa e outra, me apaixonei pelo homem que hoje é meu marido. De lá pra cá "abandonei" o jornalismo, fiz mestrado, análise, me casei, meu pai ficou doente.

Seis anos, finalmente o ano de 2004 começa a ter um desfecho. Meu pai se foi, mas consegui lidar com isso sem enlouquecer. A questão do jornalismo, que nunca ficou muito bem resolvida na minha cabeça agora está mais clara: não gosto de assessoria e espero não ter que fazer isso de novo. Mas, ironia do destino, redescobri que gosto de redação justamente voltando ao jornal de onde pedi demissão em 2004. O mais espantoso é que sento exatamente no mesmo lugar que antes.

Desde que vim pra São Paulo minha vida deu muitas voltas. Eu cheguei aqui e entrei no curso de treinamento de um dos maiores jornais do país, achei que seria uma super jornalista e pouco tempo depois não queria mais saber disso pra me dedicar à vida acadêmica. Mas eu nunca soube com certeza se esta era uma decisão consciente ou se era porque eu não tinha conseguido ser bem sucedida nesse meio por causa do meu imenso desequilíbrio emocional.

Como eu tenho muita imaginação, sempre pensava que se "Eu aos 24" encontrasse "Comigo aos 30" provavelmente me acusaria de ter arruinado a sua vida e diria "Olha pra você nessa vida careta!". Levou algum tempo pra perceber que era "Eu aos 30" que deveria perdoar a menina de 24 anos que estava perdida de mais pra se dar conta de tudo que estava acontecendo naqueles dias. Como nessas coisas que se vêem nos filmes, tive uma rara oportunidade de recomeço que espero ter estrutura o suficiente pra aproveitar.

E quando penso em tudo isso, em mim fazendo doutorado, cobrindo política, casada, com meus gatos, me dando bem com a minha família de sangue e minha família adquirida, cheia de amigos, sendo feliz, só me ocorre que aquela menina de 12 anos ficaria bem satisfeita se me visse hoje.

terça-feira, 8 de junho de 2010

Do samba e do amor

Meu pai era do samba. Bastava ouvir um repique, mesmo na televisão, que se assanhava todo. Fundou blocos de ruas quando era novo e enquanto teve saúde, saía na bateria da sua escola do coração, os Piratas da Batucada, mais conhecida como "Piratão". Ele tocava tarol. Lá ele era o Paulão da Caixa.

Domingo, quando voltava do enterro, eu pensei que o velório do meu pai tinha sido como a despedida do Bené, no filme Cidade de Deus. Porque não faltou ninguém: os parentes, os libaneses, os engravatados, os colegas de juventude, o povo da igreja e, como diz minha mãe, os cachaceiros. Levaram a bandeira do bloco que meu pai ajudou a fundar, que depois virou escola de samba (da qual ele chegou a ser presidente, pro mais completo desespero da minha mãe, que dizia que daqui a pouco ele ia virar bicheiro). E claro, a bandeira do Piratão.

Meu tio, primo-irmão, companheiro de samba e de cachaça, veio me pedir pra colocar as bandeiras sobre o caixão. Foi então que eu tive a melhor idéia dos últimos tempos: convocar uma batucada pro enterro. Queria que meu pai descesse ao túmulo ao som do que ele amava. Porque apesar da depressão dos últimos anos, meu pai não era uma pessoa triste, ele era alegre e era assim que queria me despedir dele.

Pena que só pensei isso pouco antes do carro fúnebre chegar e não deu tempo de reunir a bateria. Mas isso fez minha mãe e meus irmãos sorrirem. No carro, a caminho pro cemitério, eu cantei pra eles "É melhor ser alegre que ser triste, a alegria é a melhor coisa que existe, assim como a luz do coração". E depois chorei, porque era meu pai que estava sendo enterrado, porque eu nunca mais vou vê-lo tocar sua caixa imaginária quando anunciarem o carnaval. E também porque como disse o Vinícius, "pra fazer um samba com beleza é preciso um bocado de tristeza, senão não se faz um samba, não".

sexta-feira, 4 de junho de 2010

Isso é coisa que se pense numa hora dessas?

No meio da semana passada meu irmão e eu estávamos conversando via MSN quando ele comentou uma cena do Watchmen, em que em um enterro toca "The sound of silence", do Simon and Garfunkel. Ele ficou triste porque pensou no papai. Eu cantarolei a parte que diz "silence like a cancer grows". Meu pai, que estava na sala, me olhou e sorriu. Ele gostava muito dessa canção. Foi a primeira música que ouvi após chegar na minha casa no dia seguinte à sua morte. E foi a música que eu e meu irmão ouvimos no carro, voltando do enterro.

***

No caminho pro hospital, depois da minha mãe ligar dizendo que meu pai tinha tido hemorragia e de ter me olhado no espelho perguntando a mim mesma o que vestir quando parte da vida que você conheceu está prestes a mudar completamente, eu coloquei meu MP3 player na música do Julian Casablancas que falava "forgive them, even if they are not sorry". Na calçada do hospital estava tocando "Viva la Vida", do Coldplay. E pouco antes do meu pai morrer, eu estava escutando Weezer. Keep Fishing.

***

Quando meus amigos chegaram no hospital eu disse que nunca mais vou poder ver "As Invasões Bárbaras". Pensei em muitos filmes que tratam de câncer, família e morte. "Viagem a Darjeeling", "A Partida" e "Os Excêntricos Tenenbaums", que é um dos meus filmes preferidos. Há anos eu e um amigo nos referíamos a meu pai como "Royal", nome do pai dos Tenenbaums. Uma vez ele assistiu ao filme e gostou. Disse que lembrou da nosssa família.

***

Eu acho que ele pensou nisso também quando leu "A Metamorfose". No livro dele estava grifado um trecho do fim, em que o Gregor Samsa, prestes a morrer, "pensava na família com saudade e com amor".



