terça-feira, 19 de outubro de 2010

O show do Paul

Ou

"Como o minha vida foi salva pelo rock'n'roll"

Há uma música do Velvet Underground que eu nunca canso de citar, singelamente intitulada "Rock'n'roll". Fala sobre uma menina que ainda criança morava numa cidadezinha em que absolutamente nada acontecia. Até que um dia ela ligou o rádio em uma estação de uma metrópole e começou a secudir ao som daquela música incrível. A partir dali a sua vida havia sido salva pelo rock'n'roll. Mas o que aconteceu comigo não foi uma rádio bacana. O que salvou a minha vida foi a vitrola e a coleção de discos do meu pai.

Lembro exatamente do dia em que, aos 10 anos, reparei numa música que meu pai estava escutando e curiosa, fui perguntar o que era. Ele me mostrou a capa do disco. Era Help, dos Beatles. Daí em diante me apaixonei perdidamente. Devorei os discos do meu pai, me empolguei com o curso de inglês que havia começado recentemente porque eu queria cantar certinho, queria entender o que eles falavam.

Os anos passaram e vieram outras bandas e outros amores. Mas meu destino já estava selado. Aos 10 anos de idade minha vida estava salva por aquela música incrível. E se isso parece exagero, imagine o quanto das suas escolhas, amigos e amantes que fazem ou fizeram parte da sua vida não foram fundamentalmente influenciado pelo seu gosto musical. Se você que está lendo isso tem o rock'n'roll no coração entende perfeitamente. Se não tem, não tenho como explicar porque isso é algo que nós, roqueiros, sentimos.

Mas voltemos aos Beatles. Tenho uma mania irritante de tentar dividir o mundo ou categorizar as pessoas de acordo com seus gostos, principalmente musicais. E assim como o mundo se divide entre pessoas que preferem gato ou cachorro, dá pra saber muito sobre o cárater de uma pessoa a partir de que faze dos Beatles ela prefere ou sobre qual é seu Beatle preferido.

O meu pai era romântico, de certa forma ingênuo, coração de manteiga, impetuoso e alegre. O meu pai era Beatles iê-iê-iê e seu Beatle preferido era o Paul. Essa foi apenas uma das muitas de nossas divergências, pois o meu Beatle preferido era o John. Mas nós amávamos os Beatles, assim como amávamos um ao outro e esse era apenas uma das coisas que fazia parte da nossa amizade.

Há pelo menos uns 2 anos começaram rumores de um novo show do Paul em São Paulo. Meu pai já estava doente, mas combinamos de ir mesmo assim. Juntos, na área vip. Não deu tempo. Agora os ingressos estão à venda e eu não sei mais se quero ir.

Sim, é um beatle, há o valor histórico da coisa. E afetivo também, já que sem os Beatles, talvez minha vida fosse outra. Mas há aquela música que fala de pessoas que passam pela vida da gente, pessoas que ainda fazem parte do nosso convívio, outras que se perderam nessas bifurcações que os caminhos da nossa vida tomam. E as pessoas já morreram. É uma música bonita que fala de amor. Mas eu não sei que quero ouvir isso ao vivo. Eu não sei se quero estar lá sem ele.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Estava voltando do trabalho. Desci do ônibus, sinal aberto pros pedestres. Eu poderia ter atravessado direto, mas aí eu provavelmente estaria morta.

Parei para olhar se não vinha carro, mesmo estando na faixa, mesmo com o sinal vermelho pros carros. Eu só senti o vento quando o carro passou voando, sem o menor respeito pelo sinal vermelho, pela faixa de pedestres, por coisa alguma.

Eu xinguei o motorista e em seguida agradeci a Deus, ao meu anjo da guarda, ao meu pai, que tenho certeza que olha muito mais por mim que qualquer outro. Então chorei um pouco, de saudade e de medo. Porque a vida é frágil, porque a vida é curta.

sábado, 2 de outubro de 2010

Coisas que te fazem ganhar o dia

"Fhoutine,

adorei as duas matérias. Seu poder de síntese é fantástico! E olha que eu falo muito...rs O texto é leve, elegante, com a densidade e propriedade equilibradas. Coisa rara na imprensa atual... Obrigado pelo respeito que vc tem pelo pensamento de seus interlocutores".

Recebi essas palavras de um colega cientista político que entrevistei duas vezes para falar das eleições. Fiquei emocionada e torço pra que isso seja uma predição de sucesso nesse negócio. Há alguns anos eu havia deixado o jornalismo e isso sempre foi uma coisa que ficou mal resolvida pra mim. Agora estou de volta e descobri que gosto. Foi difícil, estou tendo que aprender tudo de novo, com uma sensação de estar 10 anos atrasada, mas ao mesmo tempo com uma empolgação de recém-formado. Uma foca de 30 anos.

Essa experiência tem me feito repensar muitas coisas sobre mim e sobre o que quero da vida. Não sei qual vai ser meu futuro nisso. Mas espero que dê certo dessa vez.