quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Mudar o mundo sem tomar o poder

O lema do Fórum Social Mundial é "outro mundo é possível". Eu adoro, não só porque eu realmente acredito nisso, mas porque é uma frase muito boa. Pois bem. Hoje eu estava lá debaixo do sol escaldante procurando uma mesa sobre criminalização dos movimentos sociais na mídia. Passa por mim uma moça com uma camiseta que dizia "Mudar o mundo pelo feminismo". Aí eu olhei ao meu redor e pensei que mudar o mundo deve ser até moleza, agora eu quero ver mudar Belém.

Desde que cheguei ouvi reclamações de meus amigos e parentes sobre o caos que o Fórum causaria porque Belém não tem estrutura pra sediar um evento desse porte. Discordo. Todos os anos a cidade fica lotada por causa do Círio de Nazaré, hotel, pousadinha, restaurante, passeio, etc é o que não falta em Belém. O que falta é organização. Por isso tome filas e informações desencontradas, tome engarrafamentos nas adjacências das universidades, tome colaboradores que não sabem informar nada e tome o pior programa de atividades que eu já vi.

Mas a questão não é apenas mudar Belém, é mudar alguns vícios da esquerda, como os de berrar no microfone ou usar o espaço de perguntas para discursar na palestra alheia. Ou deixar de ser bobinho quando fazem-se denúncias que não questionam a responsabilidade de cada um. Um outro mundo é possível, sim, claro. Mas será que outro "eu", outro "você" é possível?

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Fraternidade

Os filhos únicos que me perdoem, mas ter irmãos é fundamental. De preferência mais de um. Irmão é um amigo que a vida te dá de presente, mas que ao contrário das demais amizades, não corre o risco de fenecer porque as vidas das pessoas tomaram rumos diferentes.

Os irmãos sempre terão em comum o fato de serem uma família. Família em geral é uma merda, só serve pra criar neurose, encher o saco no Natal e se intrometer onde não deve. Mas é bom demais ter família. E melhor do que ter família - pai, mãe, tios, avós, primos, cachorro, gato, agregado, papagaio, periquito, gente encrequeira e barulhenta - melhor que isso é ter irmão.

Irmão pra papear durante um dia inteiro. Jogos de tabuleiro, fofocas sobre a tevê, imitações de pessoas que gostamos e que detestamos. E risadas, risadas e mais risadas. Só com os irmãos ficamos a vontade pra falar mal dos pais. Só os irmãos sabem o quanto os pais podem nos deixar loucos e também só eles podem nos desmentir, dizer que exageramos, defender os pais com alguma propriedade. Porque só um irmão sabe os pais que você tem. E só eles sabem têm a empatia necessária quando as coisas não estão indo muito bem.

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Vou-me embora pra Belém. Lá sou amiga de Elvis, o rei. Lá eu tenho o tacacá que quero, na banquinha que escolherei. Vou-me embora pra cidade das mangueiras, meu paraíso perdido. Vou ver meus irmãos, meus amigos, coisas e lugares que me acalmam o coração. Pelo menos por uns dias. Depois eu volto pro olho do furacão. Agora eu sei que consigo passar por isso de novo e continuar viva e sem enlouquecer.
Vou-me embora pra Belém. Um suspiro antes de mergulhar no abismo. Mais do que nunca eu preciso disso. Só Deus sabe o quanto.

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

O bom gato à casa torna

Meu amigo Lincoln disse no post anterior que não aguentaria um bicho que o abandonasse uma vez por mês. É, rapaz, é duro. E não é porque esta já é a terceira vez que ele fica uns dias sem dar as caras que eu deixo de ficar preocupada, mas pelo menos só começo a ficar chorosa quando completam-se 48h de sumiço.

Meu bichano voltou ontem às 5h da manhã, como convém a um bom boêmio. Chegou fazendo alarde e faminto, como convém a um bom boêmio. Todos os gatos são boêmios, libertários e libertinos, porque só assim pra passar 4 dias numa farra a ponto de não vir pra casa nem pra comer. Não dão sinal de vida e ficam magrelinhos que dá dó, mas são bichos tão amorosos que comovem.