A cultura pop, com seus excessos de referências, nos tirou a capacidade de pensar/sentir por conta própria.

segunda-feira, 31 de maio de 2010

O post que eu queria nunca ter que escrever

Meu pai morreu ontem. Depois de três anos lutando contra o câncer, ele se foi. Apesar de ter estado lá quando aconteceu, de ter segurado a mão dele, ainda é difícil de acreditar que eu vivo num mundo em que meu pai não existe mais. Apesar disso, meu coração está tranquilo porque ele se foi rápidamente e sem sentir dor, que o sofrimento dele acabou. E porque nessas últimas semanas meu pai foi muito feliz.

No fundo, a família se preparou para este momento desde que ele começou a ter recidivas. Em fevereiro ele recebeu o diagnóstico definitivo, que a doença havia avançado muito, que não havia mais tratamento possível, que teria poucos meses de vida. Ele queria viver pelo menos pra assistir à formatura dos meus irmãos, que será em agosto. Não deu tempo. Mas esteve com eles há uma semana pra apresentação do TCC. Nas fotos vejo o quanto ele estava feliz e orgulhoso.

Eu tinha esperanças que ele aguentasse. Porque ele não tinha aparência de doente terminal, ele sempre foi um homem forte. Poucos minutos antes do fim ele estava sorrindo e sereno. Foi em paz, tenho certeza.

A doença do meu pai foi terrível para toda minha família. Mas foi uma oportunidade de aprendizado (e eu não digo que teve um lado bom, porque não há absolutamtente nada de bom quando se trata de câncer). Pra mim isso veio no amadurecimento forçado, na percepção das coisas que muda. Parar de me importar com coisas pequenas, valorizar mais as pessoas e os momentos que teho com elas. Meu pai e eu tivemos um relacionamento difícil por vários anos, por vários motivos que não importam mais, mas principalmente porque éramos muito parecidos. Nos últimos anos a gente teve a oportunidade de se entender e eu não sei dizer o quanto sou grata por isso ter acontecido.

Meu pai morreu ontem. Mas antes dele ir embora eu pude dizer a ele em várias vezes que o amava e ouvi isso dele muitas vezes também. Por isso meu coração está em tranquilo, apesar da tristeza e da saudade. Eu tenho minha mãe e meus irmãos pra cuidar agora. E tenho muitas pessoas queridas que, perto ou longe, tÊm me confortado nessa hora difícil. Minha família, meus amigos, meu marido. I'll get by with a little help from friends. Obrigada por tudo, amo vocês.

(Adeus, papai)

sábado, 29 de maio de 2010

Magra outra vez

Seis meses de reeducação alimentar. O resultado é visível, além dos quilos a menos, do meu rosto ter afinado, passei do manequim 42 pro 38 (e cheguei a comprar duas calças jeans 36). Não sei nem por onde começar a dizer o quanto é bom estar magra de novo, não ter mais que trocar de roupa mil vezes porque nada ficava bem. A verdade é que eu estou me achando, rs. Os números abaixo me dão razão.

Peso inicial (11/11/09)
64,40 kg

Peso atual (29/05/10)
56,50 kg

% de Gordura
Em 11/11 - 33,55
HOje - 26,94

Circunferência do abdômem
Antes - 88 cm
Depois - 79 cm

Circunferência da cintura
Antes - 74,5 cm
Depois - 68,5 cm

Quadril
Antes - 103 cm
Depois - 97,5 cm

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Happy weekend

Sábado, 6h50. Deixo meus gatos entrarem no quarto e durmo mais um pouquinho na companhia desses seres tão quentinhos e macios. Aula de direção. Ah, como estou adorando dirigir. Depois, ioga. Cheguei atrasada no primeiro dia, que mico! Será que o professor entenderia se eu dissesse que demorei porque estava tirando meu gatinho do telhado? Melhor ficar quieta e relaxar... Uau, como eu pude passar a vida sem isso? Simplesmente adorei.

Almoço em casa, manicure às 13h. Eu já contei o quanto gosto de fazer as unhas? Dos pequenos prazeres cotidianos, esse é um dos meus favoritos. Depois, assistir Lost no sofá, na companhia dos meus bichanos. E uma sonequinha. Daí sair pra cuidar da vida, pegar as calças que deixei na costureira semana passada, comprar lentes de contato novas porque usar óculos durante uma semana inteira me deixou com o nariz marcado. Comprei uma wet legging, dessas que exigem um corpo com tudo em cima. E encontrei as botas perfeitas. Então eu tive que sair pra levar minhas botas pra dançar.

Amigos queridos, muita risada, música boa e cerveja, muita cerveja. Divirto-me como não fazia há anos e durmo com o dia nascendo. Mas dormir é para os fracos, então eu levanto às 10h30 e venho pra casa. E, acreditem se quiser, vou pra academia.

Sim, porque depois teve uma festinha de aniversário de criança e eu não conseguiria ficar longe dos brigadeiros. Nada como um aniversário de criança pra repensar se você quer mesmo ter filhos. E sabe de uma coisa? Não só quero, como descobri que sou ótima com crianças.

Espero cantar parabéns e volto cedo pra casa. Soneca no sofá com os gatinhos. Gatos e sono foram feitos um para o outro. Quem sou eu pra contrariar? Depois, um pouco de televisão, arrumar as coisas pra segunda. É, já acabou. Mas semana que vem tem mais.

domingo, 2 de maio de 2010

Woody Allen

Ele é arrogante, egocêntrico, paranóico, obcecado, misantropo, repetitivo. E genial. Fica fácil saber porque eu gosto tanto de Woody Allen: eu me vejo em seus filmes. Porque eu também sou tudo isso. Eu também faço análise, também reclamo de tudo, também sou irritantemente tagarela, também adoro cidades grandes, também giro em torno das mesmas idéias que sempre falam de mim mesma, também sou pessimista de um jeito engraçado, cheia de manias, metida, dramática.

