quarta-feira, 30 de julho de 2008

How bizarre, how bizarre

Há uns dois anos eu fiz uma aula de Teoria Sociológica cujo programa contava com uma autora chamada Samantha Power. É, Samantha Power. Segundo o professor ela não é uma drag queen, o que eu duvido muito. Se uma pessoa se chama Samantha Power, ela TEM que ser uma drag queen. O mais bizarro é que essa autora ganhou o prêmio Pulitzer e vem lançar o livro na Bienal do Livro! Juro que sou capaz de ir até lá só pra conferir a força da peruca da biba. E como diz minha amiga, vou ficar profundamente decepcionada se ela for mesmo mulher.

Isso me fez lembrar de outra coisa absurda que eu vi um dia desses. Eu estava passando por uma praça perto da minha casa e vi um carro estacionado com um adesivo enorme escrito "Os Putos". Podre. Uma vez eu vi um carro com o singelo adesivo "Marmita", porque vocês sabem, que entra em marmita é comida... Podre ao quadrado. Enfim, eu vi o adesivo e vi que tinha um cara do dentro do carro, mas foi dessas coisas que a gente vê de canto de olho. Pensei em ignorar, mas fiquei curiosa pra ver que tipo de sujeito anda num carro daqueles. E não é o sujeito ao volante estava com uma nenezinha no colo? Pequena, nem sentava ainda, toda de macacãozinho rosa. O cara do adesivo "Os putos".

Eu gosto de me surpreender com as pessoas. Normalmente as conversas que a gente escuta por aí são previsíveis e irritantes, mas vez por outra há coisas que valem a pena. Uma vez eu peguei um táxi com meu pai e lá pelas tantas ele contou ao motorista que eu estudo Ciência Política. O homem disse que achava muito interessante, porque ele mesmo gostava muito de CP. Ele disse que gostava do FHC, mas eu achei isso meio lugar comum, apesar de não ser exatamente comum as pessoas que não são do ramo falarem dele como sociólogo. Mas quando ele disse que também gostava muito do Bolívar Lamounier, aí eu quase caí pra trás.

terça-feira, 29 de julho de 2008

Why bother?

Tenho duas amigas que acabaram de fazer 30 anos e estão na tal crise. Uma delas não queria nem ouvir os parabéns no dia do seu aniversário porque aparentemente não há o que se comemorar quando se faz 30 anos. O que é muito engraçado porque as duas são psicólogas. Como se diz por aí, casa de ferreiro, espeto de pau.

Eu não entendo a nóia com os 30. Sinceramente. Eu tive nóia com os 25, eu admito. Mas a minha nóia era de estar numa idade adulta e ainda ser uma adolescente, porque meu RG marcava 25 mas na verdade eu continuava com 18. Levou 3 anos e muitas horas de divã pra eu chegar à minha idade real e eu gosto muito de ter 28 anos. E pode ter certeza que eu vou adorar ter 30.

A única coisa chata de ter quase 30 é saber que a sua aparência provavelmente nunca será melhor do é hoje, o que se pode fazer é conter os danos. O que é um problema se você gosta de comer coisas calórias e tomar cerveja em grandes quantidades. Eu já pensei em fazer uma dieta, fazer mais exercícios, beber menos, levar essas coisas a sério pra chegar aos 30 anos sarada. Mas essa é a idade que eu vou ficar grávida, então, why bother? No nóia, yes pizza. E cerveja também.

segunda-feira, 28 de julho de 2008

Incesticide

Nirvana foi uma das primeiras bandas pelas quais me apaixonei. Dessas que a gente ouve tanto que decora a sequência das músicas no disco. No meu caso era fita, porque eu era uma adolescente muito dura que só tinha dinheiro pra comprar fitinhas uma vez por mês e copiar tudo que seus amigos tinham. Era uma época interessante. Não tinha essa facilidade de acesso porque não existia internet e eu morava no Amapá, onde a falta de público fazia com que o acervo de rock em lojas fosse praticamente inexistente. Tínhamos apenas Bizz e a MTV, no tempo que essas coisas prestavam. Em compensação, todos os roqueiros da cidade se conheciam e trocavam música entre si.

