sábado, 24 de abril de 2010

Funciona assim

Já imaginou como seria bom se as pessoas viessem com manual? O que fazer pra que funcionem melhor, pra que não travem e o que fazer quando dão pequenos defeitos.
No meu manual viria escrito assim, logo no começo: cuidado, frágil. É, porque eu tento ser durona e consigo me segurar em situações difíceis. Mas o fato de você não se afogar enquanto está nadando no meio da merda não é vantagem. Você faz o que precisa para continuar vivo, mas o caos continua lá. Eu fico magoada facilmente e guardo. É um horror, eu sei. Antes eu gritava com as pessoas. Hoje fico quieta e sumo. Cuidado, frágil.

Eu acrescentaria uma etiqueta de produto inflamável. Para o bem e para o mal. Quer uma companhia animada, rock'n'roll all night and party everyday? Fale comigo. Quer conversar horas e horas, dar risada, tomar cerveja? I'm the woman for the job. Chorar no ombro? Manda. Mas do mesmo jeito que vou ao céu desço ao inferno e esse é o preço que tenho que pagar por viver nessa explosão constante. Minha energia simplesmente acaba e eu demoro mesmo pra voltar. É uma merda e não tem jeito, a única coisa que dá pra fazer é controle de danos.

Acho que a pior parte de ser assim é a dificuldade muito enxergar as coisas com clareza. Dificilmente vejo as coisas em tons suaves. A maior parte do tempo é tudo vibrante, maravilhoso ou terrível, poucos chances pra meio termo. E quando o meio termo vem eu me entedio. Então uma pequena contrariedade na hora parece um ódio mortal, algo triste me deixa deprimida por semanas e e desentendimentos normais de qualquer relacionamento parecem insolúveis. Sem falar na minha impaciência, intolerância e no ciúme que sinto de todos com todo mundo, incluindo meus amigos. Principalmente dos meus amigos.

Por isso que eu evito as pessoas. De uma lado eu não sei lidar com elas e de outro, acho que a maioria não está preparada para lidar com toda essa intensidade, essa coisa que parece uma força da natureza. Lembro que a primeira vez que surtei diante do meu marido (que na época era namorado), um amigo disse: "vamos ver se ele aguenta o tranco porque você não é para os fracos". Ele aguentou. Mas de vez em quando respira fundo e diz: você é difícil. E ele tem razão. Daí o último aviso que viria na minha bula: inadequada para principiantes. Mas tem que encare. Rá!

domingo, 18 de abril de 2010

Girl on wheels

Esse negócio de independência é esquisito e novo pra mim. Levei mais de dois anos de divã para aceitar o fato de que eu sou mimada, sim. E foi só depois disso que comecei a experimentar a tal da independência, em doses homeopáticas. Acho que posso me acostumar com isso.

Meu analista sempre insistiu que eu aprendesse a dirigir (isso já faz quase 4 anos!), como uma metáfora de tomar as rédeas da própria vida. Mas eu enrolava. Depois vi que isso também ajudava a entender o meu modo de levar a vida: prefiro que alguém guie por mim, mesmo que por vezes eu imaginasse como seria legal se eu estivesse por trás do volante.

Aí eu fiz uma promessa de ano novo. Na primeira semana de 2010 disse a um grupo de amigos muitos queridos: esse ano eu vou arranjar um emprego. E vou aprender a dirigir também. Aí chega abril e eu já cumpri praticamente todas as minhas promessas de ano novo. Falta 2 kg pra chegar no peso que quero. O resto já foi.

Ontem eu fui a uma festa sozinha. Não conhecia ninguém, fora o pessoal da banda. Não tinha carona, não tinha combinado de encontrar ninguém lá. Isso é muito novo, mas acho que consigo lidar com isso. Já estou acostumada a ficar sozinha. Falta aprender a ser feliz assim.

domingo, 4 de abril de 2010

Filmes do feriado

Guerra ao Terror - filme interessante, apesar de ser meio chatinho. Gostei da idéia da guerra ora como vício, ora como videogame. Lembrou clássica inversão da frase de Clausewitz feita por Foucault: a política é a guerra continuada por outros meios. Gostei.

Amor sem Escalas - O título em português é péssimo e eu confesso que não me entusiasma ver um filme estrelado pelo George Clooney (sim, ele continua um gato, mas é muito canastrão). Contudo, me surpreendeu. Eu gosto desses filmes de mundo coorporativo, da crise do capitalismo vista de dentro, das consequências humanas disso, da alienação do trabalho de um sujeito que não liga a mínimo de estar a serviço do lado negro da força. Lembrei bastante de Richard Sennett. Bom filme, recomendo.

A Teta Assustada - Nos 10 primeiros minutos parece que se trata de um bom filme, mas depois é um tédio só que se arrasta até a última cena (que é bonitinha, mas aí eu já estava de bode do filme quando ela veio). Aparentemente é um filme sobre como lidar com o trauma, uma mulher que só consegue se expressar pela música, tem umas coisas interessantes como a indústria de casamentos das periferias (aliás, é o que se salva no filme). Mas o que se vê mesmo é um dramalhão mostrando o quanto os pobres são coitadinhos-porém-alegres-e-fortes e como a protagonista é sofrida. Tenha santa paciência.

A Fita Branca - De vez em quando um filme é mesmo tudo aquilo que estão falando. Pois é exatamente isso. Altamente recomendado. Pra mim foi inevitável não pensar em "Os Incompreendidos" do Truffaut (que pra mim é o filme mais lindo do mundo). Só que de um jeito evil. Ou melhor, de um jeito Haneke.

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Agora eu vou "pranchar" meu cabelo porque amanhã é o meu primeiro dia no meu novo emprego.