Hoje assisti Whatever Works (que no Brasil ganhou o péssimo título "Tudo pode dar certo"). Depois de Vicky Cristina Barcelona pensei que seu próximo filme fatalmente me decepcionaria. Até parece. Um filme do Woody Allen é sempre um filme do Woody Allen e eu sempre gosto. Porque as piadas são ótimas, porque me reconheço no seu mau humor e no caso particular deste último filme, porque dá essa sensação de que tudo bem você ser uma pessoa super rabugenta que se irrita com tudo e prefere passar a maior parte do tempo sozinho. Sempre há alguém que vai gostar de você, apesar de tudo isso. Talvez até por causa de tudo isso. Whatever works.

sábado, 1 de maio de 2010

Bipolar disorder: off

Essa semana saiu meu salário. Minha irmã tinha razão quando disse que eu me sentiria melhor a respeito do meu trabalho quando o cheque caísse na conta. Apesar de não gostar do que faço na maior parte do tempo, de vez em quando eu me divirto. Tem dias que as coisas estão mais leves, ou então sou eu, que estou mais suave. Provavelmente é isso.

Encontrei amigos queridas, acho que estou fazendo amigos novos, falei pela internet com amigos que estão longe.

Comi um super de risoto de camarão. Se for pra engordar, que valha a pena. Mas soube que estou a apenas 2kg do meu objetivo. Já foram 6kg desde que comecei a emagrecer e é muito bom me olhar no espelho e me achar bonita de novo. Mas não é só isso. Eu tenho me sentido inteligente de novo e isso está me incentivando a buscar coisas novas.

Meu marido ligou. Só nos falamos uma vez por semana quando ele fica nessa aldeia. O que eu mais sinto falta é de conversar com ele. Por isso quando ele liga eu fico mais feliz.

Meu pai viajou pra andar na praia molhar os pés no mar. E isso é tão bonito que eu tenho vontade de chorar. Essa semana ele estava feliz e isso acalma o meu coração. Eu ainda não sei lidar com o fato de que ele não vai estar por aqui por muito tempo. Acho que nunca se está preparado pra isso. Quando ele fica contente eu esqueço um pouco, porque é bom ver que há coisas na vida que não são dores excruciantes, morte iminente, depressão. Existe uma alegria nas coisas simples, há alegria na vida, mas nem sempre conseguimos percebê-la. Eu e meu pai somos muito parecidos nisso. Mas de vez em quando acontece e é bom.

Vi filmes, fiz as unhas, afaguei meus gatos. Sinto-me feliz e grata pela vida. Eu não sei se isso é efeito da minha condição bipolar. Parece que periodicamente eu sou invadida por uma enorme lucidez e isso me dá uma sensação enorme de paz. Os problemas da semana passada ainda existem, mas de alguma forma eles não me machucam tanto e parecem bem menores. Ah, Deus, como eu queria ser assim o tempo todo.

Seria um consolo pensar que essa sensação sempre chega e que ao invés de me desesperar, eu poderia simplesmente sentar e esperar. Quem dera se fosse simples assim! Quem dera se nos dias infernais as dores não fossem tão intensas e meu desejo de destruição não fosse tão intenso. Mas eu não vou me apavorar agora pensando que assim como esses dias de luz sempre vêm, virão as nuvens negras. Não. Eu vou lá fora viver, a despeito dessa gripe que quer me derrubar. Tchau.

sábado, 24 de abril de 2010

Funciona assim

Já imaginou como seria bom se as pessoas viessem com manual? O que fazer pra que funcionem melhor, pra que não travem e o que fazer quando dão pequenos defeitos.
No meu manual viria escrito assim, logo no começo: cuidado, frágil. É, porque eu tento ser durona e consigo me segurar em situações difíceis. Mas o fato de você não se afogar enquanto está nadando no meio da merda não é vantagem. Você faz o que precisa para continuar vivo, mas o caos continua lá. Eu fico magoada facilmente e guardo. É um horror, eu sei. Antes eu gritava com as pessoas. Hoje fico quieta e sumo. Cuidado, frágil.

Eu acrescentaria uma etiqueta de produto inflamável. Para o bem e para o mal. Quer uma companhia animada, rock'n'roll all night and party everyday? Fale comigo. Quer conversar horas e horas, dar risada, tomar cerveja? I'm the woman for the job. Chorar no ombro? Manda. Mas do mesmo jeito que vou ao céu desço ao inferno e esse é o preço que tenho que pagar por viver nessa explosão constante. Minha energia simplesmente acaba e eu demoro mesmo pra voltar. É uma merda e não tem jeito, a única coisa que dá pra fazer é controle de danos.

Acho que a pior parte de ser assim é a dificuldade muito enxergar as coisas com clareza. Dificilmente vejo as coisas em tons suaves. A maior parte do tempo é tudo vibrante, maravilhoso ou terrível, poucos chances pra meio termo. E quando o meio termo vem eu me entedio. Então uma pequena contrariedade na hora parece um ódio mortal, algo triste me deixa deprimida por semanas e e desentendimentos normais de qualquer relacionamento parecem insolúveis. Sem falar na minha impaciência, intolerância e no ciúme que sinto de todos com todo mundo, incluindo meus amigos. Principalmente dos meus amigos.

Por isso que eu evito as pessoas. De uma lado eu não sei lidar com elas e de outro, acho que a maioria não está preparada para lidar com toda essa intensidade, essa coisa que parece uma força da natureza. Lembro que a primeira vez que surtei diante do meu marido (que na época era namorado), um amigo disse: "vamos ver se ele aguenta o tranco porque você não é para os fracos". Ele aguentou. Mas de vez em quando respira fundo e diz: você é difícil. E ele tem razão. Daí o último aviso que viria na minha bula: inadequada para principiantes. Mas tem que encare. Rá!

domingo, 18 de abril de 2010

Girl on wheels

Esse negócio de independência é esquisito e novo pra mim. Levei mais de dois anos de divã para aceitar o fato de que eu sou mimada, sim. E foi só depois disso que comecei a experimentar a tal da independência, em doses homeopáticas. Acho que posso me acostumar com isso.

