domingo, 19 de outubro de 2008

O amor, a amizade e tragédia

Escrevi o texto abaixo há algum tempo e ainda não tinha tido ocasião para publicá-lo até que a tragédia que aconteceu esta semana em Santo André me fez voltar a pensar sobre o assunto. Normalmente eu não ligo pra esses crimes que causam grande comoção na mídia, mas esse me afetou por causa das pessoas envolvidas. Uma menina de 15 anos morta e um garoto de 22 anos com a vida destruída em nome dessa coisa que as pessoas chamam de amor e ao mesmo tempo a amizade da outra menina sequestrada, capaz de voltar ao cárcare a despeito de todas as recomendações contrárias. Fico triste porque duas vidas foram sacrificadas por causa da dor de um coração partido. Porque vivemos num mundo que trata o amor como a coisa mais importante da vida fazendo com que ele se torne a aniquilação da vida.
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Entre o amor e a amizade, não tenho a menor dúvida. Fico com a segunda. Nunca duvidei da superioridade da amizade sobre os relacionamentos amorosos de qualquer tipo, inclusive os familiares. Os laços do amor são pesados e causam dor. A verdadeira essência dos relacionamentos e eu diria até, a alegria da vida e tudo o que há de bonito está na amizade. Mas nós fomos educados na cultura do amor romântico e tendemos a hierarquizar, colocar o amor como a utopia principal da vida.


Eu cuspo no amor romântico. O amor romântico é um tirano que quer tudo para si e que o tempo todo se põe à prova mediante a renúncias e prioridades. Eu quero que você abra mão de seus desejos, eu quero que você faça as minhas vontades, eu quero que você deixe seus amigos e sua família de lado para ficar comigo. Em nome do amor romântico facilmente abrimos mão de tudo o que é nos é importante. Terminamos amizades de anos por conta de alguém com que estamos saindo há três semanas. Deixamos ideais de vida, família, tudo em segundo lugar por conta desse monstro egocêntrico. E ai de você se não largar tudo por causa do amor romântico. “É porque você não ama de verdade”, diz o mundo.


A amizade não reside na ruína. A amizade se fortalece na multiplicidade e não esmorece com o passar dos anos. A amizade não é dois, a amizade é muitos. É o amor em liberdade. O amor familiar não é senão a amizade entre os entes. Não os amos porque temos o mesmo sangue, os amo por causa do que construímos ao longo da vida. Eu os amo porque somos amigos. Os amigos são a família que escolhemos. Não são impostos, como pai, mãe, irmãos, colegas de classe, colegas de trabalho e todas as pessoas que de um jeito ou de outro somos obrigados a conviver.


Quando um amor acaba as pessoas só permanecem ligadas se houver amizade. Sempre me espanto com casais que passaram anos juntos e depois vai cada um pro seu lado, como completos estranhos. Eram amantes, nunca foram amigos. Do mesmo modo, as pessoas ficam com raiva de um ex-namorado, mas nunca se ressentem quando alguém magoou ao seu amigo. Ninguém quer se meter, ninguém se envolve, ninguém quer sentir nada. E são as mesmas pessoas que se dão o direito de julgar o quão verdadeiro é o seu amor.

Não vou dizer estou imune às armadilhas do amor romântico. Não fui criada em outro planeta. Mas jamais terei dúvidas de que amor é só uma palavra e que a amizade é o que há de mais belo e importante na vida.

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Mr. Simpatia

A parte mais chata de estudar Ciência Política é que este assunto está na boca do povo e isso é um prato cheio para palpiteiros. Qualquer um acha que entende muito de política e como o assunto que eu estudo está mais na pauta ainda - política externa dos EUA - aí é que eu sou obrigada mesmo a ouvir bobagens assertivas sobre coisas que eu, estudiosa do assunto, não me arrisco a dar sentenças definitivas.

