terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

Pra não dizer que não falei do Oscar

Aviso: esse não é um texto sobre cinema. Dito isso, vamos lá.

* Adorei o Hugh "Wolverine" Jackman apresentando. Não dizem que uma imagem vale mais que mil palavras? Nesse caso, totalmente verdade. Uma imagem do delícia vale mais do que mil palavras ditos por comediantes chatos que só americano curte.

* Alguém por favor avise à Beyoncé que o personal stylist dela a odeia. Que vestido era aquele, senhor? Sabem quando dizem que "fulana é tão linda que até enrolada em papel de bala fica bem"? Ontem este mito caiu e nem foi preciso chamar os Myth Busters.

* Falando em visual equivocado: o que foi aquele vestido da Sarah Jessica Parker? Bolo de noiva, a revanche? Credo.

* Não sei o que fazem com a Penélope Cruz. Ela usa roupas boas, mas nunca se vê no tapete vermelho uma Penélope que faça justiça àquele mulherão dos filmes mais recentes dela. Nesse caso, acho que é um complô do cabeleireiro e do maquiador dela.

* Na verdade, eu acho que a cada ano que passa os figurinos vão ficando mais chochos. Mas vamos ser justos com três que arrasaram: Kate Winslet, Marisa Tomei e Anne Hathaway. Mire-se nessa moças quando você aí leitora for convidada para assistir ao Oscar.


* Adorei o discurso pró-gay do roteirista de Milk. Fico tão emocionada que até me esqueço que não sou gay também. Juro.

* Vi hoje o filme que ganhou no ano passado (Onde os fracos não têm vez) e achei chatíssimo.

* Foi impressão minha ou não tivemos nenhum filme "meio alternativo" maravilhoso este ano? Cadê o "Juno", o "Pequena Miss Sunshine" de 2009?

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Duas notas sobre o carnaval

Como se pode imaginar, eu não sou uma pessoa carnavalesca. Não gosto da música, não gosto de aglomeração, não gosto de gente suada, não gosto de lugares que lotam e mesmo quando eu era solteira eu não tinha interesse em beijar 30 pessoas numa noite. Pra falar a verdade eu acho isso um tanto nojento. Enfim, este feriado sempre foi um período de recolhimento, de ficar em casa vendo filmes, namorando, assistindo um pouco dos desfiles pela televisão e morrendo de rir das pérolas que os comentaristas soltam revelando seu profundo conhecimento sobre antropologia, história e cultura mundial.

Mas na semana passada, sabe-se lá como, eu fui parar na melhor festa de carnaval da minha vida. Imaginem uma festa de carnaval, assim, meio indie. Pois é. Era na casa da amiga de uma amiga, cheia de pessoas bonitas que eu não conhecia. Tinha um tanque mágico cheio de gelo e que a cada cerveja que se pegava brotavam mais duas ou três. E estava tudo decorado, máscaras na parede, óculos, tiaras, boás e todas essas coisas que ficam ridículas nos casamentos e que são perfeitas pra uma festa de carnaval. E tinha petiscos e sandubas de metro para os vegetarianos. A dona da festa nem era vegetariana, mas, como se pode notar, era muito fofa. Pessoas que pensam nas restrições alimentares dos outros são muito gentis.

Tocaram aquelas marchinhas de carnaval antigas e o povo fazia trenzinho e pulava e sambava. Passei a noite conversando com dois amigos muito queridos, mas no fim até eu me empolguei e saí cantado "olha a cabeleira do Zezé". Pra completar chegou um rapazinho que deixou todas as moças do recinto (e uns rapazes também) encantadas: um bebezinho de seis meses que no colo do pai dançou e aproveitou toda a festa. Um verdadeiro folião. Fiquei querendo eu mesma ter um daqueles pra levar pras festas também.