Meu analista sempre insistiu que eu aprendesse a dirigir (isso já faz quase 4 anos!), como uma metáfora de tomar as rédeas da própria vida. Mas eu enrolava. Depois vi que isso também ajudava a entender o meu modo de levar a vida: prefiro que alguém guie por mim, mesmo que por vezes eu imaginasse como seria legal se eu estivesse por trás do volante.

Aí eu fiz uma promessa de ano novo. Na primeira semana de 2010 disse a um grupo de amigos muitos queridos: esse ano eu vou arranjar um emprego. E vou aprender a dirigir também. Aí chega abril e eu já cumpri praticamente todas as minhas promessas de ano novo. Falta 2 kg pra chegar no peso que quero. O resto já foi.

Ontem eu fui a uma festa sozinha. Não conhecia ninguém, fora o pessoal da banda. Não tinha carona, não tinha combinado de encontrar ninguém lá. Isso é muito novo, mas acho que consigo lidar com isso. Já estou acostumada a ficar sozinha. Falta aprender a ser feliz assim.

domingo, 4 de abril de 2010

Filmes do feriado

Guerra ao Terror - filme interessante, apesar de ser meio chatinho. Gostei da idéia da guerra ora como vício, ora como videogame. Lembrou clássica inversão da frase de Clausewitz feita por Foucault: a política é a guerra continuada por outros meios. Gostei.

Amor sem Escalas - O título em português é péssimo e eu confesso que não me entusiasma ver um filme estrelado pelo George Clooney (sim, ele continua um gato, mas é muito canastrão). Contudo, me surpreendeu. Eu gosto desses filmes de mundo coorporativo, da crise do capitalismo vista de dentro, das consequências humanas disso, da alienação do trabalho de um sujeito que não liga a mínimo de estar a serviço do lado negro da força. Lembrei bastante de Richard Sennett. Bom filme, recomendo.

A Teta Assustada - Nos 10 primeiros minutos parece que se trata de um bom filme, mas depois é um tédio só que se arrasta até a última cena (que é bonitinha, mas aí eu já estava de bode do filme quando ela veio). Aparentemente é um filme sobre como lidar com o trauma, uma mulher que só consegue se expressar pela música, tem umas coisas interessantes como a indústria de casamentos das periferias (aliás, é o que se salva no filme). Mas o que se vê mesmo é um dramalhão mostrando o quanto os pobres são coitadinhos-porém-alegres-e-fortes e como a protagonista é sofrida. Tenha santa paciência.

A Fita Branca - De vez em quando um filme é mesmo tudo aquilo que estão falando. Pois é exatamente isso. Altamente recomendado. Pra mim foi inevitável não pensar em "Os Incompreendidos" do Truffaut (que pra mim é o filme mais lindo do mundo). Só que de um jeito evil. Ou melhor, de um jeito Haneke.

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Agora eu vou "pranchar" meu cabelo porque amanhã é o meu primeiro dia no meu novo emprego.

sábado, 27 de março de 2010

Coisas que eu aprendi com os blogs

Tenho blog desde antes de fazerem tese sobre o assunto. Desde que ter blog era ter Twitter hoje ou seja lá qual a nova moda da Internet. Blog é um meio de publicação. Não é um "diário virtual", como a imprensa babaca os definiu. Depois começou a ter blog de tudo, blog de jornalista para escrever "em off", de "artistas", candidatos, etc, etc.

O meu, como a maioria dos blogs que leio, é um blog pessoal. Falo de mim porque sou a única coisa que conheço bem. Há até uma categoria pra este tipo de blog, que eu pessoalmente acho o fim da picada: chamam-nos de "blogs confessionais". Bem, que blog não é confessional? Talvez os de partidos ou candidatos, porque são mantidos pelos assessores. Fora isso, todos são confessionais, principalmente os de jornalistas metidos a espertinhos e que têm sempre a última palavra a dar sobre tudo.

Enfim, eu tenho blog há anos. E como a gente só aprende as coisas na porrada, eu aprendi que não deveria dar nomes aos bois, que não deveria expor tanto a minha vida, principalmente quando as coisas que conto na Internet envolvem outras pessoas. Mas, principalmente, eu aprendi que quando você tem blog você não tem o menor controle sobre o que escreve. Nem sobre quem lê. Por isso é preciso pensar duas vezes antes de publicar.

Eu aprendi que as pessoas lêem e ficam magoadas. E muitas vezes nem é porque você escreveu algo diretamente pra quem lê, mas que na ânsia de emitir seus juízos implacáveis e sua opinião sarcástica você simplesmente não considerou que um alguém que lhe quer bem poderia se ofender. Algumas pessoas deixam comentários desaforados, outras não dizem nada. Eu tô na fase de não dizer mais nada e simplesmente ficar decepcionada.

quinta-feira, 25 de março de 2010

Quase abril

Estamos quase em abril, não li nenhum livro inteiro até agora porque quando eu não estava deprimida tive que me dividir entre refazer meu projeto, autoescola, visitas hospitalares, entrevistas de emprego que não vingaram e um ou outro surto maníaco porque uma garota precisa de válvulas de escape. Mas uma hora até isso enche o saco.

Eu queria ser uma pessoa constante e produtiva. Cumprir prazos. Chorar quando se tem que chorar e depois seguir em frente. Eu queria não ter a saúde frágil e a cabeça boa pra não ficar doente quando as coisas se complicam. Estou cansada, mas não estou mais deprimida, o que é bom. Mas fica difícil seguir em frente feliz e saltitante quando as coisas estão tão complicadas.

