Tenho blog há anos. Uso MSN e e-mail diariamente. Sinto falta do meu computador quando viajo. Gosto de baixar séries, filmes e músicas.Mas daí a achar que a Internet e as novas tecnologias são a salvação da lavoura é demais pra minha cabeça. Deixei o jornalismo pra me dedicar à pesquisa, mas ao invés de fazer como as pessoas espertas fazem (largar o jornalismo e estudar outra coisa) eu fui justamente estudar o que queria deixar pra trás. O resultado é que as babaquices relacionadas à comunicação me perseguem.
Comecei a ouvir falar de Internet em 95. Na época eu morava em Macapá, um lugar que não tem banda larga até hoje, então durante muito tempo isso não me dizia respeito. Três anos depois fui fazer faculdade de Comunicação Social em Belém e comecei a ter contato com a coisa. Gostei. Era bom trocar e-mails, me comunicar com quem estava longe, baixar músicas, pesquisar sobre os assuntos que me interessavam. Mas eu nunca, nunca mesmo pirei na idéia que estampava capas de revistas semanais quando eu fiz vestibular: a ilusão de que a Internet era a democratização da informação, que todo o conhecimento do mundo estava ao alcance de todos, blábláblá.
Mas teve gente que acreditou nisso. Então as pessoas acham que só porque os pobres entram no cyber pra usar Orkut e MSN estamos vivendo a era da democracia da informação, inclusão digital e que agora temos muitas fontes de informação porque os jornalistas têm blogs. Rá! Agora tem o tal Twitter e mais uma vez as revistas comerciais e os acadêmicos ingênuos anunciam como a nova revolução da informação. Socorro!
Eu acho que há, claro, muita coisa boa na Internet, mas acho desnecessário dizer isso porque já há muita gente incensando a rede. O problema é que os jornalistas empolgados e os acadêmicos tolinhos ainda não entenderam é que a simples existência de uma nova ferramenta de comunicação não muda o modo e adquirir informação nem cria uma geração mais intelectualizada.
Porque quem não teve uma formação sólida (e eu não me refiro apenas à educação formal, mas a uma educação política) não vai entrar na Internet pra ler sobre o cinema iraniano, visitar sites de mídia independente do Iraque ou ter acesso a obra de artistas do interior da Malásia. Quem era tapado antes da Internet vai continuar depois dela, só que com perfil no Orkut, repassando corrente por e-mail e se sentindo politizado porque vai com a maré de digitar @forasarney no Twitter.
No começo do século passado Walter Benjamin tinha horror à reprodutibilidade técnica da arte (basicamente porque tudo se banalizava) e ao cinema, por causa da catarse coletiva que este criava e à perda da experiência e da capacidade de narrar. E olha que ele não conheceu a tevê! Eu tenho horror a essa idéia de democratização da informação, porque a rarefação dos sujeitos que falam continua aí e tenho horror da falta de percepção de que estamos sendo condicionados para pensar em 140 caracteres (pra quê desenvolver raciocínios mais complexos, né?) e ainda tem gente que acha isso bacana.