terça-feira, 29 de setembro de 2009

Lost in Translation

É uma sensação estranhamente familiar: ser arrancada da própria rotina, assim, de repente, impressão de não ser mais dona da própria vida, de ser arrastada pelos acontecimentos. Aos poucos algumas coisas vão se arrumando, outras a gente esquece pelo caminho, ainda que tropece nelas de vez em quando. De repente eu me vejo abandonando projetos aos quais me dediquei por meses. Logo eu, que nunca havia me dedicado seriamente a nada. Parece que não vai ser dessa vez.
Um dia desses eu estava celebrando a vida e me sentia muito satisfeita com o rumo que eu estava dando a ela. Então aconteceram tantas coisas, tudo alheio, mas de uma forma que é impossível manter as coisas no lugar, como se fosse uma grande tempestade. Então eu pisco os olhos e minha casa está um caos, não consigo mais ter a mesma disciplina com os estudos, dar conta de tudo que tenho que resolver. Cada dia lido com pedaços de tarefas e ao fim do dia a sensação é que eu não estou dando conta de nada.

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Síndrome de noticiário

Quando eu me mudei pra São Paulo é que me dei conta de como o Pará aparecia no noticiário nacional. Uma notícia pior do que a outra: trabalho escravo, opressão dos sem terra, assassinato de freira militante, menina presa com 30 homens numa cela, além do super sucesso daquele grupo de technobrega, que vez por outra faz com que alguém diga,"Ah, então você é da terra do Calipso"?. Pois é, durma com esse barulho. De vez em quando tenho o consolo de ver minha terra natal como uma boa referência nos cadernos de gastronomia, pois, como sabem os privilegiados, a cozinha paraense é a melhor do mundo.
Seis anos depois da minha mudança, cá estou eu instalada no ABC, onde o punk é pra valer, como diz meu marido. Eis que o noticiário nacional não me ajuda também. "Ah, você mora na cidade da Eloá? Puxa, é perigoso aí, hein?". E ontem explodiu a fábrica não muito longe daqui. Pelo menos deu pra ouvir o estrondo daqui de casa.
Eu tive um editor que dizia que coisa boa não era notícia, era registro. Pois bem. De onde venho ou pra onde eu vou sempre há muita "notícia". Deve ser alguma maldição de ex-jornalista.

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Os meus novos filhos

Essa semana duas criaturinhas chegaram pra alegrar essa minha vida de retinas tão fatigadas. Chamam-se Pandora e Frajola, dois pequeninhos da mesma ninhada que adotamos no gatil municipal. Estão com cerca de dois meses, são muito brincalhões e fofinhos. Eles me deram motivos pra sorrir nesta semana louca.
Adotar de novo em tão pouco tempo me trouxe alguns sentimentos conflituosos. Há três semanas que Zaratustra foi embora e o meu coração ainda dói toda vez que penso nele. Por isso chegou a me dar uma sensação de traição quando eu trouxemos a Pandora pra casa. Eu chorei porque a peguei no colo e pensei no dia que trouxe o Zarinha pra casa. E de vez em quando fico um pouco triste porque as lembranças tão vívidas dele pela casa estão dando lugar ao presente cheio de gracinhas dos meus novos amiguinhos. É difícil porque a gente vai se acostumando com a idéia que de pode ser que ele seja apenas uma linda memória, mas no fundo desejamos lá no fundo que um dia ele vá surgir pelo telhado como se nada tivesse acontecido. No fundo sonhamos que um dia ele e os pequenos se encontrem e sejamos todos uma grande família feliz.
O que eu sei é que esses bichinhos devolveram a luz à minha casa. Por mais saudade e amor que eu tenha pelo Zara há aqui dentro muito amor pra ser dado a gatinhos que precisam de um lar e de cuidados. Eu nunca vou esquecer meu gatinho. Mas eu não poderia fechar meu coração. Eu amei o Zara por ele e pelo Caramelo. E é por todos os meus amigos felinos que eu amarei meus novos filhos.

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Canção amiga



Raindrops keep fallin' on my head
And just like the guy whose feet are too big for his bed
Nothin' seems to fit
Those raindrops are fallin' on my head, they keep fallin'

So I just did me some talkin' to the sun
And I said I didn't like the way he got things done
Sleepin' on the job
Those raindrops are fallin' on my head, they keep fallin'

But there's one thing I know
The blues they send to meet me won't defeat me
It won't be long till happiness steps up to greet me

Raindrops keep fallin' on my head
But that doesn't mean my eyes will soon be turnin' red
Cryin's not for me
'Cause I'm never gonna stop the rain by complainin'
Because I'm free
Nothin's worryin' me

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É isso aí. Cryin' is not for me. Não mais. Não sei se foi excesso de análise ou de Nietzsche. Mas esse tempo já passou.