Tem horas que eu queria deixar pra lá esse negócio de fazer doutorado, ir pra congresso, apesar do bem que isso me faz. Simplesmente ir trabalhar o dia inteiro num trabalho que acaba com meu corpo e meu espírito. Não é isso que as pessoas fazem? Elas trabalham, reclamam do chefe e vivem todas a mesma vida. Mas uma vez por ano elas viajam pra lugares bacanas que fazem pessoas duras como eu se roerem de inveja. E elas comem em restaurantes legais e usam roupas bonitas. Por que eu não posso ser feliz assim, como todo mundo? Ah, mas eu nem sei se quem vive assim é feliz mesmo.

Eu queria ser menos implicante e reclamona, ter mais paciência com as pessoas, ser mais gentil, mais generosa e não me incomodar tanto. Mas em geral as pessoas me irritam muito e eu acabo deixando isso transparecer. E algumas vezes me arrependo muito.

Eu muito queria que o meu pai não estivesse doente, porque isso é muito duro pra ele e pra toda a minha família e ninguém deveria morrer assim, aos poucos e com tanta dor. Simplesmente não é justo.

Tem horas que eu queria nunca ter me casado, não porque eu não ame meu marido, porque eu o amo e não sei o que seria de mim sem ele. Porque o problema não é ele, é o casamento, é ter que cuidar de uma casa, um trabalho que nunca termina e que consome tanto tempo e energia.

Por que, Deus, tem que ser tão difícil? Eu tento descomplicar a vida, eu tento não me ocupar de coisas banais, mas como se faz isso quando os seus problemas são sérios? Como eu posso ser otimista diante da falta de dinheiro, da doença do meu pai e da minha própria dificuldade em lidar essas coisas? Há dias que eu queria simplesmente desaparecer. Ou dormir até o ano acabar. 2010. Mais um ano ruim. E ainda nem chegamos em abril.

terça-feira, 9 de março de 2010

A vida salva pelo rock'n'roll

Uma vez ouvi dizer que uma as músicas mais populares em funerais na Inglaterra é Highway to Hell, do AC/DC. Não sei se é verdade, eu adorei. É uma música muito apropriada.

Roqueiro que é roqueiro alguma vez na vida fez pelo menos uma listinha do tipo Alta Fidelidade e nisso entram músicas que possivelmente entrariam no set-list de seu próprio velório. Porque roqueiros muitas vezes são mórbidos e sem nem precisar pensar muito nisso já me vêem na cabeça três canções com suicídio no título (ROck'n'roll Suicide, Suicide Solution, Suicide is Painless), uma banda chamada Suicidal Tendencies e um disco chamado Funeral.

Por isso é óbvio que eu mesma já imaginei que trecho de música escreveria na minha lápide, que diria "...you know, her life was saved by rock'n'roll". Seria um tanto irônico, porque eu estaria morta. Mas o fato é que o rock'n'roll me salvou a vida mesmo. Não sei dizer quantos amores e quantas amizades começaram por causa de conversas sobre bandas. Nem quantas vezes vivi momentos de felicidade intensa porque tocou em uma festa alguma de minhas músicas preferidas ou quantas vezes uma música expressava o que eu sentia muito melhor do que eu poderia elaborar.

Como nessa música do Velvet, da moça que morava numa cidade muito chata e que nada acontecia. Até que um dia ela ouviu uma música muito muito boa e teve sua vida salva pelo rock'n'roll (não imagino ninguém tendo a vida salva pelo samba ou MPB, por exemplo).Como eu já disse algumas vezes, o rock'n'roll contém todas as respostas. Mas você precisa ficar esperto pra saber se vai viver ao som de These Days (da Nico, não do Bon Jovi) ou de Good Vibrations. Atualmente estou numa fase I'll keep with mine. Mas espero voltar a ter uns dias de Rock'n'roll all Night. And party everyday.

quinta-feira, 4 de março de 2010

30 anos esta noite.

Só me lembro de ter ficado ansiosa por um aniversário, o de 17 anos. Desde os 13 achava que 17 seria a idade mais legal de se ter. Era quase 18 e tinha o charme da fronteira com a maioridade e estava a anos luz dos 15, a idade babaca das meninas-moças-debutantes que me provocavam asco. Sabe como é, eu era do rock. Ter 17 anos significava muita coisa: o último ano do colégio, a idade em que passaria no vestibular, iria embora de Macondo e começaria a ser feliz, o que de fato aconteceu.

Um ano antes eu tinha recebido o meu presente de 15 anos, uma viagem para a Europa, coisa que só reforçou a minha certeza que eu não pertencia àquele lugar e que a vida não se resumia a pessoas burras que nunca tinham lido um livro que não fosse por obrigação e cujo sonho da vida era ter um emprego que pagasse o suficiente para poder consumir e ostentar. Então, aos 17 e eu fui embora e só voltei pra fazer visita, mas nunca olhei pra trás em dúvida. Isso me deixa muito satisfeita.

Dez anos depois eu comecei a sonhar com outra idade, a idade que tenho hoje. Em parte deve ter sido o meu desejo de ser do contra, da irritação que me provocava o pânico antecipado de amigos de ambos os sexos diante a chegada dos 30. De modo que meu aniversário de 27 anos se tornou a minha última comemoração de 20 e poucos anos. Depois disso eu comecei a ter quase 30 e quanto mais alguém me perguntava se me assustava por ter quase 30, mas eu comecei a idealizar esse momento.

Comecei a pensar que nesses tempos de adolescência tardia, ter 30 anos representava ser, definitivamente, uma mulher feita. E eu comecei a pensar no que queria fazer aos 30. Estabeleci três metas simples, mas que pra mim eram muita coisa pelo fato de eu finalmente estar começando a saber o que queria da vida. Meus três desejos foram estar no doutorado (missão cumprida!), pesar 56 kg (falta 2kg pra chegar lá) e aprender a dirigir ( o que também está encaminhado). E a partir de agora tomar algumas decisões importantes sobre emprego, carreira acadêmica e família, o que inclui ser mãe. Então hoje eu acordei feliz, como se a vida tivesse acabado de começar.