***

Ontem eu estava vendo um pouco da cerimônia do Oscar, um pouco dos desfiles e a reprise de Desperate Housewives. Aí teve o desfile da Beija-Flor e apareceu o Neguinho, que a despeito do tratamento contra o câncer, estava lá felicíssimo puxando o samba da escola. Provavelmente eu devo se a única pessoa que não gosta de carnaval que chora vendo esse tipo de coisa, mas acho que dá pra entender. Eu sempre achei muito babaca pessoas que não são do Rio de Janeiro torcerem para uma escola de samba, mas este ano eu encontrei a minha favorita. Na verdade eu torço pelo Neguinho. Só que convive de perto com o câncer sabe a inspiração que isso pode ser pra quem está lutando.

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Um fumante incomoda muita gente...

Em meus dias esfumaçados eu costumava dizer que só havia uma coisa pior que um não-fumante, um ex-fumante. Ex-fumantes são como aquelas pessoas que dão depoimentos de conversão em igrejas evangélicas do tipo "eu era um bêbado, vivia drogado, mas encontrei Jesus". Só se fanatizando no extremo oposto é possível deixar algo que você gosta tanto. E eu gostava de fumar. Ah, como gostava! Perdeu um pouco a graça depois que o meu pai foi diagnosticado com um tipo de câncer que só dá em quem fuma. E mesmo assim eu levei seis meses pra largar. Só depois que ele fez radioterapia e não deu certo e teve que operar.

Vai fazer um ano que parei de fumar. Mas devo dizer que estou muito bem assim, embora de vez em quando me sinta levemente patética. Porque como todo ex-fumante, eu também sou mais chata que quem nunca fumou. Vai ver é inveja. Eu sei é que hoje em dia dou graças a Deus quando estou num ambiente que não permite cigarro e fico incomodada com o cheiro nas minhas roupas quando saio com amigos fumantes. Sinto o cheiro da fumaça a quilômetros e fico enjoada. É que ninguém conta, mas depois de um tempo sem fumar a gente desenvolve um super olfato. E fica fresco.

Lembro de quando ia na casa das pessoas e ficava puta porque não podia fumar na janela e tinha que descer pra fumar no térreo. Hoje quando as pessoas vêm na minha casa eu tenho vontade de mandar todo mundo ir fumar do lado de fora do portão porque a minha casa sempre fica fedendo uns três dias quando as pessoas fumam aqui. Ridículoi, hipócrita, eu sei. Mas como eu digo, nada pior que um ex-fumante. Se um fumante incomoda muita gente, um ex-fumante se incomoda muito mais.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

A praça é do povo. E dos animais também.

Ontem passou na tevê a história do cão Bob, habitante de uma praça de uma cidade que não lembro nome. Bob atacou alguém e a Prefeitura da cidade determinou que ele não poderia mais ficar lá. Mas a associação de amigos da praça e os taxistas que ali fazem ponto se uniram pra libertar Bob. Ele foi castrado e voltou a habitar a praça, para alegria geral de seus frequentadores.

Tirando a parte da castração (não concordo, não faço), achei a história linda. Lugar de bicho é na rua, solto, alegrando a nossa vida e sendo livre.

Meu gato é criado livre. Algumas vezes ele some e eu sofro muito. Mas é maravilhoso vê-los pelos quintais da vizinhança caçando borboletas ou então passeando pelos telhados. Parece que ele é dono do mundo. E é.

Ocupar os espaços. A rua é minha, a rua é tua. A praça é do povo. E dos bichos, das crianças e de todos aqueles que já nasceram pobres, porém, já nasceram livres.

E abaixo os bancos anti-mendigo das praças de São Paulo!

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Man of science, man of faith

Assisti a um documentário sobre uma menina na Índia que nasceu com dois pares de braços e dois pares de pernas. As pessoas da aldeia onde ela nasceu a reverenciaram imediatamente pois acreditaram que a menina era a reencarnação da deusa Lakshmi, que também possui oito membros. Mas aí apareceu o médico médico ocidental para dizer que não, que a menina não era deusa coisa nenhuma, era deficiente e poderia ter uma vida normal. Cá entre nós, a maneira dos indianos de lidar com as diferenças é muito melhor do que a nossa.