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Os dias infernais

Primeiro foi o meu gato amado que foi embora. Agora foi a doença do meu pai que voltou. Vai começar tudo de novo. Eu sei que aguento. Se tem uma coisa que o jornalismo me ensinou foi ser produtiva mesmo em condições infernais de ambiente ou coração partido.

O meu está duplamente em frangalhos. Eu ainda nem terminei de chorar a ausência do Zaratustra e agora o câncer, de novo. Eu aguento. Não há outra saída. Ser forte por meu pai, pela minha mãe, pelos meus irmãos que estão longe. Mas é tão duro, meu Deus.

Eu ainda não me acostumei à idéia de que não vou mais acordar com miados e ronrons, toda a alegria que ele dava ao meu lar. Porque é verdade o que dizem, uma casa sem bicho e sem criança é só uma casa, não é um lar. O Zara fazia de nós uma família. Agora somos apenas um casal cheio de saudades pela falta do seu gaatinho.

Eu sabia que um dia ele poderia ir e nunca mais voltar, sendo um gato livre e não-castrado. Mas eu não esperava que fosse logo. A verdade é que eu não esperava que isso acontecesse nunca. Do mesmo jeito que eu não esperava que meu pai ficasse doente de novo, ainda mais tão rápido.

Um dia desses eu estava radiante. Tinha terminado o mestrado bem, apesar de todas as dificuldades, estava muito contente com as minhas decisões, com a minha casa, meu marido, meu gatinho. E o meu pai não tinha mais câncer e eu vi ele e minha mãe chorarem de alegria. Agora eu me pergunto por que isso está acontecendo, onde foi parar minha felicidade, embora eu saiba que a vida segue e eu estou seguindo, apesar dessa tristeza tão grande e dessa sensação de impotência porque realmente não há nada que eu possa fazer pra dar fim a isso.

Os dias infernais estão de volta. E eu continuo, apesar de tudo. Apesar dessa vontade de gritar, de dar socos na parede e nos transeuntes, de afogar as mágoas no álcool ou qualquer outra droga, incluindo o carboidratos e a gordura saturada. Eu aguento porque não tem outro jeito.

sexta-feira, 11 de setembro de 2009

Motivos pra detestar as novelas do Manoel Carlos

Segunda começa uma novela nova, que não bastasse pavoroso título "Viver a vida", ainda é assinada pelo Manoel Carlos, o autor de novela aparentemente mais adorado do Brasil e mais odiado por essa que vos escreve. Manoel Carlos, também conhecido como "Maneco" é o autor das novelas das Helenas, que no passado costumavam ser interpretadas pela Regina Duarte, atriz péssima e careteira, tão intragável quanto as novelas deste autor que tem no currículo pérolas do calibre de Mulheres Apaixonadas, Laços de Família e Por Amor.

Se você não é um fã de novelas isso não deve estar fazendo o menor sentido, porque afinal as tramas de novelas são sempre absurdas e o modo as coisas se desenrolam em geral é um tantinho idiota. Mas há autores e autores e este Manoel Carlos é o porco mais machista e nojento que já se atreveu a escrever folhetins. Pior até que as novelas espíritas, como A Viagem e Alma Gêmea.

Pra começar, as novelas do Maneco são as únicas que ainda têm heroínas virgens, sempre interpretadas por atrizinhas antipáticas como Carolina Dickman ou Gabriela Duarte. E essas heroínas virgens - surprise - sempre comem o pão que o diabo amassou porque o namoradinho/marido pula a cerca a novela inteira com a safada que dá e invariavelmente engravida e acaba morrendo no fim da novela deixando o filho pra virgem criar.

Na última novela dele o filho do rico passou a adolescência transando com a filha da empregada, que inclusive chegou a abortar um filho dele. Ele não casou com ela e ela virou uma louca obcecada (é, porque mulher que dá nas novelas desse cretino sempre tem problemas). No fim, o moço casou com a irmã-caçula-virgem da louca e todo mundo achou assim, super normal. Até pode casar com a filha da empregada, desde que ela seja virgem e loura.

