domingo, 28 de setembro de 2008

That's how people grow old

Minha geladeira e minha dispensa estão praticamente vazias há uma semana e eu ainda não criei vergonha na cara para ir ao supermercado porque finalmente consegui engrenar no texto da minha qualificação. Tem padarias e uma quitanda aqui perto de casa, dá pra ir me virando até o momento mais extremo, que é quando acaba o papel higiênico.

Comentei isso com uma amiga. Ela me disse que quando a gente tem que fazer supermercado é que vê que crescer é uma merda. Estranho isso. Outro dia eu falei pra outra amiga que acho ridículo essas coisas que fazem em casamentos de distribuir óculos de plástico colorido, boás e perucas. Ela (que é solteira, diga-se) me disse que vai ver que as pessoas fazem isso porque o casamento é uma coisa muito séria e é um jeito de ser criança pela última vez. É então que eu penso no mau que o romantismo continua fazendo pras pessoas.

Eu não sei quanto a você, leitor, mas eu não tenho a menor saudade da aurora da minha vida, da minha infância querida e dos anos que não voltam mais. Muito menos da adolescência. Se tem uma coisa que eu gosto é de ser adulta. Demorei mais de 25 anos e não vejo o menor sentido nesse saudosismo boboca.

Eu me casei e não fiquei careta, pelo menos não mais do que já era antes disso. I'm pretty much the same person, como diria o Belle and Sebastian. Eu ainda saio com meus amigos e danço até as 5h da manhã como se não houvesse ninguém olhando e me apaixono por pessoas, coisas e idéias - principalmente pelas idéias, a gente sempre se apaixona por idéias, de pessoas, de bichos e de coisas. Hoje eu assisti a um filme incrível, Estamira, e ele me arrebatou totalmente, tive que ligar pra uma amiga e falar de como me afetou. A vida adulta não mitiga a paixão, nada mitiga a paixão, só você mesmo. E nem preciso dizer que se você reduz paixão a sentimentos românticos-carnais somente, bem, você não entendeu nada e isso me faz sentir um pouco de pena.

A mulher que dá título a esse documentário é uma criatura fascinante. É claro que cada um vai enxergar a situação com os óculos que lhe convém, inclusive eu faço isso. Tem gente que olha e só vê miséria e sente peninha. Esses, coitados, não entenderam nada, não conseguem ver nada além do que está posto. Tem gente que vai ter olhares psicanalíticos e vai a todo custo classificar Estamira, vão querer medicar, tratar, normalizar e dar remedinhos. Mas Estamira está além disso tudo, ela não é como nós. Estamira é pura intensidade, é o amor fati e é também um corpo sem órgãos que chegou ao seu limite pra acabar com o juízo de Deus mesmo. Estamira fala que a morte é dona de tudo. Brilhante. Estamira não tem medo da vida. Por isso quando alguém me fala em saudosismo da infância eu tenho um ataque, porque se você chama isso de vida, baby, eu acho que há algo muito errado com você.

Até me passa pela cabeça que de repente essas pessoas tiveram infâncias e adolescências felizes, sei lá, tem de tudo nesse mundo. Não que eu tenha sido miserable a vida inteira, mas eu jamais concordarei com aquela música que fala da "pureza da resposta das crianças". Primeiro porque as crianças em geral são umas pestes, segundo porque a vida não é bonita, é bonita e é bonita. A vida é o que fazemos dela e o tempo é curto demais pra esses saudosismos bestas. É, fazer supermercado é uma merda. Sim, o casamento muitas vezes é um saco. Mas não diga que crescer é ruim, isso me ofende. I don't wanna grow up só fica bem na música dos Ramones.

3 comentários:

Anônimo disse...

O melhor de amadurecer é ver que a gente cresce e pode se divertir (feito criança) mesmo assim. =]

FM disse...

Aí é que tá... Não sei porque se divertir é coisa de criança. Por que se divertir feito criança e não se divertir simplesmente?

Ah, e eu odeio essa expressão "amadurecer". Quem amadurece é fruta e em seguida, apodrece. Não, a gente cresce e depois fica velho. :P

Anônimo disse...

Mas... tu não escuta nem um flash-backzinho,héin? rsrs