Na mídia nacional a situação é cômica, porque a torcida por Obama é tão clara que chega a ser constrangedora. Aí tome manchetes sobre o quanto ele está subindo nas pesquisas de intenção de voto, no quanto ele é carismático e popular e ninguém se liga que o sistema eleitoral estadunidense não é igual ao brasileiro. Aliás, quem entende minimamente de política sabe que em eleição tudo é possível. E depois do escândalo na eleição Bush em 2000, aí é que tudo pode acontecer mesmo.

Mas está todo mundo encantado pelo charme do Obama, porque ele é magro, alto e tem um sorrisão bonito. E todo mundo acha que o mundo está menos reacionário porque existe a possibilidade dos EUA terem um presidente negro pela primeira vez. Eu não sei você, caro leitor, mas pra mim o fato de fazerem estardalhaço pelo fato de um negro conseguir alguma coisa pra mim é outra face do racismo. Porque por mais simpático que este candidato seja, basta prestar atenção no discurso dele pra ver que ele não é muito diferente dos outros.

Exemplo: McCain é radicalmente contra o aborto; Obama é a favor quando a gestação oferece risco para a mãe. Ou seja: cara pra dizer que é pro-choice ele não tem. Mas essa nossa imprensa burra e palpiteira fica toda empolgada com o carisma do cara, porque pensa por analogia, não sabem que nos Estados Unidos as eleições não são personalistas como aqui, que lá as pessoas votam muito mais no partido que no candidatos, etc.

Eu simpatizo com Obama, mas não tenho a menor ilusão uma eventual vitória dele vá trazer grandes mudanças nem pros EUA, nem no modo como este país se relaciona com os demais. Porque a democracia é isso mesmo: democracia é processo de alternância de poder, não serve pra mudar nada. O resto é papo de marqueteiros ou de militantes tolinhos.

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Homens, esses palhaços

"Ex-namorado é como vestido velho: você olha na foto e não sabe como um dia teve coragem de sair com aquilo".

Tinha uma amiga que dizia que homem gosta é do cheiro de outro homem. É por isso que quando estamos sozinhas não aparece nada, mas basta você estar sendo bem-amada e bem-comida pra eles aparecerem feito abelhas no mel. Principalmente ex-namorados palhaços.

Eu sou amiga de quase todos os meus ex-namorados. Acho bizarro não ser. Afinal, você passa meses ou anos com uma pessoa divindo mais do que a cama, você divide a sua vida, aquela pessoa se torna seu melhor amigo, seu maior companheiro. Daí um dia pro outro vocês se cruzam na rua e se cumprimentam como dois estranhos. Não, não dá, isso é coisa de gente louca. É um princípio. Claro que muitas vezes você perde o contato ou vai mudando e não tem mais nada em comum e se afasta, mas em geral eu tenho ótimas relações com eles, a não ser que se portem como idiotas como os casos que relatarei abaixo.

Esses dias um ex-ficante da minha adolescência surgiu no meu Orkut. Fiquei com esse cara algumas vezes quando eu tinha 16 anos e voltamos a nos encontrar na faculdade. Ele estava se formando e eu era caloura no mesmo curso. Trocamos olhares, flertezinhos leves, mas por uma série de desencontros não rolou de ficarmos de novo. Normal. O tempo passou e cada um seguiu seu caminho, ele continuou morando na mesma cidade, casou com uma mulher que eu conheço de vista e até tatuou o nome dela do pé (cafonérrimo, mas enfim). Eu vim pra São Paulo, mudei de rumo e casei também. Nunca fomos amigos, mas sempre nos cumprimentamos, afinal somos pessoas educadas.

Da última vez que fui a Belém, há 2 anos, ele passou com a mulher por mim, que estava com meu então noivo. Nos cumprimentamos de longe, clássico "Oi, tudo bem?" e só. Aí ele me adiciona no Orkut e eu achei estranho, afinal faz anos que a gente não troca duas frases, mas sei lá, temos um milhão de amigos em comum e não precisa ser amicíssimo pra adicionar no Orkut, né? Aí hoje eu vejo um scrap dele: "Oi, tudo bom?". Como assim, Bial? Será possível que este moço está de gracinha mais de 10 anos depois? Bem, como dizem as moças do blog aí dos links, Homem é Tudo Palhaço, eu não duvido de nada.