Não, meu bichano não voltou pela casa. Isso é difamação de quem não conhece a amizade de um gato. Ele voltou porque sente nossa falta. Comeu e depois ficou deitado do meu lado ronronando. Ficou seguindo eu e meu marido pela casa, todo carente. Ser amigo de um bicho torna a vida mais alegre. Mas a amizade tem dessas coisas, não dá pra querer ter o outro só pra si. Por isso eu deixo ele ser livre. Confesso que isso me deixa doida de vez em quando, mas a alegria que sinto quando ele volta simplesmente apaga tudo.

***

Guilty pleasures (Mas não tão guilty assim)

Com a volta do meu gatinho as coisas começaram a melhorar. Melhorei um pouco, voltei a ir na academia e na natação e devagar estou conseguindo trabalhar na minha dissertação. E agora a tevê está me ajudando também. Não bastasse a ótima série sobre Maysa - que colocava a Amy Winehouse no chinelo não só em termos de voz - agora começou outro BBB. Achei meio fraco o programa de ontem e detestei a divisão da casa. Mas BBB é sempre BBB e eu adoro. Esse ano tem uma paraense que, até agora, aparenta não ser uma idiota, então até já dá pra ter uma favorita.

E como se não bastasse, semana que vem começa uma novela nova. A esta altura do mestrado, uma novela da Glória Perez era tudo que eu precisava. Juro. Tramas que não fazem o menor sentido, personagens estrangeiros que falam português perfeito, sotaques absurdos, núcleos de pobres que sambam e tomam chopp o tempo todo e mais uma cultura que será avacalhada a exemplo de novelas anteriores que retrataram ciganos e islâmicos. Adoro.

Todo mundo tem seus guilty pleasures. Os meus são gostar de novela, BBB e séries como Gossip Girl. E da Britney. Ui!

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Lady Murphy

Eu juro que não quero me deixar abater, quero dar às coisas seu devido peso e ser uma pessoa mais pra cima, mas acho que a Lei de Murphy não só me persegue, como no meu caso ela tá mais pra encosto.
Primeiro eu fui a São Paulo resolver uns problemas e simplesmente tudo deu errado, a começar pelo despertador que não tocou. Aí o meu gato desaparece, eu fico doente no dia que meus pais chegam na cidade e também no dia que estou começando uma nova dieta e tenho um texto de qualificação pra reescrever.

Acho que eu vou precisar de uma daquelas garrafadas das tias do Ver-o-Peso.

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

A terra do meu coração

Eu adoro São Paulo. Estou aqui há quase seis anos. Cheguei morrendo de medo, não conhecia a cidade, não tinha amigos e vinha de um lugar que eu amava, onde tinha amigos maravilhosos. Aos poucos a paulicéia desvairada conquistou meu coração e hoje eu não me imagino morando em outro lugar. Contudo, Belém sempre será a terra do meu coração. Não é porque eu nasci lá, porque nesses meus quase 29 anos de vida eu morei em Belém muito pouco. Nem é porque amigos muito queridos moram lá, porque eu também tenho amigos maravilhosos aqui. É simplesmente porque Belém é uma cidade incrível.

Não sei explicar Belém. Posso ficar horas falando do pôr-do-sol mais bonito do mundo na Estação das Docas, das cores e sabores dos sorvetes Cairu, de como a culinária paraense é divina e como as pessoas se relacionam de um jeito mais caloroso e peculiar. Nada disso chega perto de descrever a cidade, nada disso explica porque meu coração se enche de alegria quando caminho pelos corredores de mangueiras da Praça da República e da Avenida Nazaré ou porque eu olho pra aquelas ruas muitas vezes esburacas e sujas e me entristeço por ver a minha cidade tão descuidada.

