quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

Ontem eu amanheci com dor de garganta e passei a tarde no sofá com meus gatos e um cobertor. Meu marido fez chá e hoje eu amanheci melhor. Na verdade ontem ao me deitar eu me senti perfeitamente feliz. De repente me senti imensamente grata por toda sorte que eu tenho na vida, porque eu tenho amor, tenho família, tenho gatinhos e amigos. Tenho tempo, tenho saúde, tenho dois braços e duas pernas, posso ver, ouvir e falar, tenho saúde. Não vivo num lugar em guerra, a chuva não levou minha casa. Parece óbvio, mas é algo que só funciona quando você mesmo chega a essas conclusões. A última coisa que um deprimido quer é que lhe digam o quanto tem sorte. Dormi feliz e amanheci bem. Hoje eu me levantei ainda devagar, mas consegui respirar melhor e aquele vazio que estava no meu peito, aquela sensação de estar desaparecendo se foi. E a dor de garganta também.

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Always look at the bright side of life

Na minha geladeira não há carne, queijo amarelo, manteiga, bebida alcoólica ou doces. Na minha geladeira há pão integral, gelatina diet, queijo branco, verduras e legumes. Deste modo, quando eu estou deprimida e sinto um desejo voraz de compensar as minhas frustrações com comida, o máximo que dá pra fazer é botar uma fatia de queijo branco light a mais no meu pão integral com margarina diet. Patético.

Nessas horas eu sinto falta do tempo que mantinha uma garrafa de vodca no frigobar e bebia pura quando estava triste, entediada ou celebrando. Mas eu não aguento mais beber vodca pura, não sei mais trabalhar em estados alterados de consciência, não sei mais chorar, não escrevo mais nada que preste há meses, não rôo mais as unhas e o meu estado civil não me permite que eu compense da mesma maneira que fazia quando solteira.

A análise tirou isso de mim. Depois de alguns anos de divã você não deixa de ficar deprimido de vez em quando, ainda mais quando isso faz parte do seu transtorno. Você aprende a controlar os efeitos das alterações de humor para que eles afetem minimamente a você e àqueles ao seu redor. Isso faz com que que eu tenha uma vida "normal" e essas depressões sem bebedeiras, sem me empanturrar, sem cigarro, sem unha roída, sem choro e sem ganhos secundários.

Então eu me deito no sofá, vejo seis episódios de Grey's Anatomy seguidos pra não pensar que estou enrolando pra não fazer tarefas com prazo determinado porque estou com medo de não conseguir, pra não ficar fazendo projeções inúteis de como a minha vida seria se eu tivesse tomado algumas decisões ao invés de outras, pra não pensar no quanto eu me sinto sozinha. Ironicamente, o que me consola é que toda vez que eu subo na balança ela marca 5kg a menos que alguns meses. Posso não estar bem, mas pelo menos estou magra. Por mais fútil que isso possa soar.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

O que você faz quando um dia começa a questionar decisões importantes que tomou nos últimos cinco anos? Você fica muito triste e quer desaparecer. E voltar pra análise.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Os livros que eu não li

Esse ano quero ler Borges e Cortázar. E Lorca, por causa da minha amiga que o estuda. E Nelson Rodrigues, porque eu vi os filmes e as séries, mas nunca o autor. Eu tenho visto muita série, muita TV e alguns filmes. Esse ano consegui eliminar o BBB da minha vida. Perdeu a graça. Estou sentindo falta dos livros. Livro mesmo, livro valendo, não essas coisas que tenho que ler o tempo todo por obrigação. Estou com saudade dos livros que eu não li. De sentir o cheiro do livro novo e ficar embasbacada com algum parágrafo e relê-lo várias vezes pra guardar um pouco, pra que ele não acabe, pra tentar conservar um pouco do encantamento que as palavras produzem na primeira vez que as lemos.

Mas primeiro eu tenho que dar conta das minhas leituras pro projeto.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Alma de criança

Cena 1: Há uns meses eu estava conversando com uma amiga sobre ter filhos. Eu estava falando do meu receio porque é "puta responsabilidade, meu". Ela disse que esse negócio de fazer planos pro futuro já era, que o futuro é agora, que nós já somos adultas, que eu estou casada há um tempinho, estou feliz e é isso que as pessoas felizes no casamento fazem.

Cena 2:
Um dia eu e meu marido fomos nos deitar e ele entrou no quarto um tanto perplexo. Disse que se surpreendeu ao fechar a casa pra dormir, que lembrou do pai dele fazendo isso e me disse que "nós viramos pais de família".

