Após passar um ano estudando na Espanha, um jovem aspirante a yuppie tem uma revelação a caminho do escritório onde lhe aguardava uma carreira promissora. Diante de seus olhos se passaram cenas do último ano de sua vida, cenas de amizade e de amor. Lembrou de si mesmo quando criança dizendo “quando crescer serei escritor”. Ele devia explicações àquele menino e por isso saiu correndo.
A cena é do filme Albergue Espanhol, mas poderia fazer parte da minha vida, só que sem o futuro promissor pra sem sair correndo e ter passado um ano na Espanha pra saber que eu queria fazer da vida. Seria uma cena da minha vida num universo paralelo, se eu não tivesse sabotado as minhas boas oportunidades profissionais porque sabia que não teria coragem de sair correndo se tudo desse certo. Falta-me coragem mesmo agora, quando o rumo das coisas está meio nebuloso e quando eu não tenho mais todo o futuro pela frente.
Uma vez discuti isso com um amigo que fez escolhas completamente diferentes das minhas. Ele é guitarrista e nunca tentou ser outra coisa senão músico. Ele achava que deveria ter feito como eu, porque viver de música não era fácil. Mas eu tinha inveja dele, porque aceitei a imposição da minha família de ter uma profissão e lidar com a literatura como hobby, como passatempo pras horas vagas. Eu achava que um dia magicamente as coisas dariam certo e com o tempo eu poderia viver disso. A conclusão é que nós sempre temos que arcar com os custos de nossas escolhas. Mas será que as escolhas precisam ser definitivas?
Cada vez tem sido mais difícil escrever. Eu não sou uma pessoa organizada e não acredito em técnica. Não é assim que funciona. Não dá pra tirar uma horinha por dia pra escrever um livro. Eu preciso de tempo e de energia pra fazer isso. Preciso de ócio. Preciso observar de longe para depois mergulhar dentro de mim mesma por dias a fio. Só então as idéias começam a brotar e os textos rendem. Ou é isso ou esperar por arroubos de inspiração que costumam me acometer em momentos de depressão e desespero, mas que depois da análise se tornaram cada vez mais raros.
Gosto de fazer o que faço hoje. Muito. Assim como eu adorava ser repórter e no entanto, sempre há aquele sensação de não-pertencimento, uma sensação de que eu poderia até ser boa, mas eu nunca seria ótima porque não era aquilo que estava no meu sangue. Eu sentia isso quando era jornalista e sinto de vez em quando em relação à vida acadêmica. E nas duas situações eu sinto que o que me diferencia, o que me dá pra prazer, o que me situa é o fato de escrever bem.
Algumas vezes quando alguém elogia meu texto eu tenho vontade de morrer, porque sinto que a vida está passando e eu ainda estou desperdiçando minha habilidade, esperando pelo dia em que as coisas ocorrerão de maneira mágica. Só que isso não vai acontecer a não ser que eu tome uma decisão e esteja disposta a arcar com as conseqüências. Eu não sou uma pessoa corajosa. Mas devo explicações à menina ia ser escritora quando crescesse.
sexta-feira, 1 de maio de 2009
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Um comentário:
vc já é uma escritora ora
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