Toda vez que vou a Belém desde que me mudei pra cá - e infelizmente foram poucas vezes - eu pergunto por que diabos eu saí de lá. Se nunca tivesse saído talvez estivesse louca para integrar a leva dos paraenses que todos os anos vêm em Êxodo para São Paulo. Não sei, nunca vou saber. O que eu sei é que vir pra cá mudou tudo e mil coisas não teriam sido possíveis. Foi aqui que eu mudei meu modo de ver as coisas. Foi aqui que eu encontrei paz de espírito (um pouco, pelo menos). Foi aqui que conheci meu marido. Foi aqui que eu resolvi que queria fazer outras coisas da vida. Eu tenho sido muito feliz aqui, mas, por razões que eu não sei explicar muito bem, Belém sempre será para mim um lugar mágico. A minha Passárgada. Inclusive porque - e eu já disse isso outras vezes - lá eu sou amiga do Rei.

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

Pro inferno, reformistas!

Tenho poucas certezas na vida. Uma delas é que eu sei escrever. Eu não só escrevo claramente, eu escrevo certo (pelo menos quando eu tenho paciência de revisar meus textos, o que não acontece com muita freqüência neste blog). Mas isso foi até reformarem a Língua Portuguesa e arrancarem de mim um dos meus poucos motivos de orgulho.

Essa reforma é ridícula, pra dizer o mínimo. Com a desculpa de "padronizar" o idioma na meia dúzia de países em que o Português é a língua oficial acabaram dilacerando a última flor do Lácio. Ou sou só eu que sinto os dedos do pé encolherem ao pensar que agora não se acentuam mais os ditongos e que teremos de escrever "ideia" ao invés de "idéia"? Isso e outras atrocidades como colocar hífen onde não existia (antiinflamatório vira anti-inflamatório) ou retirar o acento diferencial de algumas palavras (não há mais diferença entre vêm e vem).

O que vai acontecer é que as poucas pessoas que sabiam escrever corretamente vão ficar perdidas e as que não sabiam vão ficar completamente confortáveis para assassinar a já castigada Língua Portuguesa. Só quem vai vai lucrar com isso serão as editoras, que terão toneladas de livros didáticos para adaptar, livros esses que - adivinhem só - serão comprados pelos governos para serem distribuídos nas escolas públicas. E os livros não-didáticos, cujos preços já estão pela hora da morte, serão acessíveis apenas para milionários.

Desnecessário dizer que Fernando Pessoa, Camões, Drummond, Machado de Assis e todos os grandes escritores desta língua maravilhosa estão todos se revirando em seus túmulos. Fico curiosa em saber o que Saramago acha disso. Da minha parte, além do meu horror estético, há a revolta de ter de aprender a trucidar este idioma que amo tanto, porque é com ele que eu ganho o pão integral diet de cada dia.

quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

Um ano bom

2008 foi um ano muito bom, apesar de todos os momentos difíceis que incluíram a cirurgia do meu pai, a viagem de campo do meu marido e a morte prematura do meu primeiro gatinho, Caramelo. Mas foi bom porque o meu pai se recuperou, meu marido voltou pra casa bem e ainda mais bonito e eu conheci um novo amigo felino, o Zara. Tive alguns surtos dignos de personagens Almodóvar, mas no geral acho que consegui manter a cabeça no lugar. Mudei pra uma casinha legal, parei de fumar, voltei a praticar natação e descobri que realmente gosto de fazer exercícios. Tive minha qualificação de mestrado, consolidei laços com pessoas que já eram queridas mas ainda não eram propriamente amigas, dancei, escrevi, tomei sol, enfim, muito mais coisa boa que ruins.

Uma das coisas ruins foi que meu computador deu problema e isso me obriga a usar o do meu marido. Tenho backup, claro, mas só dos trabalhos acadêmicos e da minha obra literária "séria". Isso me chateou um pouco porque eu havia escrito uma crônica ótima pra começar o ano e ela está lá, inacessível. Paciência. O que eu queria dizer é que no ano passado eu tive alguns momentos bem difíceis, mas o que me fez pensar nesse ano de maneira tão positiva foi o modo como eu me movi no meio do caos. A vida é assim, não?

Deste modo, começo este ano cheia de alegria e de energia pra fazer mil coisas. Tenho presentimentos que este ano será glorioso, que a vida será gloriosa como tem sido desde que eu parei de ter medo de viver. É isso.