terça-feira, 22 de julho de 2008

Comer para viver

Cansada de ouvir “você é o que você come”, decidi fazer um experimento alimentar com o meu corpo e passei a semana passada sendo vegetariana. Tudo ia muito bem até que uma coxinha cruzou o meu caminho e eu me entreguei a ela alegremente. Resultado da experiência: é possível ficar sem carne, difícil é querer ficar sem. Mas isso me fez pensar em algo de bom que fiz mim nos últimos tempos: parar de comer em grandes redes de fast food. Mais do que uma mudança na dieta é uma idéia de viver de maneira oposta ao que o fast food representa: velocidade, uniformidade, algo rápido, pronto, sem surpresas, com poucas variações sobre mesmo tema.


No lugar da fast food, slow food. Eu quero comer devagar, eu quero viver devagar. Como diz uma amiga, se for pra engordar tem que valer a pena. Se for pra comer hambúrguer, coisa que eu gosto muito, tem que ser um suculento hambúrguer artesanal, com alface de verdade, tomate de verdade, pão de verdade e não aquelas coisas que têm o mesmo gosto da batata e o mesmo gosto da caixa de papelão que as envolve.


É aquela velha coisa que as mães e as avós diziam: comer para viver e não viver para comer. Isso não se resume a dar preferência à comida mais elaborada, com mais hortaliças, mais temperos e menos (pelo menos um pouco menos) gordura. Significa ter mais prazer com a comida. Geralmente colocamos no piloto automático e mandamos pra dentro sem sentir a comida direito. Se possível, eu gosto de transformar o ato de comer numa celebração. Mais do que a moderação, esse pra mim é o verdadeiro sentido de comer para viver.


Um exemplo disso é que todo mês um grupo de amigos meus se reúne na casa de alguém para preparar um jantar e beber cerveja e vinho de boa qualidade. É muito melhor que ir a uma pizzaria e tomar chopp. Dividimos os gastos por pessoa e parte que cabe a mim e ao meu marido é o equivalente ao que um casal gastaria para jantar fora. Mas se fôssemos comer e beber essas coisas num restaurante gastaríamos muito mais, teríamos hora para ir embora e provavelmente não haveria tanta interação entre as pessoas.


Já ouvi algumas pessoas dizerem que chegaram a uma fase em que não se importam em gastar mais dinheiro para “ter qualidade”, mas na prática isso se traduzia em ir a lugares da moda que cobram três vezes o preço que uma cerveja razoável custa no supermercado e a pessoa tá lá se sentindo fina porque tá pagando pra ter qualidade porque o guardanapo é de pano e não de papel. Essas pessoas não entenderam nada, elas continuam no fast food, só que é um fast food caro e metido a besta com guardanapo de pano.


Programas como o grupo dos jantares é exatamente o oposto ao que encontramos nas cadeias de fast food, nas praças de alimentação dos shopping centers, nos bufês “coma-até-explodir-por-12,99-e-cai-fora” ou algo semelhante, como aquela franquia australiana que serve cebola caramelada e que todo mundo a-d-o-r-a. No grupos de jantares há boa, ambiente agradável, conversa boa, amizade. Esse é apenas um dos jeitos possíveis de se fazer isso, de se opor à refeição alienada em que você não tem nenhuma relação com a comida.


Parei com os fast foods, e, quer saber? Não sinto a menor falta.

Um comentário:

Anônimo disse...

É. Comer é um dos melhores prazeres da vida. E, comer por comer pode ser ainda melhor dependendo das companhias, do ambiente, do tempero, e etc. Só fico frustrado porque gosto daquele churrasco gorduroso, das frituras em excesso que fazem mal, dos doces, das massas, mas tudo em excesso pode prejudicar. Quem manda eu ser medroso. Um dos problemas é abusar. Pesa bastante a vontade de comer tudo isso e, no entanto, prolongar a vida. Mas eu sei que tudo tem um preço. Quem quer pagar?