Dizem que a sorte não bate muitas vezes em nossa porta. Na minha, a sorte bateu uma vez e eu a mandei embora. O ano era 2003 e a sorte se chamava Curso Estado.
Eu havia acabado de chegar em São Paulo quando um amigo de Belém me disse que em breve estaria aqui para fazer a tal prova. Perguntei se era grátis. Era. Então eu fiz a prova e passei, para o espanto geral e de mim mesma. Aos 23 anos, apenas um ano de formada e experiência apenas no jornal de minha cidade me vi dentro de um dos maiores jornais do país.
Durante o curso, eu e meus colegas ouvimos várias vezes que naquela salinha se encontrava a futura elite do jornalismo, a "nata" dos jovens jornalistas. Não sei quanto aos meus colegas, mas eu me sentia como se tivesse entrado em um clube exclusivos dos eleitos e meu futuro glorioso tantas vezes sonhado por mim e por meu pai era certo. Três meses depois o curso terminou e eu voltei pra casa ainda cheia de esperanças. Uma hora as coisas iam dar certo.
Mas isso nunca aconteceu. Há uma série de motivos para isso, mas vou listar apenas dois: minha falta de maturidade/equilíbrio na ocasião e o fato de que eu nunca pensei de verdade no jornalismo projeto de vida.
Aos 23 anos eu tinha uma cabecinha de 16. Era ingênua, briguenta, irresponsável. Falava demais, bebia demais, me preocupava demais com namorados, de modo que nunca encarei o curso como uma oportunidade profissional. Pra mim aquele era o reconhecimento do quanto eu era boa . Devido ao transtorno bipolar minha autoestima sempre oscilou entre dois limites, o abismo e a estratosfera. Havia alguns momentos em que eu realmente me dedicava e amava aquilo tudo. E outros em que simplesmente tudo me enfadava e eu tinha vontade apenas de chorar e sair correndo dali. Em suma, eu não tive estrutura pra lidar com aquilo.
Apesar disso, não creio que o curso tenha sido determinante no meu fracasso na profissão. É aqui que entra o segundo motivo, o fato de nunca ter levado a sério o jornalismo como profissão. Eu sempre vi o jornalismo como algo "de passsagem", um trabalho que eu deveria exercer até que os meus delírios megalomaníacos se realizassem e eu me tornasse a maior escritora do Brasil, ganhasse o Nobel e mandasse o mundo se foder (porque afinal de contas eu já teria 1 milhão de dólares mesmo). Não vou me estender sobre a minha conturbada e falecida relação com a literatura, por hora basta dizer que ao invés de escrever os livros antes, eu comecei pela parte de mandar o mundo se foder. Eu era uma repórter mediana e nunca me esforcei pra ser mais do que isso.
Hoje quando penso nisso tudo não sinto remorsos. Nem penso que se pudesso voltar no tempo teria feito diferente. Porque foi no meio de toda essa confusão que eu consegui me encontrar e sr feliz no que estou fazendo, sem grandes ilusões, mas tampouco com amargura. Desde a minha adolescência eu flertava com a filosofia e com reflexões que vão além da "vida prática". No fundo, eu tinha um certo desprezo e não tinha muito pudor em expressá-lo, pelo pragmatismo e pela superficialidade do jornalismo. Mas foi só quando eu não dei certo nessa profissão que pude me dedicar ao que realmente me dá prazer, a academia.
É claro que me custaram muitas horas de divã e muito Nietzsche pra me dar conta de tudo isso. Hoje engatinho em uma nova profissão de modo completamente diferente, porque tenho consciência das minhas limitações e das minhas habilidades, não tenho mais como propósito conquistar o mundo e por isso vou curtindo cada passo do caminho. Não que eu nunca tenha sido feliz no jornalismo, porque fui. Mas foi em outra vida, quando eu era outra pessoa. Agora existe uma outra perspectiva, há outros planos e ao mesmo tempo me parece óbvio que era isso que eu estive procurando a vida inteira.
domingo, 1 de novembro de 2009
Assinar:
Postar comentários (Atom)
7 comentários:
Volta logo de BH! :p
Abraços rotos para ti
Vc era uma ótima repórter, quando se dedicava... bjs, saudades sempre.
Fufu, você está enganada, esse negócio de vida prática tem tudo a ver com sua relação com a academia. Você está fazendo academia 3 vezes por semana, no mínimo, faz esteira, puxa ferro, está ficando bem fortinha.
o melhor dessa nova profissão é poder fazer um monte de coisa enquanto manda o mundo se foder... eu sou mestra nisso.... que bom que vc veio pro outro mundo, aqui nos encontramos!!!! bjo
vc esteve preparando a vida inteira pra me conhecer nas sociais :P
Incrível como todo jovem sonha em conquistar o mundo. Passei dessa fase recentemente. Ainda estou me acostumando e o que é melhor: estou gostando.
Eu sempre apostei em você, desde o dia em que soube que você passou no Estadão. Mas confesso que nunca achei que seguirias pelo mundo das redações. Teu espírito era muito maior que as pautas diárias que oprimem repórteres e fotógrafos.
Hoje estás aí, vagamundando o mundo com o teu trabalho. Com ceretza será muito mais perene que a manchete de hoje e que amnhã nimguém, lembra.
Vida longa, Marie e faça sua história.
Postar um comentário