sexta-feira, 4 de junho de 2010

Isso é coisa que se pense numa hora dessas?

No meio da semana passada meu irmão e eu estávamos conversando via MSN quando ele comentou uma cena do Watchmen, em que em um enterro toca "The sound of silence", do Simon and Garfunkel. Ele ficou triste porque pensou no papai. Eu cantarolei a parte que diz "silence like a cancer grows". Meu pai, que estava na sala, me olhou e sorriu. Ele gostava muito dessa canção. Foi a primeira música que ouvi após chegar na minha casa no dia seguinte à sua morte. E foi a música que eu e meu irmão ouvimos no carro, voltando do enterro.

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No caminho pro hospital, depois da minha mãe ligar dizendo que meu pai tinha tido hemorragia e de ter me olhado no espelho perguntando a mim mesma o que vestir quando parte da vida que você conheceu está prestes a mudar completamente, eu coloquei meu MP3 player na música do Julian Casablancas que falava "forgive them, even if they are not sorry". Na calçada do hospital estava tocando "Viva la Vida", do Coldplay. E pouco antes do meu pai morrer, eu estava escutando Weezer. Keep Fishing.

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Quando meus amigos chegaram no hospital eu disse que nunca mais vou poder ver "As Invasões Bárbaras". Pensei em muitos filmes que tratam de câncer, família e morte. "Viagem a Darjeeling", "A Partida" e "Os Excêntricos Tenenbaums", que é um dos meus filmes preferidos. Há anos eu e um amigo nos referíamos a meu pai como "Royal", nome do pai dos Tenenbaums. Uma vez ele assistiu ao filme e gostou. Disse que lembrou da nosssa família.

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Eu acho que ele pensou nisso também quando leu "A Metamorfose". No livro dele estava grifado um trecho do fim, em que o Gregor Samsa, prestes a morrer, "pensava na família com saudade e com amor".



A cultura pop, com seus excessos de referências, nos tirou a capacidade de pensar/sentir por conta própria.

Um comentário:

Marvalsc disse...

Eu também sofro desse mal chamado "referências da cultura pop". Eu sofro disso porque trabalho com Polícia e uso meu mp3 direto. Já participei de perseguições ouvindo Killers e assisti um espancamento ouvindo Niccolo Paganini(caprice em Lá menor, Op. 1 No. 24).
Sei que não sou uma pessoa normal, mas sei ludibriar muito bem os psicólogos.
Dê um abraço no Álvaro, pois sei o quanto ele deve estar ssofrendo nesse momento. Aliás, a família toda.
Você se tornou corajosa e forte. Parabéns, porco, parabéns.