sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Trabalho, trabalho novo

Não. Se dependesse de mim, jamais teria um emprego novamente. Não me importo em ter uma carreira bem sucedida ou ser produtiva. Às vezes penso nisso apenas porque, sendo bolsista, ganho muito pouco, mas sei que isso se deve à matemática do mercado. Você vende seu tempo livre em troca de mais dinheiro. Eu vendo uma pequena parcela do meu tempo. Sim, pesquisa é trabalho, mas não se compara a um trabalho de escritório.

Meus amigos que trabalham 14 horas por dia têm muito mais dinheiro que eu e viajam para a Europa nas férias, enquanto eu tenho que juntar as moedas para ir pra Caxambu, num congresso, uma vez por ano. Porém, eu posso me dar ao luxo de ir ao cinema quarta-feira à tarde ou tomar sol numa quinta de manhã. O pouco dinheiro que ganho me proporciona essa tranqüilidade e estou muito feliz assim. O que eu queria mesmo era ser bolsista para sempre. Mas uma hora isso acaba. No meu caso, eu tenho mais quatro meses de vida boa. E ou dizer: estou apavorada.

Decidi ser jornalista porque trabalharia escrevendo. Desde os 12 anos eu ouço que sou boa nisso, então a escolha mais lógica seria trabalhar com algo que utilizasse essa habilidade. Meus colegas de academia elogiam meu texto acadêmico acrescentando que é evidente que eu tive uma “formação jornalística”. Eu me sinto lisonjeada e acho engraçado, porque a faculdade de comunicação me deu amigos, capacidade de jogar bilhar e um diploma. Mas ao mesmo tempo isso me entristece.

Seja no jornalismo, seja na academia, eu uso a minha habilidade pra outro fim que não é ela mesma e isso faz com que eu me sinta desperdiçando-o. Porque hoje eu tenho bastante consciência de que posso vir a ser uma jornalista ou uma intelectual competente, mas não está no meu sangue. O que realmente me move nessas atividades é que, depois de toda a agitação das redações ou dos quilos de livros que eu preciso ler para elaborar minha dissertação, haverá uma hora em que eu me sentarei diante do computador e meus dedos deslizarão pelo teclado e eu verei o texto se compor na tela. Nesse momento eu sinto o verdadeiro prazer do trabalho. É a hora que minhas inseguranças ficam de lado. Não penso se meu lead está bom, se eu entendi direito o conceito do autor. Tudo que consigo pensar enquanto escrevo é “puxa, eu sei fazer isso!”.

É aí que chegamos na eterna encruzilhada dessa minha vida de retinas tão fatigadas: se eu preciso escrever para viver, como viver de escrever? Há um tempo atrás eu saí cuspindo no jornalismo, dizendo que não queria saber mais disso, que meu negócio era a carreira acadêmica. Bem, todos que me conhecem sabem que de vez em quando eu fico obcecada com alguma coisa. Eu adoro fazer mestrado, quero continuar estudando, do mesmo jeito que um dia fui apaixonada pela reportagem. O problema não é o jornalismo, o problema não é a academia. O problema sou eu, que só fico plenamente satisfeita quando consigo ficar imersa no meu próprio caos, porque é isso que alimenta a criação.

Não, eu não consigo “tirar uma horinha do dia” pra escrever. Isso não é academia, não funciona assim. É uma avalanche de pensamentos, parágrafos que surgem inteiros na cabeça e uma sensação de que se não escrever enlouquecerei. No fundo acho que meu apreço pela academia se deve ao fato de não me exigirem tarefas imediatas. Lá as pessoas entendem que as idéias precisam de tempo, precisam decantar. Agora com o fim do mestrado se aproximando, não tenho outra alternativa a não ser procurar um emprego.

Nessa hora em que eu gostaria de ser uma mulherzinha bancada pelo marido e ficar em casa cozinhando, limpando, mimando meu gato, indo pro clube tomar sol. Porque uma hora a avalanche viria e nada me impediria de escrever. Uma vida sem relatórios ou deadlines. Infelizmente isso não é possível e eu estou procurando emprego. Provavelmente depois que conseguir sentirei algo como a música dos Smiths: heaven knows I’m miserable now. Eu preciso de uma solução, preciso dar um jeito de juntar um dinheiro, jogar na mega, assaltar um banco. Qualquer coisa que me proporcione tempo. Tempo e sossego pra escrever, porque sem isso, eu tenho a sensação de que uma parte em mim será sempre muito infeliz.

3 comentários:

Unknown disse...

vc está certa! Fazemos parte do mesmo time... o de VIVER. Enquanto doutores morrem com 22 mil na poupança porque finalmente tiveram coragem de levar a familia para paris, eu trabalho apenas em um turno, e sempre tenho tempo para sair com os amigos. Sim, quero me casar e comprar um ape. Não tenho dinheiro. Mas prefiro juntar do que me prostituir trabalhando a noite, por um dinheiro miserável, acabando com a minha pele e saude mental. Yes, we have much time. We have happiness and "un petit peu" de money. ^^ mas o melhor mesmo é termos humor. E boa retórica. E vergonha na cara. E alguém para nos acompanhar. Bate aqui. p//\\q "Nós é póbi mas é limpinho e feliz"

Unknown disse...

solução: encontrar um emprego em que vc se divirta e ainda ganhe dinheiro com isso ;)

Anônimo disse...

É verdade. Unir o útil ao agradável seria a solução. Alcançar essa meta é o desafio. O melhor de tudo é que ela é possível.