Uma vez eu reencontrei um ex pela internet e estava conversando com ele superanimada, feliz de termos nos reencontrado, afinal ele era um cara muito gente boa. Ele me contou que estava namorando, que ia morar com a menina, que estava tudo indo bem. Lá pelas tantas o palhaço começa a querer relembrar via MSN os momentos tórridos do namoro. Posso com isso? Seis anos depois o palhaço que acabou de me contar que vai morar com a namorada diz que nunca esqueceu nossos "momentos felizes". Claro que eu surtei, falei pra ele que me respeitasse, que respeitasse a própria namorada eu quando me lembrava dele pensava com carinho e achava péssima aquela conversa. Aí ele disse que homem é assim mesmo, mais safado.

Tivemos uma super briga via internet e fiquei mais 2 anos sem saber dele até a semana passada, quando, advinhem só, ele se separou da mulher e me procurou pra conversar no MSN. Eu dei a maior força, claro, deve ser terrível terminar um casamento. Mas confesso que a meus sentimentos em casos assim ficam entre a vaidade e a raiva, afinal são dois homens muito interessantes e eu fico me sentindo quando eles vêm atrás de mim anos depois. Mas, porra, precisa tomar uma bota pra querer ser meu amiguinho? Eu me considero uma boa amiga, mas desconfio muito de homens que só aparecem quando estão solteiros. E acho um pouco falta de respeito, afinal, que parte do anel de ouro na minha mão esquerda não deu pra entender?

Aí quando eu surto sou eu que sou mal-educada, doida, desequilibrada. Bom, eu sou um pouco tudo isso mesmo. Mas tem como não ser?

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Com a palavra, Shakira

Underneath your clothes
there's an endless story,
there's the man I chose,
there's my territory,
and all the things I deserve for being such a good girl.


E porque antes dela ser loira e cantar em inglês, ela foi um huge success na minha adolescência. Porque não tem como ser romântico sem ser brega. Quero dizer até dá, mas não tem muita graça. E porque há mesmo algumas recompensas por ser uma boa moça ;)

Uma última palavrinha sobre Lost

Assisti a todos episódios e achei a série fantástica. Tem suas falhas, como todas as séries, mas consegue prender a atenção e apesar de ter um milhão de personagens, a coisa não fica perdida em núcleos feito uma novela. Sem contar a capacidade de juntarem tanto homem bonito num único elenco. Mas o grande lance, pra mim pelo menos, são os nomes e sobrenomes dos personagens. A mocinha forte, heroína e anti-heroína que se chama Austen, o irresistível canalha que representa o capitalismo chamado Ford. Mas o que me pega mesmo são os filósofos políticos: Locke, Rousseau, Hume, Burke, Bakunin e, mais recentemente, Bentham.

Ao que parece os roteiristas não primaram pela sutileza ao fazer dessa série um libelo contratualista. Tudo justifica o Estado e a constituição da autoridade. Se um dia você for parar numa ilha esquisita logo vai aparecer alguém pra se apropriar das coisas e criar um mercado e as pessoas vão precisar de um líder, porque ou elas vivem juntas ou morrem sozinhas. E precisam de armas também, porque no "estado de natureza" o ser humano é hostil e sai matando sem motivos.

Bem, isso está presente em diversos produtos culturais, é assim que as idéias se fixam de modo que a gente sea convencido a pensar que o Estado e a organização social que conhecemos não é a melhor coisa do mundo, mas é a melhor coisa que inventaram e aí nem ousamos experimentar outra coisa. Em Lost isso não é só interpretação de uma anarquista doida, basta ver que os personagens fodões são os contratualistas e que o único anarquista da história era um doido Highlander corrompido pelo lado negro da força. Se isso não é uma bela forma de avacalhar a anarquia, eu não sei o que é .

Resta agora saber como o utilitarismo de Bentham vai entrar nessa história. Aguardo pelas próximas temporadas ansiosíssima.

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Como assim, Bial?