Aliás, isso é outro motivo pra odiar MC: nas novelas dele os pretos sempre são empregados. Nesta que vai começar agora a protagonista, a Helena da vez, será interpretada por uma atriz negra pela primeira vez e ele é uma top model. Mas não se enganem, porque ela veio da favela e a irmã da personagem apanha do namorado, também preto. Falando em preconceito, alguém já viu um casal gay numa novela do MC? Nem eu.

Outra figurinha carimbada das novelas do MC é o rústico-come-todas sempre interpretado pelo José Mayer. Essa é uma característica básica das novelas dele, aliás: homens pegadores, mocinhas enjoadinhas e resignadas e mulheres que dão e não prestam. As mulheres do MC sempre são umas imbecis/doidas/desequilibradas e os homens estão lá de coadjuvantes, pegando quem aparecer (mãe e filha, irmãs, todo mundo da mesma família, melhores amigas). Isso torna as novelas de MC ofensiva pra ambos os sexos. Sim, eu sei que há coisas que aparecem nas novelas dele que acontecem "na vida real". Mas tem que apoiar? Eu boicoto, me recuso a ver essas novelas, não acompanho nem pra falar mal.

Novela boa foi Belíssima, do Silvio de Abreu, na qual todas as mulheres, das mocinhas às vilãs tiveram vidas sexuais-afetivas livres e nenhuma foi punida por causa disso, não teve virgenzinha de branco, nem pegadores profissionais. E assim é nas novelas da Glória Perez e do Gilberto Braga. O tal do Maneco deveria fazer um curso com esses autores pra ver que é possível fazer novela sem ser um babaca reprodutor de preconceitos.

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Tarefas urgentes

Sabem aqueles dias que você tem tanto coisa pra fazer que não sabe nem por onde começa? Pois é. Hoje eu pretendia tirar um passaporte novo, já que o meu está vencido há 3 anos e eu tenho que viajar em menos de um mês. Mas não consegui fazer isso porque meu marido saiu e eu não sei onde ele guardou a certidão de casamento, que eu preciso apresentar se quiser ter um documento pra viajar pra fora do país. Deve ser uma medida pra evitar esposas fujonas.
Fora isso tenho que comprar minha passagem, escrever um pré-projeto de doutorado arrasador e ainda escrever uns dois artiguinhos pra participação em congressos. Minha casa está um caos, meu roteador queimou, de modo que estou sem internet e tenho que usar o computador do marido enquanto ele está fora de casa, pois preciso de internet pra resolver boa parte dessas coisas (projeto de doutorado, pesquisa sobre passagens, solicitação de passaporte).
Eu ainda vou apresentar um texto bem complicadinho hoje, tenho que pagar as contas da casa e ir à academia. Sim, porque eu posso até ficar um tanto desesperada. Gorda, jamais. Tudo isso e o tempo que se assemelha a um dilúvio aí fora. Ah, e amanhã o meu pai tem médico.
Tem dias que a vida provoca mesmo.

sábado, 5 de setembro de 2009

Meu amigo Zaratustra

Zaratustra foi embora há 10 dias. Talvez esteja morto, talvez alguém o tenha levado. De qualquer forma eu não tenho mais grandes esperanças que ele volte. Pensar nele parece uma lembrança distante quando eu olho para todos os cantos da casa e vejo seu fantasma: meu gatinho arranhando a poltrona verde, deitado na minha cama, correndo atrás das bolinhas, pulando pela janela, subindo no meu peito fazendo ronronzinhos de amor. Quase todos os dias eu choro e quase todas as noites eu sonho com a alegria de vê-lo voltar. Sonho que ele chega e eu grito pro meu marido: ele voltou! Ele voltou!
Ontem uma amiga me mandou uma matéria de uma inglesa que reencontrou seu bichano após seis anos de sumiço. Ele estava sendo cuidado por um casal de velhinhos que morava há cinco ruas da casa da mulher. Talvez tenha acontecido algo semelhante. Por hora eu só rezo pra que, se estiver vivo, que esteja sendo bem cuidado. Eu sei que aqui ele teve uma vida boa e que foi feliz. Não sei se isso é propriamente um consolo, mas ele me deu tanta alegria que isso não se esvai assim.
Várias pessoas me diziam que os gatos livres são assim mesmo, que somem de vez em quando até que um dia somem pra sempre. Acho que no fundo eu esperava que ele não sumisse de vez, achei que ele sempre fosse voltar. Eu também não esperava que ele vivesse comigo tão pouco tempo. Também não suspeitava que seria tão duro viver sem ele. É tanta saudade, meu Deus.