Reconheço que aos 30 anos não temos mais o mesmo corpo que aos 20 e isso é um saco. Mas precisamos realmente disso? Temos, sim, a vida inteira pela frente porque foi só o primeiro terço dela que se passou (no meu caso, menos, porque eu pretendo viver 111 anos, lúcida e ranzinza; quem viver, verá). Quase tudo na vida é questão de escolha e as pessoas podem se apegar às referências como uma música do Fábio Jr. sobre ter 20 e poucos anos e o esforço inútil de tentar parar o tempo. Da minha parte, prefiro a literatura.

A mulher de 30 anos de Balzac é muito mais interessante que era aos 20, pois se conhece melhor, é mais centrada e mais autêntica. Não é mais ingênua e quer ser feliz. É natural, sábia e serena. Trinta anos é a idade em que Zaratustra subiu para as montanhas para passar uma década se nutrindo de sua sabedoria e sua solidão. É a casa dos 30 que Veríssimo descreve como palco de uma verdadeira festa. E é essa idade que a menina de “De repente, 30” deseja ter: 30 anos, a idade do sucesso.

Cá estou eu.

domingo, 28 de fevereiro de 2010

Domingo de filme e panquecas

Hoje eu terminei de reescrever meu projeto de pesquisa, assisti a um filme ("Educação") e fiz panquecas. Eu tinha pensado em ir nadar no clube, mas estava chovendo, minha mochila suja e eu estava com preguiça. É tão bom não ter que sair de casa pra resolver nada. Não sei como tem gente que acha domingo deprimente. Os domingos sempre me trazem um sopro de vida, como na canção do Velvet Underground. Semana passada eu assisti a dois filmes ("A Onda" e "Julie e Julia") e almocei fora com meu amor. Hoje eu fiz panquecas, lavei a louça, lavei o cabelo. E me senti um pouco mais tranquila porque por hora estou com uma coisa a menos a me consumir.

sábado, 27 de fevereiro de 2010

Whatever gets you through the night

Um amigo tem um blog que só funciona quando ele esta solteiro. Se seus relacionamentos amorosos vão bem, o blog fica largado às moscas; bastou ficar sozinho que os textos fluem. Outro amigo praticamente só escreve sobre cinema, seja pra falar bem ou mal, são os filmes que despertam nele essa urgência. Da minha parte, eu escrevo quando estou mal, ou pelo menos quando há algo que me desperte alguma paixão violenta.

Percebi isso hoje quando me obriguei a sair do sofá onde confortavelmente assistia Grey's Anatomy na companhia dos meus bichanos. Eu tinha assistido Lost antes. E passaria o dia assistindo alguma coisa até anoitecer, quando então eu lamentaria o dia desperdiçado. Mas eu levantei e fui pra academia. Alguém já disse que o sol é o Prozac da natureza. Pois então a esteira é a Fluoxetina das máquinas. Ou você nunca reparou nas caras estupidamente sorridentes dos marombeiros?

Eu estava pensando nisso porque quando estou na esteira consigo organizar pensamentos disconexos e tenho grandes sacadas pro meu trabalho. Daí eu percebi que estava de novo pensando literariamente, com parágrafos e pontuação. Eu pensei que provavelmente esta é a terceira crise séria que eu tenho e provavelmente a mais assustadora, porque agora fugir não é mais uma opção e eu não posso mais me defender com meus antigos excessos. Não há outra opção senão ficar e resistir e é disso que tenho medo.

Qualquer coisa

Eu vou escrever sobre qualquer coisa. Não faz muito tempo isso funcionava bem pra mim. Mas agora tanta coisa mudou que eu não sei mais. Antes eu carregava o caos dentro do peito e agora até consigo racionalizar e tocar a vida. Mas eu não sei mais escrever, não sei mais chorar e já não consigo mergulhar em tantas outras coisas que me ajudavam a dar vazão quando eu me sentia tão triste quanto estou agora.
Simplesmente não faz mais sentido beber até cair, embora eu ainda goste muito de beber. E eu não conseguiria passar dias entorpecida, fazer mil farras com quase nada de dinheiro, acampar na casa dos outros sem uma muda de roupa sequer.

Todas essas coisas que fazem parte de uma época da minha vida que parece tão distante, mas nem faz tanto tempo. Eu não sinto saudade disso, propriamente, de todo descontrole, de toda a inconsequência, do meu desejo secreto de morrer, que nem era tão secreto assim. É que no meio de toda essa confusão eu ainda conseguia me localizar. Escrever me situava de alguma forma e, de algum modo, eu achava charmoso ter 20 e poucos anos e ser uma garota um tanto perdida no mundo.

Agora nada disso faz mais sentido. Nem mesmo comer montes de chocolates e toda a velha autosabotagem. Eu não me perco mais, o que deveria ser bom. Mas ultimamente eu tenho estado tão triste, tem dias que eu queria poder gritar e dar socos na parede como antes. Agora eu só consigo me entregar a uma letargia parcial, porque eu preciso levantar do sofá me alimentar e há louça suja na pia, tenho que pendurar as roupas que estão na máquina de lavar.

Então eu me obrigo a seguir em frente, tomo banho, alimento os gatos, telefono a um amigo, volto a fazer análise, visito meus pais. Mas a verdade é que eu não queria fazer nada disso, eu não sinto vontade de fazer nada. Se eu pudesse ficaria dias nesse sofá, checando e-mails que chegam e que eu não respondo, baixando filmes que eu tenho preguiça de ver e tentando fazer ir embora esse desejo de desaparecer, de dormir tanto tempo tentando acordar num mundo em que tudo está em seu devido lugar, um mundo em que eu tenho de volta minhas certezas, que meu lar novamente é cheio de alegria e que eu não tenho que assimilar coisas que são complicadas demais.