Mas aparece o médico ocidental. E o médico ocidental é todo cheio de conceitos para dar a criança uma vida normal. Penso em Foucault se contorcendo todo na tumba. Há mais de 30 anos ele já falava do uso das ciências, em especial da medicina, para tornar todo mundo são, produtivo e igual. Mas sempre tem um pra cantar as maravilhas das ciências. E aí falam de tornar a sua casa segura, sua comida segura, seu modo de vida seguro porque afinal, se você fizer tudo direitinho e seguir as palavras de ordem do médico e da mídia será premiado com uma vida longa e “normal”.

Então não fume, não foda demais, beba socialmente, controle seu peso, faça exercícios regularmente, não durma demais ou de menos, esterilize o ambiente em que você vive, blablablá. Se fizer tudo isso talvez você consiga prolongar a vida além dos limites da própria vida e quem sabe, se escapar de morrer de infarto ou câncer você pode passar dos 80 e viver mais uma década na companhia do Parkinson ou Alzheimer. Meu amigo tem um avô que completou 90 anos mês passado, ainda forte, são e ativo. Se for assim vale a pena viver tanto. Mas quantos têm essa sorte?

Ah, não me fale do progressos da ciência! Não tente me convencer que é vida o que tem a minha avó, que aos 80 e poucos não anda, não fala, não vai ao banheiro sozinha e não reconhece mais ninguém. Não tente me convencer que é vida passar por todo tipo de mutilação para continuar vivo porque viver é algo que não está nas mãos dos médicos nem de nós mesmos. Não me diga que é bom adiar o inevitável. Não me fale das vantagens do parto cesariano ou do bem que a cirurgia plástica pode fazer por você. Eu não quero saber.

Ontem eu vi no noticiário um famoso cantor que vai entoar o samba-enredo de sua escola neste carnaval. Ele está com câncer, no meio do tratamento, careca. Mas estava vivo. Não vivo do jeito que as ciências querem nos manter. Ele estava cheio de potência de vida e de alegria e não ia perder o carnaval mesmo com os efeitos da quimioterapia no corpo – e pra quem não sabe a quimioterapia derruba o mais forte dos homens. É isso que as ciências ainda não nos ensinaram: a viver com alegria e arte. As ciências só nos ensinaram a manter o organismo, não a vida. Eles até ensaiaram criando os remedinhos, alegria encapsulada e artificial. Mas se for pra se alegrar sob o efeito das drogas é melhor usar aquelas que médico nenhum receita.

Certa vez presenciei um minidebate entre dois amigos. Um escreveu na lousa “Mais poetas, menos cientistas”, ao que o outro respondeu “Mais cientistas poetas e mais poetas cientistas”. É com isso que eu concordo, é disso que precisamos. De uma ciência que leve em consideração a vida e de uma vida que se beneficie da ciência sem se tornar obediente cego e estupido. Uma vida menos ordinária.

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Limão, limonada

O inferno astral é o período de um mês antes do seu aniversário. Bem, meu aniversário é dia 4 de março, mas o meu inferno astral se antecipou e apareceu no dia 20 de janeiro, quando recebemos a notícia de que meu pai está com câncer. De novo. Tive uma viagem providencial para Belém na qual tentei pôr a cabeça no lugar. Mas aí eu esqueci parte das lembrancinhas que havia comprado, pegaram meu isopor lotado de açaí no aeroporto e a assistência técnica ainda vai levar mais duas semanas pra me entregar meu computador e eu com uma dissertação pra entregar daqui a 2 meses. E pra completar o meu marido está em viagem de campo.

Uns dias antes havia pedido alta da análise que frequentei por quase 3 anos porque percebi que havia chegado o momento que eu poderia caminhar sozinha. Aí cai tudo isso na minha cabeça e eu penso: you've got be kidding be! Ok, isso não caiu propriamente na minha cabeça, afinal não sou eu que estou doente e tendo que passar pelo tratamento devastador que é a quimioterapia. Então o negócio é respirar fundo e seguir em frente. Sou jovem, sou forte, aguento o tranco. Tenho que aguentar pelos meus pais. É verdade que de vez em quando eu tenho vontade de esmurrar as pessoas lerdas que atrapalham as calçadas e tenho vontade de sair correndo e fugir simplesmente. Mas por enquanto as coisas estão sob controle.