Cena 3:
Há umas semanas eu conheci Catarina, sete anos, sobrinha de uma grande amiga. Eu não sei interagir com criança, falo com elas como se fossem adultos e pra diverti-los falo coisas curiosas-porém-divertidas, como "você sabia que seu pé é do tamanho do seu antebraço?" ou "sabia que é impossível lamber o próprio cotovelo?". Dias depois minha amiga me disse que Catarina não me achou com jeito de adulto. Que adulto só quer saber de "resolver as coisas" e que eu me divertia. Disse que eu tinha alma de criança. Foi um dos elogios mais bonitos que lembro ter recebido na vida.

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Essas três cenas ilustram momentos de passagem. Quando foi que o futuro começou? Quando foi que nos tornamos adultos? O que separa os anos vividos da alegria de viver das crianças? Eu já pensei bastante sobre isso, mas não é algo que me afete muito. Não hoje em dia pelo menos. Prefiro ir vivendo ao invés de ter crises a respeito do inevitável.

Melhor envelhecer do que morrer. Houve um tempo em que eu pensava muito na morte e achava insuportável a idéia de viver sabendo que vamos morrer. Minha crise era em relação ao sentido da existência e sobre o que há depois que todas as luzes se apagam. Por isso eu tenho vontade de de socar as pessoas que surtam porque os anos estão passando e o corpinho/rostinho não é mais o mesmo. Vai ser fútil assim no inferno. Eu tenho medo é de perder a sanidade, de não saber mais quem sou, de ter uma doença grave e morrer aos poucos, de ser tão dependente a ponto de não poder mais ir ao banheiro sozinha.

Enfim, eu não sei se o futuro já começou. Ontem eu me matriculei na autoescola e isso me deixou atordoada. Eu acho que me senti "resolvendo coisas". Não que no meu dia-a-dia eu não tenha coisas pra resolver. Mas eu luto pra que a minha vida não se resuma a isso. Eu estudo não para obter títulos, mas pelo prazer da jornada. Talvez tenha sido isso que Catarina viu nas poucas horas que passamos juntas. Eu estou neste mundo a passeio, não pelos objetivos a atingir. Já dizia o sábio Humberto Gessinger, "não precisamos saber pra onde vamos, nós só precisamos ir. Sem motivos, nem objetivos, estamos vivos e só". Não sei se isso faz de mim mais ou menos adulta, mas com certeza me faz feliz.

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Para além da esquerda e da direita

Eu nunca aprendi a diferença entre a esquerda e a direita. Literalmente. Quando eu estava no jardim de infância a professorinha ensinou pra classe o lado esquerdo e o lado direito. No começo era fácil, a mão direita é a mão que se escreve. Mas aí a coleguinha disse "professora, e eu que sou canhota?" e já começou a ficar complicado. Depois, a professora, que estava de frente para a classe, disse que o lado direito que ela estava falando era o lado direito da classe, que era a esquerda dela. Não entendi mais nada.

Chegando fui contar à minha mãe às novidades. Disse que havia aprendido a esquerda e a direita. E mostrei as mãos trocadas. Minha mãe explicou várias vezes, tal como havia feito a professora, mas ainda assim aquilo não fazia o menor sentido. Minha mãe perdeu a paciência e apontou para um sinal que tenho sobre a mão esquerda e disse "pronto, é essa a sua mão esquerda". Assunto resolvido, não precisei pensar nisso por anos.

Até hoje quando preciso saber qual é a esquerda basta olhar pras minhas mãos. Se vou dar instruções a um taxista, olho discretamente para a mão onde está minha aliança e digo "vire à esquerda na próxima". Em breve pretendo a aprender a dirigir (finalmente) e daí saberei se isso é realmente um problema. Sorte a minha que dá pra conferir o sinal da mão sobre o volante.

Outro dia eu estava contando essa história numa rodada familiar de pôquer. Porque estava com dificuldades em saber em que direção o jogo roda e é mais fácil pra mim decorar "sentido horário" do que "pra direita". Foi então que minha irmãzinha, cartesiana roxa, descobriu a fonte do meu problema: "Não era pra ficar pensando, era pra aceitar. Tu não podias simplesmente aceitar?".

É, meus caros... Anos depois eu fui parar na Ciência Política e aí que ficou difícil mesmo distinguir entre esquerda e direita. E eu ainda não aprendi a simplesmente aceitar.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Trilha sonora para o banzo

Antes que seja tarde (Pato Fu)

olha, não sou daqui
me diga onde estou
não há tempo não há nada
que me faça ser quem sou
mas sem parar pra pensar
sigo estradas,sigo pistas pra me achar

nunca sei o que se passa
com as manias do lugar
porque sempre parto antes que comece a gostar
de ser igual, qualquer um
me sentir mais uma peça no final
cometendo um erro bobo, decimal

na verdade continuo sob a mesma condição
distraindo a verdade, enganando o coração

pelas minhas trilhas você perde a direção
não há placa nem pessoas informando aonde vão
penso outra vez estou sem meus amigos
e retomo a porta aberta dos perigos

na verdade continuo sob a mesma condição
distraindo a verdade, enganando o coração