Eu conheci Nirvana pela MTV. Os discos eu fui conseguindo aos poucos, emprestando e gravando de quem tinha. Como aquilo era bom! Mas os anos noventa acabaram e eu segui em frente e fui ouvir outras coisas. Por um tempo fiquei até um pouco irritada com o culto à banda porque aquelas pessoas nem tinham saído dos cueiros em 1994 e estavam se apropriando da MINHA BANDA. Ah, como eu chorei quando Kurt Cobain morreu. Cacete, ele tinha só 27 anos. Na época eu tinha 14 e isso me parecia muito. Mas agora que eu já vivi um ano a mais a mais eu fico passada e penso, cacete, ele tinha só 27 anos.

Hoje eu escutei o Incesticide. Acho que faz anos que eu não ouvi esse disco. Cacete, como é bom! Isso me faz pensar na quantidade de bandas medianas que há hoje. Deve haver uma meia dúzia de bandas em atividade que eu vou ouvir daqui a 15 anos e vou ter essa sensação de que o disco não envelheceu um só dia, que eu não envelheci um só dia, porque só quem tem o rock'n'roll correndo na veias sabe o que é que explode dentro de si quando se ouve um disco realmente bom e que faz você cantar a plenos pulmões e que torna o dia mais feliz, ainda que cante sobre as piores mazelas do mundo. Como diria Lou Reed, despite the complications, you know you can just dance to rock'n'roll station. And you know it's alright.

Oh, yeah.

domingo, 27 de julho de 2008

Pronto, falei

A diferença fundamental entre um sociólogo e um jornalista é que o primeiro tem um dead line maior.

sábado, 26 de julho de 2008

Sobre o ato de escrever

Hoje eu li "Máquina de Pinball", da Clarah Averbuck. Faz tempo que eu não entrava no blog dela, aí soube da estréia do filme baseado na obra dela e resolvi dar uma olhada. O livro estava disponível pra download, o que é muito bom pra novos autores. Sejamos honestos, com o preço dos livros pela hora da morte não é num autor pouco conhecido que você vai queimar seus dinheiros. Eu amo literatura, mas raramente compro. Pra isso existem os amigos, as bibliotecas e os aniversários e natais para ganhar livros de presente.

Não sei se isso os novos autores saem perdendo. No caso do livro pra download, você não ganha dinheiro, mas pelo menos é lido. E em alguns casos, como o da Averbuck, cai na boca do povo. Deve ser muito mais eficiente do que a infinidade de sites que publicam contos e poemas e revistas virtuais e comunidades no Orkut. Um dia desses eu vi um debate sobre literatura na tevê Cultura e tinham essas pessoas empertigadas fazendo perguntas longuíssimas ao Nelson Ascher, se identificando como "Fulano de Tal", da comunidade Bar do Escritor. Porra, fala sério. Essas pessoas não entenderam nada. É muito deprimente.

Isso é uma coisa de se admirar na Averbuck, porque nas coisas que ela escreve está bem claro que não precisa de mais nada pra escrever do que vontade de escrever. Tem uma frase muito bonita no livro em que a personagem-narradora diz que precisa se entregar ao grande amor de sua vida: escrever. Isso me fez repensar a minha própria experiência. O problema dessas pessoas que estão correndo atrás de concurso literários e de publicação em tudo quanto é canto é que elas não querem escrever, querem ficar famosas, querem resolver alguma coisa que está em algum lugar que não é a literatura. Não deve ser por isso que há tanta porcaria por aí.

No começo da faculdade eu me juntei um grupo de meninos espinhentos e outros que eram gays mas a mãe não sabia e fizemos um grupo de poesia marginal. É. A gente se reunia às sexta e líamos nossos poemas uns para os outros. Na época eu me imaginava dando entrevistas e vendendo mais que o Paulo Coelho e seria a mais jovem membro da ABL. Depois eu tive uma coluna num site da minha cidade. Foi um dos primeiros sites de balada, desses que fotografam as pessoas pela noite e por causa disso tinha muitos acessos e a minha coluna foi bem comentada. Até que um dia o site saiu do ar. No último texto me chamaram de arremedo de escritora. Aí eu catei a moça pelo braço numa festa e fui tomar satisfações. Eu tenho problemas com críticas, hahaha.