Quando a gente pensa que já viu de tudo aparece o irmão da Sandy pagando de roqueiro. É, o Júnior. A banda chama 9 Mil Anjos e é medíocre, como se poderia esperar. Até aí, normal, a maioria das bandas que tá na mídia é mesmo muito fraca. Senti um pouco de pena do Champignon, afinal ele parece ser um bom baixista e já tocou em uma banda grande. Horrível, mas grande. Duvido que essa aí vá dar em alguma coisa, apesar de toda grana que o irmão da Sandy deve estar pondo na coisa. Motivo simples. Ao contrário de outros estilos musicais, o povo do rock é chato e não esquece fácil. Tudo bem que o seu alvo são adolescentes ex-fãs da duplinha de irmãos, mas as pessoas sabem que é o irmão da Sandy. Não dá pra levar a sério.

Papo de roqueiro velho

O problema de bandas já consagradas é que quando elas finalmente tocam no Brasil não estou mais com paciência de fazer um show de hits. Pensando bem, deve ser um saco tocar a mesma música por quinze anos, mas sejamos honestos, é disso que o povo gosta. Show com músicas obscuras só dão certo pra fãs xiitas. O REM vem aí e provavelmente fará uma apresentação baseada no seu novo disco que, cá entre nós, não é lá essas coisas. Ah, eu quero ouvir "The end of the world as we know it", " Man on the moon", "Everybody hurts", "Pop song 89", "Imitation of Life". Provavelmente se tocarem hits vão mandar Losing my religion e, por Deus, isso sim é uma música que ninguém aguenta mais. Enjoou mais que Shiny Happy People.
É claro que eu reclamo, mas irei. Na verdade isso é mais uma frustração antecipada que um resmungo. Vamos torcer pra que eles mudem de idéia.

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Ontem eu assisti ao VMB na companhia online de um amigo igualmente old school. A maior parte da cerimônia foi deprimente e lamentável, vergonha alheia pública com direito a playback (e vaiais) na apresentação do Bloc Party e uma inacreditável (pra dizer o mínimo) cena de masturbação da vocalista do Bonde do Rolê durante a apresentação do grupo.

Perguntei ao meu amigo se quando a gente era mais novo tudo já era uma merda e ele me disse que não, que quando tínhamos 20 anos a internet não tinha tanta força quanto hoje e que o acesso à música e à divulgação era mais limitado, por isso tinha menos espaço pra lixo. É um argumento um tanto elitista, mas faz sentido. Sem contar que hoje o hype é mais descarado que nunca. Uma coisa é o mau gosto característico da geração emuxa. Mas pelo menos o público que estava lá vibrava quando apareciam Fresno, NX Zero e outras porcarias do gênero. Já o tal do Bonde do Rolê não é apenas uma piada de mau gosto, muito ruim e muito ridícula. (Não ridículo no sentido de tão ridículo que é legal, como o hard rock. Ridículo simplesmente). Era uma banda que não empolgava ninguém e que ainda levou umas vaias.

O problema da MTV Brasil é que lá tá cheio de trintão e quarentão que se acha garoto. É aquela coisa que eu falei sobre crescer, as pessoas acham que têm que ser adolescentes a vida inteira, porque quem cresce é velho, chato e careta. Então eles tentam fazer alguma que atinja os adolescente ao mesmo tempo que tentam "sofisticar" a premiação. Então ao mesmo tempo que colocam um tributo a uma baiana que ninguém de menos de 25 anos conhece, colocam um prêmio pra vídeo mais bombado no You Tube. Óbvio que o tiro sai pela culatra e no fim sai uma tosquice que não agrada nem a gregos e tampouco a troianos.

A única coisa boa de toda a noite foi um clipe no estilo "We are the world" do hit-piada "Furfle feelings" do ótimo Marcelo Adnet, que passou a cerimônia toda sendo boicotado pelo invejoso do Marcos Mion. Há cinco anos Mion era o Adnet, mas subiu pra cabeça e ele perdeu a graça. Vamos torcer para que o querido da hora seja mais esperto.