Na verdade eu queria muito pensar que isso é inferno astral, que no dia 5 de março tudo estará uma maravilha. Que não haverá mais choro, nem enjôos e em essa tristeza muda que paira no ar. Que eu não vou me sentir mais tão cansada por ter que me dividir entre a casa dos meus pais e a minha casa e que vou poder passar dias a fio deitada no sofá vendo BBB e novela, comendo chocolate e mimando meu gato. Infelizmente a vida real não segue um calendário fixo, mas eu tenho o consolo de saber que, no que depende de mim, se ainda não consegui fazer aquela doce limonada, ao menos estou conseguindo deixar umas partes da vida menos azedas.

domingo, 8 de fevereiro de 2009

Os tubarões são imunes ao câncer

Primeiro eram olhos amarelos
crocodilo à espreita
do pássaro indefeso.
Olhos de sangue, olhos de fúria.

Depois vieram os olhos tristes
marejados como os de um felino doente
um cão sem dono
um elefante que caminha em silêncio resignado
para a morte.

(E há o lamento da manada. Sim, este é o curso da vida. Mas como é possível se acostumar?)

Vejam, ela espera
ave de rapina
para se alimentar do que sobrou.
E sobrará muito pouco.
Ela sabe que que as primeiras coisas que se vão são os olhos
de crocodilo gato cão elefante
de todas as bestas e víboras letais
Ela lhe devora os olhos enquanto ele é comido por dentro
enquanto a praga se espalha
mastigando lentamente cada naco de carne
de seu corpo que agora é frágil como o de uma criança.

Sentamos e esperamos
numa despedida lenta e dolorosa
que se arrasta por meses, anos.
Quem pode saber?

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Algumas proposições

Permacultura quer dizer "cultura permanente". Na prática isso se traduz por um modo de vida mais sustentável, que respeite o ambiente em que vivemos aproveitando ao máximo os recursos naturais. Exemplo: nas construções isso significa aproveitar melhor a luz natural, fazer sistemas de encanamento que permitam reutizar a água, etc. Desde modo você não precisa gastar rios de dinheiro na conta de energia e pode usar a água do seu banho e da lavagem de roupa/louça pra descarga e evita usar 10 litros de água limpa pra jogar seu cocô no rio. Mas tem muito mais coisa.

A oficina de permacultura que eu assisti no FSM falou sobre como aplicar esses princípios na vida urbana, na qual dificilmente você construirá sua casa ou terá espaço suficiente para uma horta. Falaram um bocado de consumo consciente, que é um termo que eu considero particularmente irritante, mas vamos lá. Levar sua própria sacola, reutilizável, quando for ao supermercado e evitar ao máximo pegar as sacolas plásticas, que demoram a se decompor e entopem bueiros, etc. Ler mais no computador e evitar imprimir, tirar xerox dos dois lados do papel e por aí vai. (Falaram de outras coisas tb, como usar a bicicleta, captar água da chuva... mas tô com preguiça de escrever tudo).

Da minha parte eu tenho duas proposições a acrescentar. A primeira é que não adianta nada ter sempre sua sacolinha de pano quando vai ao supermercado se no seu cotiano, toda vez que se levanta pra tomar água/café no trabalho você usa um copinho plástico novo. A gente que é mulher carrega tanta quinquilharia na bolsa mesmo que não custa acrescentar um copinho durável ou um squeeze. E quem é homem ou não carrega bolsa/mochila, dá pra deixar um recipiente na mesa/gaveta do trabalho, né?

A segunda proposição é: fumantes, cuidem de suas bitucas! De que vale encher a bolsa de plástico e papel porque você não achou uma lixeira pra joga-los fora se você joga suas bitucas por onde passa? Eu já fui fumante e já joguei muita bituca por aí. Mas hoje existem umas bituqueiras ótimas que servem como cinzeiros portáteis. Se você não liga pra nada disso, se quer mais que o mundo se exploda, ok. Faça isso pelo estilo. Who cares! Afinal, ser ecológico tá super na moda!