Mas eu não posso, então eu vou escrever sobre qualquer coisa. Sobre os filmes bestas que assisto, sobre as coisas banais que me irritam, sobre o meu peso, sobre o que eu almocei ontem. Quem sabe assim eu consigo me situar novamente, encontrar o meu lugar no mundo e escapar à terrível sentença das estirpes que vivem cem anos de solidão, do fardo de ser um Tenenbaum, da certeza de gauche na vida e dessa sensação de nunca pertencer a nada.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Vou criar outro blog. Depois eu posto o endereço aqui. Minha intenção é que seja algo menos pessoal, se é que é possível eu fazer algo que não seja pessoal (Aliás, alguém consegue fazer algo que não é pessoal? Como?). Um espaço pros meus resmungos sobre os meus assuntos "não pessoais" preferidos: política, jornalismo e rock'n'roll. É um trocadilho com a famosa tríade, sim. Se colocar sacanagem no lugar de politca e drogas no lugar de jornalismo vai dar na mesma.
Ainda não sei o que fazer com este blog. Acho que ele está bem ruinzinho, mas eu tenho essa necessidade de Zaratustra (o personagem de Nietzsche, não meu gato desaparecido) de falar para todos e para ninguém. Então é possível que eu mantenha meu bloguinho "confessional" (odeio essa expressão, que diabos isso quer dizer?!). É isso.

Enfim, 2010

Eu não gosto de carnaval. Não vou perder meu tempo dizendo os motivos, não gosto e acabou. Passo longe de qualquer folia e agitação e isso inclui viajar para lugares invariavelmente lotados nessa época. Contudo, apesar de detestar essa semana, tenho que concordar com o ditado que diz que no Brasil o ano só começa depois do carnaval. Voltei das férias há mais de uma mês e mesmo com um monte de coisa acontecendo, ainda me sinto um pouco devagar.
Passado o carnaval a vida retoma seu ritmo: as aulas recomeçam, vou continuar procurando emprego, vou finalmente começar a ter aulas de direção, meus gatos precisam ser castrados, o prazo pra terminar de refazer meu projeto está chegando ao fim, preciso voltar a frequentar a academia direito, retomar minha dieta rigorosamente e ainda tenho que preparar minha festa de aniversário de 30 anos. Parece cansativo, mas na verdade me dá um certo alívio. Enfim o ano vai começar.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Vamos lá, segunda-feira, acabe logo comigo. (Garfield)

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Ontem eu amanheci com dor de garganta e passei a tarde no sofá com meus gatos e um cobertor. Meu marido fez chá e hoje eu amanheci melhor. Na verdade ontem ao me deitar eu me senti perfeitamente feliz. De repente me senti imensamente grata por toda sorte que eu tenho na vida, porque eu tenho amor, tenho família, tenho gatinhos e amigos. Tenho tempo, tenho saúde, tenho dois braços e duas pernas, posso ver, ouvir e falar, tenho saúde. Não vivo num lugar em guerra, a chuva não levou minha casa. Parece óbvio, mas é algo que só funciona quando você mesmo chega a essas conclusões. A última coisa que um deprimido quer é que lhe digam o quanto tem sorte. Dormi feliz e amanheci bem. Hoje eu me levantei ainda devagar, mas consegui respirar melhor e aquele vazio que estava no meu peito, aquela sensação de estar desaparecendo se foi. E a dor de garganta também.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Always look at the bright side of life

Na minha geladeira não há carne, queijo amarelo, manteiga, bebida alcoólica ou doces. Na minha geladeira há pão integral, gelatina diet, queijo branco, verduras e legumes. Deste modo, quando eu estou deprimida e sinto um desejo voraz de compensar as minhas frustrações com comida, o máximo que dá pra fazer é botar uma fatia de queijo branco light a mais no meu pão integral com margarina diet. Patético.

Nessas horas eu sinto falta do tempo que mantinha uma garrafa de vodca no frigobar e bebia pura quando estava triste, entediada ou celebrando. Mas eu não aguento mais beber vodca pura, não sei mais trabalhar em estados alterados de consciência, não sei mais chorar, não escrevo mais nada que preste há meses, não rôo mais as unhas e o meu estado civil não me permite que eu compense da mesma maneira que fazia quando solteira.

A análise tirou isso de mim. Depois de alguns anos de divã você não deixa de ficar deprimido de vez em quando, ainda mais quando isso faz parte do seu transtorno. Você aprende a controlar os efeitos das alterações de humor para que eles afetem minimamente a você e àqueles ao seu redor. Isso faz com que que eu tenha uma vida "normal" e essas depressões sem bebedeiras, sem me empanturrar, sem cigarro, sem unha roída, sem choro e sem ganhos secundários.

Então eu me deito no sofá, vejo seis episódios de Grey's Anatomy seguidos pra não pensar que estou enrolando pra não fazer tarefas com prazo determinado porque estou com medo de não conseguir, pra não ficar fazendo projeções inúteis de como a minha vida seria se eu tivesse tomado algumas decisões ao invés de outras, pra não pensar no quanto eu me sinto sozinha. Ironicamente, o que me consola é que toda vez que eu subo na balança ela marca 5kg a menos que alguns meses. Posso não estar bem, mas pelo menos estou magra. Por mais fútil que isso possa soar.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

O que você faz quando um dia começa a questionar decisões importantes que tomou nos últimos cinco anos? Você fica muito triste e quer desaparecer. E voltar pra análise.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Os livros que eu não li

Esse ano quero ler Borges e Cortázar. E Lorca, por causa da minha amiga que o estuda. E Nelson Rodrigues, porque eu vi os filmes e as séries, mas nunca o autor. Eu tenho visto muita série, muita TV e alguns filmes. Esse ano consegui eliminar o BBB da minha vida. Perdeu a graça. Estou sentindo falta dos livros. Livro mesmo, livro valendo, não essas coisas que tenho que ler o tempo todo por obrigação. Estou com saudade dos livros que eu não li. De sentir o cheiro do livro novo e ficar embasbacada com algum parágrafo e relê-lo várias vezes pra guardar um pouco, pra que ele não acabe, pra tentar conservar um pouco do encantamento que as palavras produzem na primeira vez que as lemos.