Hoje eu rio de tudo isso. Hoje eu escrevo esse blog e escrevo outras coisas que só lê quem merece. Eu gosto de ter este controle sobre a minha “obra”. Demorou um tempo pra eu perceber que nada disso importava, o que importava era escrever. É o que eu venho fazendo, sem pensar muito nas causas e consequências disso. Eu finalmente entendi. Você não precisa ter seu nome no catálogo da Fnac pra ser um escritor, não precisa ser publicado, não precisa ser lido, não precisa viver disso, não precisa de mais nada. Só precisa escrever.

quinta-feira, 24 de julho de 2008

O rádio e suas piadas

Hoje eu estava ouvindo o mesmo programa de rádio do post anterior. Dessa vez a entrevistada era diretora (ou algo assim) do Balé Bolshoi no Brasil. De novo perguntas toscas que me fazem rir - como se a seleção para entrar no Bolshoi era rigorosa (Dã!). Mas o melhor (ou seria o pior?) foi comentário da apresentadora, que, ao ouvir da entrevistada que há um número grande de meninos nessa escola de dança, soltou:

- Que bacana, quer dizer que há muitos meninos masculinos?

Eu fiquei imaginando se a entrevistada tivesse espírito de porco e respondesse " Masculinos, não, são todos bichinhas", hahahahahaha.

Estou começando a achar que a imprensa brasileira é o melhor é o melhor produto humorístico do país.

quarta-feira, 23 de julho de 2008

Quem lê tanta notícia?

Recentemente eu me vi perdida em minha rotina. Com tanto tempo livre eu me vi sem tempo pra nada. Acho que deve ser comum entre as pessoas que trabalham em casa. Como disse um amigo, a gente costuma dividir os dias entre os que fazemos mil coisas e os dias em que não fazemos porra nenhuma. Daí eu resolvi devidir as horas para o meu dia de modo a dar conta das minhas atividades de esposa-e-dona-de-casa, perua, acadêmica e escritora, com tempo pra ver tevê, cuidar do meu gato, vadiar na internet e dormir 10 horas por dia.

E não é que para minha surpresa está dando certo?

Uma das atividades incluídas em minha recém-criada rotina é ver notícias de algum modo, seja no rádio, televisão ou internet. Não que eu goste muito ou ache realmente necessário, mas o meu trabalho depende disso. Na maioria das vezes o noticiário me irrita ou me faz rir. Irrita em casos dos comentários fascistinhas dos âncoras dos telejornais pedindo que se mude a Constituição para que as pessoas sejam obrigadas a soprar no bafômetro. Toda vez eu eu ouço uma sugestão dessa eu imagino que em seguida o cara vai soltar uma do tipo "no tempo dos militares é que era bom". Mas o noticiário também me diverte, sobretudo quando a edição do rádio ou tevê não corta a pergunta do repórter e expõe a profunda ignorância desses profissionais. Sabem, eu já fui repórter e sei como é ir a uma pauta sem a menor noção do assunto e ter como guia apenas o Sr. Google.

Mas o que eu gosto mesmo do noticiário é ver que tipo de valor permeia o imaginário social das pessoas. Mês passado, por exemplo teve um rapaz que na prova final da faculdade de artes reuniu um bando de pixadores e rabiscou toda a faculdade. O moço foi expulso. Sabe como é, nesses lugares as pessoas ficam falando de ousadia e quebrar paradigmas. E tome performance com gente pelada! Mas na hora que isso chega ao sagrado patrimônio todo moderninho mostra a TFP que tem dentro de si... Enfim, ontem eu ouvi no rádio uma entrevista com um arte-educador respondendo à repórter se grafite era arte ou não. Aí ele contou que era arte sim, que estava sendo finalmente reconhecido pela academia e que a Prefeitura pintou por engano um grafite de dois artistas famosos.

Veja bem, caro leitor. Sem querer o rapaz que dizia que era arte estava estabelecendo a fronteira entre a arte e a não-arte, que é a mesma da faculdade: tem que ser muito moderno e muito ousado, mas faça isso onde pode, porque senão a Prefeitura passa por cima e só se arrepende depois que descobre que você é famoso. É claro que a repórter ignorante, não vê nada disso ou finge que não vê. Porque eles estavam muito preocupados em legitimar a arte grafite. Ora, se uma forma de expressão precisa do reconhecimento acadêmico-midiático pra que ela se legitime perante si mesma é melhor parar e inventar outra coisa, porque isso aí já morreu. Eu jamais perderia meu tempo discutindo o valor artísticos dos blogs, tudo o que me importa é que existe essa ferramente fácil na qual as pessoas podem escrever e ser lidas. Dane-se o que os especialistas acham disso.

