quinta-feira, 4 de março de 2010

30 anos esta noite.

Só me lembro de ter ficado ansiosa por um aniversário, o de 17 anos. Desde os 13 achava que 17 seria a idade mais legal de se ter. Era quase 18 e tinha o charme da fronteira com a maioridade e estava a anos luz dos 15, a idade babaca das meninas-moças-debutantes que me provocavam asco. Sabe como é, eu era do rock. Ter 17 anos significava muita coisa: o último ano do colégio, a idade em que passaria no vestibular, iria embora de Macondo e começaria a ser feliz, o que de fato aconteceu.

Um ano antes eu tinha recebido o meu presente de 15 anos, uma viagem para a Europa, coisa que só reforçou a minha certeza que eu não pertencia àquele lugar e que a vida não se resumia a pessoas burras que nunca tinham lido um livro que não fosse por obrigação e cujo sonho da vida era ter um emprego que pagasse o suficiente para poder consumir e ostentar. Então, aos 17 e eu fui embora e só voltei pra fazer visita, mas nunca olhei pra trás em dúvida. Isso me deixa muito satisfeita.

Dez anos depois eu comecei a sonhar com outra idade, a idade que tenho hoje. Em parte deve ter sido o meu desejo de ser do contra, da irritação que me provocava o pânico antecipado de amigos de ambos os sexos diante a chegada dos 30. De modo que meu aniversário de 27 anos se tornou a minha última comemoração de 20 e poucos anos. Depois disso eu comecei a ter quase 30 e quanto mais alguém me perguntava se me assustava por ter quase 30, mas eu comecei a idealizar esse momento.

Comecei a pensar que nesses tempos de adolescência tardia, ter 30 anos representava ser, definitivamente, uma mulher feita. E eu comecei a pensar no que queria fazer aos 30. Estabeleci três metas simples, mas que pra mim eram muita coisa pelo fato de eu finalmente estar começando a saber o que queria da vida. Meus três desejos foram estar no doutorado (missão cumprida!), pesar 56 kg (falta 2kg pra chegar lá) e aprender a dirigir ( o que também está encaminhado). E a partir de agora tomar algumas decisões importantes sobre emprego, carreira acadêmica e família, o que inclui ser mãe. Então hoje eu acordei feliz, como se a vida tivesse acabado de começar.

Reconheço que aos 30 anos não temos mais o mesmo corpo que aos 20 e isso é um saco. Mas precisamos realmente disso? Temos, sim, a vida inteira pela frente porque foi só o primeiro terço dela que se passou (no meu caso, menos, porque eu pretendo viver 111 anos, lúcida e ranzinza; quem viver, verá). Quase tudo na vida é questão de escolha e as pessoas podem se apegar às referências como uma música do Fábio Jr. sobre ter 20 e poucos anos e o esforço inútil de tentar parar o tempo. Da minha parte, prefiro a literatura.

A mulher de 30 anos de Balzac é muito mais interessante que era aos 20, pois se conhece melhor, é mais centrada e mais autêntica. Não é mais ingênua e quer ser feliz. É natural, sábia e serena. Trinta anos é a idade em que Zaratustra subiu para as montanhas para passar uma década se nutrindo de sua sabedoria e sua solidão. É a casa dos 30 que Veríssimo descreve como palco de uma verdadeira festa. E é essa idade que a menina de “De repente, 30” deseja ter: 30 anos, a idade do sucesso.

Cá estou eu.

3 comentários:

Rita Loiola disse...

Bienvenue!

Unknown disse...

O titulo deste post é meu!

Pois foi assim que anunciei minha intenção de celebrar meu aniversario na noite dos meus 30 anos ha algumas semanas.

Mas na verdada nem eu nem você somos muito originais; um livro muito bom do Paulo Francis carrega esse titulo.

Em seguida eu descobri que um filme do Louis Malle foi traduzido no Brasil com esse mesmo nome...

FM disse...

Pois é, Rodrigo, o título é manjado mesmo. Eu o vi uma vez num artigo da Folha de São Paulo sobre os 30 anos do golpe militar do Chile também. Mas preferi esse que o mais manjado ainda "De repente, 30", ainda que o filme seja divertido.