Outro dia eu estava na academia quando ouvi o instrutor comentar, horrizado, a respeito da conversa das menininhas de 12 anos que frequentam o local. Segundo ele, as meninas só falavam de roupas, cabelo, da casa que o pai tinha na praia e em como elas iriam arrasar. Fiquei pensando em como eu era aos 12 anos: super interessada em política por causa do Impeachment, melhor aluna em Português e História, o ano em que fiz o meu primeiro jornalzinho no colégio. Eu obviamente não arrasava. Ao invés disso ficava escrevendo versinhos pra meninos da escola que nunca me olharam na cara.
Foi nessa época que comecei a pensar na profissão que tenho hoje, o que me faz pensar que se não fosse o ano de 1992, talvez hoje eu fosse uma advogada, como queria meu pai, e a essa hora estaria usando lindas bolsas e sapatos caros ao invés de ganhar pouco e sacolejar em todo o sistema de transporte público de São Paulo durante 2h pra ir trabalhar nem teria uma dívida gigantesca com a faculdade em que faço doutorado.
Corta pra 2004, o ano que não terminou. O ano em que meu pai infartou, que fiquei seriamente deprimida e que não sabia se queria continuar morando em São Paulo ou mesmo sendo jornalista. Pedi demissão do jornal que trabalhava pra ir pra Belém colocar a cabeça no lugar e entre uma coisa e outra, me apaixonei pelo homem que hoje é meu marido. De lá pra cá "abandonei" o jornalismo, fiz mestrado, análise, me casei, meu pai ficou doente.
Seis anos, finalmente o ano de 2004 começa a ter um desfecho. Meu pai se foi, mas consegui lidar com isso sem enlouquecer. A questão do jornalismo, que nunca ficou muito bem resolvida na minha cabeça agora está mais clara: não gosto de assessoria e espero não ter que fazer isso de novo. Mas, ironia do destino, redescobri que gosto de redação justamente voltando ao jornal de onde pedi demissão em 2004. O mais espantoso é que sento exatamente no mesmo lugar que antes.
Desde que vim pra São Paulo minha vida deu muitas voltas. Eu cheguei aqui e entrei no curso de treinamento de um dos maiores jornais do país, achei que seria uma super jornalista e pouco tempo depois não queria mais saber disso pra me dedicar à vida acadêmica. Mas eu nunca soube com certeza se esta era uma decisão consciente ou se era porque eu não tinha conseguido ser bem sucedida nesse meio por causa do meu imenso desequilíbrio emocional.
Como eu tenho muita imaginação, sempre pensava que se "Eu aos 24" encontrasse "Comigo aos 30" provavelmente me acusaria de ter arruinado a sua vida e diria "Olha pra você nessa vida careta!". Levou algum tempo pra perceber que era "Eu aos 30" que deveria perdoar a menina de 24 anos que estava perdida de mais pra se dar conta de tudo que estava acontecendo naqueles dias. Como nessas coisas que se vêem nos filmes, tive uma rara oportunidade de recomeço que espero ter estrutura o suficiente pra aproveitar.
E quando penso em tudo isso, em mim fazendo doutorado, cobrindo política, casada, com meus gatos, me dando bem com a minha família de sangue e minha família adquirida, cheia de amigos, sendo feliz, só me ocorre que aquela menina de 12 anos ficaria bem satisfeita se me visse hoje.
sexta-feira, 9 de julho de 2010
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3 comentários:
Marie, não nos falamos desde que teu pai te deixou. Muita gente dizendo quase a mesma coisa ao mesmo tempo não deve ser de grande utilidade nessas horas. Mas venho agora deixar um beijo sincero. Te cuida.
Não acreditava que você voltaria para uma redação novamente, Dra. Marie. Mas a vida, dizem, é feita de ciclos. Sabe-se lá. Eu as vezes acho que é assim mesmo. As coisas começam, terminam e, de repente, começam de novo.
Assessoria sucks!
Jornalista trabalha em jornal, ora bolas! Assessor trabalha em assessoria.
Eu, sou repórter.
ah, que bonito... é bonito quando as crises fazem sentido, né?
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