Mas primeiro eu tenho que dar conta das minhas leituras pro projeto.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Alma de criança

Cena 1: Há uns meses eu estava conversando com uma amiga sobre ter filhos. Eu estava falando do meu receio porque é "puta responsabilidade, meu". Ela disse que esse negócio de fazer planos pro futuro já era, que o futuro é agora, que nós já somos adultas, que eu estou casada há um tempinho, estou feliz e é isso que as pessoas felizes no casamento fazem.

Cena 2:
Um dia eu e meu marido fomos nos deitar e ele entrou no quarto um tanto perplexo. Disse que se surpreendeu ao fechar a casa pra dormir, que lembrou do pai dele fazendo isso e me disse que "nós viramos pais de família".

Cena 3:
Há umas semanas eu conheci Catarina, sete anos, sobrinha de uma grande amiga. Eu não sei interagir com criança, falo com elas como se fossem adultos e pra diverti-los falo coisas curiosas-porém-divertidas, como "você sabia que seu pé é do tamanho do seu antebraço?" ou "sabia que é impossível lamber o próprio cotovelo?". Dias depois minha amiga me disse que Catarina não me achou com jeito de adulto. Que adulto só quer saber de "resolver as coisas" e que eu me divertia. Disse que eu tinha alma de criança. Foi um dos elogios mais bonitos que lembro ter recebido na vida.

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Essas três cenas ilustram momentos de passagem. Quando foi que o futuro começou? Quando foi que nos tornamos adultos? O que separa os anos vividos da alegria de viver das crianças? Eu já pensei bastante sobre isso, mas não é algo que me afete muito. Não hoje em dia pelo menos. Prefiro ir vivendo ao invés de ter crises a respeito do inevitável.

Melhor envelhecer do que morrer. Houve um tempo em que eu pensava muito na morte e achava insuportável a idéia de viver sabendo que vamos morrer. Minha crise era em relação ao sentido da existência e sobre o que há depois que todas as luzes se apagam. Por isso eu tenho vontade de de socar as pessoas que surtam porque os anos estão passando e o corpinho/rostinho não é mais o mesmo. Vai ser fútil assim no inferno. Eu tenho medo é de perder a sanidade, de não saber mais quem sou, de ter uma doença grave e morrer aos poucos, de ser tão dependente a ponto de não poder mais ir ao banheiro sozinha.

Enfim, eu não sei se o futuro já começou. Ontem eu me matriculei na autoescola e isso me deixou atordoada. Eu acho que me senti "resolvendo coisas". Não que no meu dia-a-dia eu não tenha coisas pra resolver. Mas eu luto pra que a minha vida não se resuma a isso. Eu estudo não para obter títulos, mas pelo prazer da jornada. Talvez tenha sido isso que Catarina viu nas poucas horas que passamos juntas. Eu estou neste mundo a passeio, não pelos objetivos a atingir. Já dizia o sábio Humberto Gessinger, "não precisamos saber pra onde vamos, nós só precisamos ir. Sem motivos, nem objetivos, estamos vivos e só". Não sei se isso faz de mim mais ou menos adulta, mas com certeza me faz feliz.

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Para além da esquerda e da direita

Eu nunca aprendi a diferença entre a esquerda e a direita. Literalmente. Quando eu estava no jardim de infância a professorinha ensinou pra classe o lado esquerdo e o lado direito. No começo era fácil, a mão direita é a mão que se escreve. Mas aí a coleguinha disse "professora, e eu que sou canhota?" e já começou a ficar complicado. Depois, a professora, que estava de frente para a classe, disse que o lado direito que ela estava falando era o lado direito da classe, que era a esquerda dela. Não entendi mais nada.

Chegando fui contar à minha mãe às novidades. Disse que havia aprendido a esquerda e a direita. E mostrei as mãos trocadas. Minha mãe explicou várias vezes, tal como havia feito a professora, mas ainda assim aquilo não fazia o menor sentido. Minha mãe perdeu a paciência e apontou para um sinal que tenho sobre a mão esquerda e disse "pronto, é essa a sua mão esquerda". Assunto resolvido, não precisei pensar nisso por anos.

Até hoje quando preciso saber qual é a esquerda basta olhar pras minhas mãos. Se vou dar instruções a um taxista, olho discretamente para a mão onde está minha aliança e digo "vire à esquerda na próxima". Em breve pretendo a aprender a dirigir (finalmente) e daí saberei se isso é realmente um problema. Sorte a minha que dá pra conferir o sinal da mão sobre o volante.

Outro dia eu estava contando essa história numa rodada familiar de pôquer. Porque estava com dificuldades em saber em que direção o jogo roda e é mais fácil pra mim decorar "sentido horário" do que "pra direita". Foi então que minha irmãzinha, cartesiana roxa, descobriu a fonte do meu problema: "Não era pra ficar pensando, era pra aceitar. Tu não podias simplesmente aceitar?".

É, meus caros... Anos depois eu fui parar na Ciência Política e aí que ficou difícil mesmo distinguir entre esquerda e direita. E eu ainda não aprendi a simplesmente aceitar.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Trilha sonora para o banzo

Antes que seja tarde (Pato Fu)

olha, não sou daqui
me diga onde estou
não há tempo não há nada
que me faça ser quem sou
mas sem parar pra pensar
sigo estradas,sigo pistas pra me achar

nunca sei o que se passa
com as manias do lugar
porque sempre parto antes que comece a gostar
de ser igual, qualquer um
me sentir mais uma peça no final
cometendo um erro bobo, decimal

na verdade continuo sob a mesma condição
distraindo a verdade, enganando o coração

pelas minhas trilhas você perde a direção
não há placa nem pessoas informando aonde vão
penso outra vez estou sem meus amigos
e retomo a porta aberta dos perigos

na verdade continuo sob a mesma condição
distraindo a verdade, enganando o coração