segunda-feira, 29 de junho de 2009

Highlander

Não estamos acostumados a boas notícias quando se trata de câncer. Qua quase todo mundo tem uma história pra contar de um avô, uma tia, um vizinho, um conhecido que passou por essa doença terrível. E na maioria das vezes a pessoa em questão morreu. Eu nunca tinha convivido com o câncer de perto até que aconteceu com o meu pai. Por mais que a gente não queira há o estigma da doença, a associação com uma sentença de morte. Começamos a contar o tempo que resta esperando o pior. E o pior não é a morte, mas o sofrimento lento e extremamente doloroso do tratamento. As cirurgias mutiladoras, o desespero da quimio, a depressão.

Quando meu pai ficou doente eu tomei duas decisões. A primeira foi não tratá-lo como um doente, como alguém digno de pena. Não. Nunca o tratei como vítima, como coitadinho, nunca chorei na sua frente. Eu sempre disse a ele que não era uma pessoa doente, que ele estava enfrentando uma doença e que ia passar. Disse mesmo quando não acreditava, porque é importante que alguém te diga que tudo vai ficar bem mesmo quando você duvida disso. A outra decisão foi aproveitar todo o tempo que tivesse com o meu pai e não dar importância a coisas pequenas. Não ver o meu pai como alguém que eu gostaria que fosse, mas simplesmente como alguém que amo e quero bem. Como um pai.

Hoje meu pai passou por uma cirurgia preventiva, porque apesar da quimio ter eliminado o tumor os médicos decidiram retirar um pouco de tecido do local "pra garantir". Deu tudo muito certo e o primeiro exame revelou que não há sinais de células cancerígenas no local. Fui visita-lo na UTI e saí de lá leve. Meu pai chorava de alegria, feliz por estar vivo, leve. Ao sair, minha mãe me deu um grande abraço. Estava eufórica. Eu não chorei, mas sinto o coração calmo e sereno. Parece que tudo que vivemos nos últimos meses ficou pra trás. Era outra vida. A vida agora é meu pai se recuperando, vencendo mais uma batalha. Quem sabe a guerra.

É muito difícil falar em cura quando o assunto é câncer. Segundo a convenção dos médicos, é preciso esperar cinco anos sem nenhuma recidiva pra considerar que houve cura. Mas isso não importa nada agora. POrque quando o médico disse que as chances dele eram pequenas eu achei que ele fosse morrer. Por isso cada batalha é vencida vale por toda a guerra. Meu pai é um vencedor e isso é tudo o que importa.

Um comentário:

. disse...

É isso aí, Marie!
Não conheço seu pai, mas diga a ele que também estou vibrando de felicidade com essa vitória dele.

Conheço de perto a luta contra essa doença. Sei que é capaz de se sair vitorioso dela!

Viva o Pai da Marie!!!!