quinta-feira, 14 de maio de 2009

O período sabático

Eu queria desfrutar de um semestre sabático. Pensar na vida. Queria ficar seis meses vadiando e escrevendo, porque pra escrever eu preciso de um certo tempo de ócio e preciso deixar as idéias germinarem, ficar observando a vida e as pessoas de longe com contatos sociais esporádicos, apenas quando eu estiver disposta. Decidi não prestar o doutorado. As inscrições acabam semana que vem, mas eu optei por não correr com um projeto.

Mas como viver um período sabático num mundo sufocada por mil cobranças? Metade da minha semana eu tenho que passar em São Paulo por conta da situação do meu pai. Isso impossibilita uma rotina doméstica mais regrada, já que nos quatro dias que me restam tenho que colocar as coisas da casa em ordem. Algumas vezes fico tão cansada que não consigo fazer academia ou cuidar direito do meu marido e do meu gatinho. Acabo estendida no sofá por horas, vendo seriados que eu nem sei porque acompanho, perdendo tempo na internet sem produzir nada, folheando livros que tenho preguiça de ler.

Como desfrutar de um período sabático cercada das cobranças que não são apenas dos outros mas também são minhas? Você terminou o mestrado, o que vai fazer agora da vida? Arrumar um emprego? Prestar o doutorado? Arrumar uns frilas? Ah, eu não queria fazer nada disso. Eu não queria ter que ir pra São Paulo toda semana, eu não queria ter que ter compromissos com ninguém (e pensar que no post anterior eu estava pensando em ter um fiho, que é o maior compromisso de todos). Eu só queria poder ficar imersa no meu universo-umbigo. Ler Nietzsche à beira da piscina, cozinhar pra mim e meu amado, mimar meu bichano, dias e dias de pijama.

Mas ao invés disso eu sinto o tempo me escapar em tarefas que contrariam minha vontade e esvaziam meus dias e o meu espírito. Eu pensava que um novo mundo se levantaria depois que eu depositasse minha dissertação. Mas eu não sei se tenho caos suficiente dentro de mim, eu não sei se tenho força "pra dar a luz a uma estrela que dança". Eu tenho um vazio e uma tristeza leve, quase imperceptível, que está sempre à espreita.

Um comentário:

John Fletcher disse...

bem, cada vez mais ando mais fatalista quanto às escolhas que fizemos. hj em dia é até meio romântico se dar ao luxo de ter um período ocioso. e como mudar algo nesta altura do campeonato com essa vida? eu acho que o plano é conciliar... se isso ajuda... eu tenho orgulho de vc.