Segunda começa uma novela nova, que não bastasse pavoroso título "Viver a vida", ainda é assinada pelo Manoel Carlos, o autor de novela aparentemente mais adorado do Brasil e mais odiado por essa que vos escreve. Manoel Carlos, também conhecido como "Maneco" é o autor das novelas das Helenas, que no passado costumavam ser interpretadas pela Regina Duarte, atriz péssima e careteira, tão intragável quanto as novelas deste autor que tem no currículo pérolas do calibre de Mulheres Apaixonadas, Laços de Família e Por Amor.
Se você não é um fã de novelas isso não deve estar fazendo o menor sentido, porque afinal as tramas de novelas são sempre absurdas e o modo as coisas se desenrolam em geral é um tantinho idiota. Mas há autores e autores e este Manoel Carlos é o porco mais machista e nojento que já se atreveu a escrever folhetins. Pior até que as novelas espíritas, como A Viagem e Alma Gêmea.
Pra começar, as novelas do Maneco são as únicas que ainda têm heroínas virgens, sempre interpretadas por atrizinhas antipáticas como Carolina Dickman ou Gabriela Duarte. E essas heroínas virgens - surprise - sempre comem o pão que o diabo amassou porque o namoradinho/marido pula a cerca a novela inteira com a safada que dá e invariavelmente engravida e acaba morrendo no fim da novela deixando o filho pra virgem criar.
Na última novela dele o filho do rico passou a adolescência transando com a filha da empregada, que inclusive chegou a abortar um filho dele. Ele não casou com ela e ela virou uma louca obcecada (é, porque mulher que dá nas novelas desse cretino sempre tem problemas). No fim, o moço casou com a irmã-caçula-virgem da louca e todo mundo achou assim, super normal. Até pode casar com a filha da empregada, desde que ela seja virgem e loura.
Aliás, isso é outro motivo pra odiar MC: nas novelas dele os pretos sempre são empregados. Nesta que vai começar agora a protagonista, a Helena da vez, será interpretada por uma atriz negra pela primeira vez e ele é uma top model. Mas não se enganem, porque ela veio da favela e a irmã da personagem apanha do namorado, também preto. Falando em preconceito, alguém já viu um casal gay numa novela do MC? Nem eu.
Outra figurinha carimbada das novelas do MC é o rústico-come-todas sempre interpretado pelo José Mayer. Essa é uma característica básica das novelas dele, aliás: homens pegadores, mocinhas enjoadinhas e resignadas e mulheres que dão e não prestam. As mulheres do MC sempre são umas imbecis/doidas/desequilibradas e os homens estão lá de coadjuvantes, pegando quem aparecer (mãe e filha, irmãs, todo mundo da mesma família, melhores amigas). Isso torna as novelas de MC ofensiva pra ambos os sexos. Sim, eu sei que há coisas que aparecem nas novelas dele que acontecem "na vida real". Mas tem que apoiar? Eu boicoto, me recuso a ver essas novelas, não acompanho nem pra falar mal.
Novela boa foi Belíssima, do Silvio de Abreu, na qual todas as mulheres, das mocinhas às vilãs tiveram vidas sexuais-afetivas livres e nenhuma foi punida por causa disso, não teve virgenzinha de branco, nem pegadores profissionais. E assim é nas novelas da Glória Perez e do Gilberto Braga. O tal do Maneco deveria fazer um curso com esses autores pra ver que é possível fazer novela sem ser um babaca reprodutor de preconceitos.