Mas o rapaz estava se levava muito a sério e levantava hipóteses pseudo-antropológicas pra dizer que antigamente o homem escrevia nas paredes das cavernas e que agora não há mais cavernas, portanto... Ai, pára! Tenho preguiça dessas coisas. Elas só me fazem dar risada, porque eu não consigo conceber o quanto todo mundo envolvido na trama se leva tão a sério. O arte-educador, o artista, a repórter, os críticos... é todo mundo tão cheio de certezas que eu não sei como eles são capazes de se iludir achando que estão em busca de algo novo.

terça-feira, 22 de julho de 2008

Comer para viver

Cansada de ouvir “você é o que você come”, decidi fazer um experimento alimentar com o meu corpo e passei a semana passada sendo vegetariana. Tudo ia muito bem até que uma coxinha cruzou o meu caminho e eu me entreguei a ela alegremente. Resultado da experiência: é possível ficar sem carne, difícil é querer ficar sem. Mas isso me fez pensar em algo de bom que fiz mim nos últimos tempos: parar de comer em grandes redes de fast food. Mais do que uma mudança na dieta é uma idéia de viver de maneira oposta ao que o fast food representa: velocidade, uniformidade, algo rápido, pronto, sem surpresas, com poucas variações sobre mesmo tema.


No lugar da fast food, slow food. Eu quero comer devagar, eu quero viver devagar. Como diz uma amiga, se for pra engordar tem que valer a pena. Se for pra comer hambúrguer, coisa que eu gosto muito, tem que ser um suculento hambúrguer artesanal, com alface de verdade, tomate de verdade, pão de verdade e não aquelas coisas que têm o mesmo gosto da batata e o mesmo gosto da caixa de papelão que as envolve.


É aquela velha coisa que as mães e as avós diziam: comer para viver e não viver para comer. Isso não se resume a dar preferência à comida mais elaborada, com mais hortaliças, mais temperos e menos (pelo menos um pouco menos) gordura. Significa ter mais prazer com a comida. Geralmente colocamos no piloto automático e mandamos pra dentro sem sentir a comida direito. Se possível, eu gosto de transformar o ato de comer numa celebração. Mais do que a moderação, esse pra mim é o verdadeiro sentido de comer para viver.


Um exemplo disso é que todo mês um grupo de amigos meus se reúne na casa de alguém para preparar um jantar e beber cerveja e vinho de boa qualidade. É muito melhor que ir a uma pizzaria e tomar chopp. Dividimos os gastos por pessoa e parte que cabe a mim e ao meu marido é o equivalente ao que um casal gastaria para jantar fora. Mas se fôssemos comer e beber essas coisas num restaurante gastaríamos muito mais, teríamos hora para ir embora e provavelmente não haveria tanta interação entre as pessoas.


Já ouvi algumas pessoas dizerem que chegaram a uma fase em que não se importam em gastar mais dinheiro para “ter qualidade”, mas na prática isso se traduzia em ir a lugares da moda que cobram três vezes o preço que uma cerveja razoável custa no supermercado e a pessoa tá lá se sentindo fina porque tá pagando pra ter qualidade porque o guardanapo é de pano e não de papel. Essas pessoas não entenderam nada, elas continuam no fast food, só que é um fast food caro e metido a besta com guardanapo de pano.


Programas como o grupo dos jantares é exatamente o oposto ao que encontramos nas cadeias de fast food, nas praças de alimentação dos shopping centers, nos bufês “coma-até-explodir-por-12,99-e-cai-fora” ou algo semelhante, como aquela franquia australiana que serve cebola caramelada e que todo mundo a-d-o-r-a. No grupos de jantares há boa, ambiente agradável, conversa boa, amizade. Esse é apenas um dos jeitos possíveis de se fazer isso, de se opor à refeição alienada em que você não tem nenhuma relação com a comida.


Parei com os fast foods, e, quer saber? Não sinto a menor falta.

segunda-feira, 21 de julho de 2008

Eterno retorno

Terminei meu antigo blog porque ele havia crescido demais e depois de alguns anos virou uma coisa que eu não sabia mais o que era. Pra surgir o novo é preciso saber se livrar do velho, então lá vamos nós com um blog novinho em folha. Eu ainda não sei o que vai ser deste blog, acho que ele aos poucos vai desenhar a própria cara. Eu não faço nada, sou apenas a autora. É essa a missão.