Só me lembro de ter ficado ansiosa por um aniversário, o de 17 anos. Desde os 13 achava que 17 seria a idade mais legal de se ter. Era quase 18 e tinha o charme da fronteira com a maioridade e estava a anos luz dos 15, a idade babaca das meninas-moças-debutantes que me provocavam asco. Sabe como é, eu era do rock. Ter 17 anos significava muita coisa: o último ano do colégio, a idade em que passaria no vestibular, iria embora de Macondo e começaria a ser feliz, o que de fato aconteceu.
Um ano antes eu tinha recebido o meu presente de 15 anos, uma viagem para a Europa, coisa que só reforçou a minha certeza que eu não pertencia àquele lugar e que a vida não se resumia a pessoas burras que nunca tinham lido um livro que não fosse por obrigação e cujo sonho da vida era ter um emprego que pagasse o suficiente para poder consumir e ostentar. Então, aos 17 e eu fui embora e só voltei pra fazer visita, mas nunca olhei pra trás em dúvida. Isso me deixa muito satisfeita.
Dez anos depois eu comecei a sonhar com outra idade, a idade que tenho hoje. Em parte deve ter sido o meu desejo de ser do contra, da irritação que me provocava o pânico antecipado de amigos de ambos os sexos diante a chegada dos 30. De modo que meu aniversário de 27 anos se tornou a minha última comemoração de 20 e poucos anos. Depois disso eu comecei a ter quase 30 e quanto mais alguém me perguntava se me assustava por ter quase 30, mas eu comecei a idealizar esse momento.
Comecei a pensar que nesses tempos de adolescência tardia, ter 30 anos representava ser, definitivamente, uma mulher feita. E eu comecei a pensar no que queria fazer aos 30. Estabeleci três metas simples, mas que pra mim eram muita coisa pelo fato de eu finalmente estar começando a saber o que queria da vida. Meus três desejos foram estar no doutorado (missão cumprida!), pesar 56 kg (falta 2kg pra chegar lá) e aprender a dirigir ( o que também está encaminhado). E a partir de agora tomar algumas decisões importantes sobre emprego, carreira acadêmica e família, o que inclui ser mãe. Então hoje eu acordei feliz, como se a vida tivesse acabado de começar.
Reconheço que aos 30 anos não temos mais o mesmo corpo que aos 20 e isso é um saco. Mas precisamos realmente disso? Temos, sim, a vida inteira pela frente porque foi só o primeiro terço dela que se passou (no meu caso, menos, porque eu pretendo viver 111 anos, lúcida e ranzinza; quem viver, verá). Quase tudo na vida é questão de escolha e as pessoas podem se apegar às referências como uma música do Fábio Jr. sobre ter 20 e poucos anos e o esforço inútil de tentar parar o tempo. Da minha parte, prefiro a literatura.
A mulher de 30 anos de Balzac é muito mais interessante que era aos 20, pois se conhece melhor, é mais centrada e mais autêntica. Não é mais ingênua e quer ser feliz. É natural, sábia e serena. Trinta anos é a idade em que Zaratustra subiu para as montanhas para passar uma década se nutrindo de sua sabedoria e sua solidão. É a casa dos 30 que Veríssimo descreve como palco de uma verdadeira festa. E é essa idade que a menina de “De repente, 30” deseja ter: 30 anos, a idade do sucesso.
Cá estou eu.
quinta-feira, 4 de março de 2010
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3 comentários:
Bienvenue!
O titulo deste post é meu!
Pois foi assim que anunciei minha intenção de celebrar meu aniversario na noite dos meus 30 anos ha algumas semanas.
Mas na verdada nem eu nem você somos muito originais; um livro muito bom do Paulo Francis carrega esse titulo.
Em seguida eu descobri que um filme do Louis Malle foi traduzido no Brasil com esse mesmo nome...
Pois é, Rodrigo, o título é manjado mesmo. Eu o vi uma vez num artigo da Folha de São Paulo sobre os 30 anos do golpe militar do Chile também. Mas preferi esse que o mais manjado ainda "De repente, 30", ainda que o filme seja divertido.
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