sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Limão, limonada

O inferno astral é o período de um mês antes do seu aniversário. Bem, meu aniversário é dia 4 de março, mas o meu inferno astral se antecipou e apareceu no dia 20 de janeiro, quando recebemos a notícia de que meu pai está com câncer. De novo. Tive uma viagem providencial para Belém na qual tentei pôr a cabeça no lugar. Mas aí eu esqueci parte das lembrancinhas que havia comprado, pegaram meu isopor lotado de açaí no aeroporto e a assistência técnica ainda vai levar mais duas semanas pra me entregar meu computador e eu com uma dissertação pra entregar daqui a 2 meses. E pra completar o meu marido está em viagem de campo.

Uns dias antes havia pedido alta da análise que frequentei por quase 3 anos porque percebi que havia chegado o momento que eu poderia caminhar sozinha. Aí cai tudo isso na minha cabeça e eu penso: you've got be kidding be! Ok, isso não caiu propriamente na minha cabeça, afinal não sou eu que estou doente e tendo que passar pelo tratamento devastador que é a quimioterapia. Então o negócio é respirar fundo e seguir em frente. Sou jovem, sou forte, aguento o tranco. Tenho que aguentar pelos meus pais. É verdade que de vez em quando eu tenho vontade de esmurrar as pessoas lerdas que atrapalham as calçadas e tenho vontade de sair correndo e fugir simplesmente. Mas por enquanto as coisas estão sob controle.

Na verdade eu queria muito pensar que isso é inferno astral, que no dia 5 de março tudo estará uma maravilha. Que não haverá mais choro, nem enjôos e em essa tristeza muda que paira no ar. Que eu não vou me sentir mais tão cansada por ter que me dividir entre a casa dos meus pais e a minha casa e que vou poder passar dias a fio deitada no sofá vendo BBB e novela, comendo chocolate e mimando meu gato. Infelizmente a vida real não segue um calendário fixo, mas eu tenho o consolo de saber que, no que depende de mim, se ainda não consegui fazer aquela doce limonada, ao menos estou conseguindo deixar umas partes da vida menos azedas.

4 comentários:

Unknown disse...

nunca mais eu reclamo da minha vida... força, se precisar to aqui. e aí tb a partir de 28 de fevereiro ate 9 de março ;)

Rita Loiola disse...

é, acho que a alta da análise fez sentido... saudades, viu? (depois que voltei das estranja fiquei assim, morrendo de saudades das pessoas...)

Patrícia Pereira disse...

Puxa, Fhoutz. Conversamos tão rapidinho no MSN que nem deu para perceber como sua vida estava confusa :-(
Triste a história do seu pai, mas ele se recupera, mais uma vez, acredite.
No mais, passei aqui para dar uma espiadinha e conhecer o blog. Parabéns!

Anônimo disse...

Viver significa repelir tudo aquilo que em nós quer morrer. A nossa permanência depende de nossa ação cruel e implacável contra tudo que em nós se torna doente, fraco e velho. Ainda assim, o que ameniza o sofrimento é acreditar que todo o nosso esforço de viver não é em vão, até que a morte nos leve para sempre. Pensando bem, já tive a graça de ter nascido. Pior seria nunca ter existido.