quinta-feira, 25 de março de 2010

Quase abril

Estamos quase em abril, não li nenhum livro inteiro até agora porque quando eu não estava deprimida tive que me dividir entre refazer meu projeto, autoescola, visitas hospitalares, entrevistas de emprego que não vingaram e um ou outro surto maníaco porque uma garota precisa de válvulas de escape. Mas uma hora até isso enche o saco.

Eu queria ser uma pessoa constante e produtiva. Cumprir prazos. Chorar quando se tem que chorar e depois seguir em frente. Eu queria não ter a saúde frágil e a cabeça boa pra não ficar doente quando as coisas se complicam. Estou cansada, mas não estou mais deprimida, o que é bom. Mas fica difícil seguir em frente feliz e saltitante quando as coisas estão tão complicadas.

Tem horas que eu queria deixar pra lá esse negócio de fazer doutorado, ir pra congresso, apesar do bem que isso me faz. Simplesmente ir trabalhar o dia inteiro num trabalho que acaba com meu corpo e meu espírito. Não é isso que as pessoas fazem? Elas trabalham, reclamam do chefe e vivem todas a mesma vida. Mas uma vez por ano elas viajam pra lugares bacanas que fazem pessoas duras como eu se roerem de inveja. E elas comem em restaurantes legais e usam roupas bonitas. Por que eu não posso ser feliz assim, como todo mundo? Ah, mas eu nem sei se quem vive assim é feliz mesmo.

Eu queria ser menos implicante e reclamona, ter mais paciência com as pessoas, ser mais gentil, mais generosa e não me incomodar tanto. Mas em geral as pessoas me irritam muito e eu acabo deixando isso transparecer. E algumas vezes me arrependo muito.

Eu muito queria que o meu pai não estivesse doente, porque isso é muito duro pra ele e pra toda a minha família e ninguém deveria morrer assim, aos poucos e com tanta dor. Simplesmente não é justo.

Tem horas que eu queria nunca ter me casado, não porque eu não ame meu marido, porque eu o amo e não sei o que seria de mim sem ele. Porque o problema não é ele, é o casamento, é ter que cuidar de uma casa, um trabalho que nunca termina e que consome tanto tempo e energia.

Por que, Deus, tem que ser tão difícil? Eu tento descomplicar a vida, eu tento não me ocupar de coisas banais, mas como se faz isso quando os seus problemas são sérios? Como eu posso ser otimista diante da falta de dinheiro, da doença do meu pai e da minha própria dificuldade em lidar essas coisas? Há dias que eu queria simplesmente desaparecer. Ou dormir até o ano acabar. 2010. Mais um ano ruim. E ainda nem chegamos em abril.

Nenhum comentário: